quinta-feira, abril 30, 2015

Os suspeitos do costume


Eu sou daqueles que acha que as greves são uma arma de protesto válida. Nem poderia pensar de outra forma, tendo em conta o ambiente em que cresci.
Acompanho com alguma atencão o caso da TAP porque, com alguma pena, assisto ao desaparecimento da maior empresa portuguesa. Não tenhamos dúvidas...não é a Autoeuropa, a Portugal Telecom ou qualquer outra que transportam a nossa bandeira. A TAP é, ou foi, o orgulho nacional fora de portas durante mais de 60 anos.
Tendo perceber esta greve dos pilotos. Feita contra tudo e contra todos, inclusivamente contra colegas da TAP e outros pilotos que a tentaram parar. Não faz sentido, não faz mesmo.
A TAP, cuja privatizacão não faz sentido (e sim um saneamento) não tem qualquer valor comercial. A sua dívida é muito maior do que os activos, ou seja, será oferecida a qualquer investidor desconhecido que apareca na Portela.
É um facto e um dado adquirido que a administracão e o governo (enquanto accionista) são os principais responsáveis na dívida da TAP, resultante da compra daquele elefante branco das oficinais de manutencão e seus 2000 funcionários no Brasil. Isto é publico. Tal como o fechar de olhos do governo.
Nada há a apontar aos pilotos neste erro de gestão.
Contudo, já se pode dizer qualquer coisa sobre as suas constantes exigências e chantagens sobre uma empresa que, ano após ano, vive com prejuízo.
Os pilotos são extremamente bem pagos e, como qualquer funcionário da TAP, têm daquelas regalias que são dificeis de engolir ao comum do mortais.
Já trabalhei na Volvo, Jaguar, Ford, Aston Martin, Saab, Land Rover, Ericsson e VW. Nunca me deram borlas nos produtos que ajudei a desenvolver. Nem a mim, nem fosse a quem fosse da minha família. Porque razão viaja metade da família de borla? Porque razão os benefícios se prolongam ad aternum para lá do salário?
No caso da TAP, os pilotos não são apenas bem pagos no panorama nacional, são bem pagos quando comparados com os gigantes da aviacão em países com um custo de vida muito superior ao português.
Contudo, desta vez, a exigência ultrapassa todos os limites do aceitável. Uma minoria de funcionários da empresa quer 10 ou 20% da própria empresa. Os pilotos, para além da sua funcão e regalias, querem também ser os novos patrões. 150 ou 300 que exigem mandar nos restantes milhares. Uma espécie de Ruanda na Portela.
E porque arriscam tudo? Porque se a TAP fechar eles não demorarão 1 semana a encontrar vaga na Emirates ou numa dessas companhias que cresce diariamente. Os outros que se orientem...é a ganância em vez da defesa de uma classe. É o sindicalismo e a greve a serem usados de pernas para o ar.
Pior do que o prejuízo acumulado nestes 10 dias, é a falta de confianca que se instala. Nos dias de hoje só se compra um bilhete na TAP em último caso...todos percebem que compram uma rifa. Se for "mês greve" ficam no chão, se for mês "com os bracos bem abertos" voam.
Se estivesse no lugar de Pedro Passos Coelho ou de Pires de Lima, não permitiria a privatizacão da TAP, ordenava a venda das oficinas no Brasil e exigia o saneamento da empresa, comecando nos pornográficos salários da administracão e acabando nas inaceitáveis regalias do pessoal de bordo.
Depois comprava um A340 novo, daqueles com 4 motores (para o caso de 2 falharem) e fazia 2 vôos semanais, às sextas e segundas, entre Gotemburgo e Vila do Porto.
Mas ninguém me ouve...raisparta.


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