Desde que o avião da GermanWings ficou pelos Alpes que não tenho conseguido pensar noutra coisa.
Para mim, que não concebo uma vida sem viajar e que tenho pavor de entrar num avião, são os alicerces da lógica que me permitem marcar um bilhete atrás do outro.
Este foi um ano particularmente difícil para a aviacão civil. Bem sei que nenhuma vida tem mais valor do que outra mas, não sendo hipócrita, confesso que não me espanto por aí além se um tupolev cai na Sibéria, um airbus no sudoeste asiático ou um boeing se desmancha a aterrar no Estados Unidos. Não preciso de ver estudos ou de fazer uma simples estatística, basta falar com quem sabe, neste caso, técnicos de seguranca, que me explicaram que as regras são mais apertadas na UE. E mesmo dentro desse espaco temos as ovelhas negras, companhias a evitar. Air France, Iberia e maior parte das companhias do leste europeu. Não quero ofender ninguém, mas os números não enganam.
E dentro desta lógica, ou vá, cinto de seguranca virtual, vou escolhendo os meus destinos, as companhias e não deixando que o medo se sobreponha à vontade de conhecer o mundo.
Calamidades como esta que aconteceu nos Alpes, desafiam toda a lógica. O avião estava em bom estado, apesar da idade, as condicões climatéricas em rota também mas, aparentemente, o co-piloto estava farto de viver. Um alemão, numa empresa subsidiária da maior companhia de aviacão do mundo, a Lufthansa. Para mim isto é o fim da lógica, é o assumir que não há forma de garantir o mínimo dos mínimos. E não consigo parar de pensar no terror de quem conscientemente se apercebe de tudo, mesmo que nos momentos finais.
Depois vem a segunda parte deste drama, que é o massacre de notícias, pelo menos nos jornais portugueses que vou acompanhando. Instala-se um clima de terror insuportável.
Toda a notícia que não o era, passa a ser. Um airbus que pede para aterrar de emergência em São Petersburgo, um Vuelling que não sei quê, um Turkish Airlines que é desviado para Marrocos, um Air Canada que aterra feito num 8 numa pista cheia de neve. Um piloto da British Airways que há 5 anos estava tão triste que pensou estatelar o boeing na ligacão Londres - Lagos. O alemão da German Wings que escondeu a baixa, que via mal e que assustava muito a ex-namorada. E sim, como são importantes os testemunhos das ex-namoradas para o mundo, gente que normalmente fala sempre de forma tão equilibrada.
Não há descanso. De repente todos os aviões, pilotos ou companhias estão com problemas. E diariamente lá continuam cerca de 1 milhão de pessoas no ar. Notem bem: 1 milhão. É como se a populacão inteira da Estónia entrasse num avião.
Não poderíamos assistir em silêncio à tragédia, respeitar os familiares das vítimas e esperar pelo resultado da investigacão? Não há uma lei qualquer que proíba este sensacionalismo com a morte?
Há 4 mistérios graves para resolver nos últimos acidentes aéreos. Este da GermanWings e da LAM (Mocambique), alegadamente causados por pilotos deprimidos, e os dois da Malaysia Airlines. Um boeing enorme não pode desaparecer no oceano e, exige-se a verdade, sobre se foram ou não os ucranianos que abateram propositadamente o avião, tentando chamar mais gente para o conflito com a Rússia.
Tudo o resto são pequenas gotas no oceano. Air Canada, Air France e Tupolevs, não me levem a mal, mas não são notícia. São como atentados à bomba em Bagdad ou Damasco. Acontecem todas as semanas mas já ninguém (infelizmente) liga.
Depois do acidente da Spanair, aqui há uns anos em Madrid, lembro-me de ter entrado num avião e, perante uma falha técnica, perguntei ao piloto se os dois reatores tinham sido testados.
Dentro de uns dias, quando embarcar para Reiquiavique, vou perguntar ao islandês se está tudo bem lá em casa com a mulher e os filhos.
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