segunda-feira, janeiro 13, 2014

Ser Emigrante, é ter na alma a chama imensa...


Habituei-me a ver emigrantes na praia e a ler os seus relatos nos jornais. As histórias de vida eram quase sempre comoventes. Pessoas sem formacão, que saltavam a fronteira e se espalhavam por Franca, Alemanha e Suica, trocando um salário por trabalhos que os locais não queriam fazer.
Já o regresso a Portugal em cada Agosto era penoso. Carros alugados, lingua materna esquecida, roupas muito "isto lá fora é o que está a dar" e muitos "Jean Pierre, viens ici maintenant!!". Ostentacão de riqueza e a certeza de que, pelo menos naquele mês, todos na aldeia achavam que eles estavam bem na vida. Nunca tive particular simpatia pela espécie.
Até que me tornei um deles...
Não alugo carro, nem me esqueci da língua (acho eu), mas, também "chego" a Portugal no Verão.
Quando aqui aterrei, há 8 anos atrás, tinha uma ideia sobre a "nova vaga de emigracão". Tudo o que conhecia eram pessoas como eu que, muito antes de rebentar a crise, se tinham feito à estrada pela aventura, pela diferenca, pelo conhecimento. Não fugiam de nada, porque não havia nada, em teoria, para os fazer fugir. Chegavam aqui ou a qualquer outro sitio, com uma formacão que lhe permitia escolher que emprego queriam.
Nunca me tinha apercebido mas, nesse aspecto, sou um privilegiado. A área em que não me revejo mas que estudei, dá-me a possibilidade de trabalhar em qualquer país do mundo que tenha ou queira ter um computador, que tenha ou queira ter uma tomada. Nunca, em momento algum da minha vida profissional, passei um dia sem trabalho, sem contrato ou sem salário. E mesmo em tempo de crise mundial, continuo a ter mais propostas de trabalho do que dias da semana. Portanto, eu e outros da mesma área, somos uns priviligiados. Notem que não digo "sortudos". A sorte não entra nesta história.
Entretanto, há coisa de um ano, arranjei um hobby novo. Uma espécie de sarna que me dá muito trabalho e que me faz conhecer muita gente na comunidade portuguesa. Alguns que não interessam ao menino Jesus e outros, felizmente a maioria, muito boa gente que tem tornado a minha vida na Suécia ligeiramente mais fácil. Estou muito menos só. A verdade é essa.
E também percebo claramente, agora, a redoma em que estava e como a ilusão da "nova emigracão" é isso mesmo, uma ilusão.
Todas as semanas falo com pessoas que pedem ajuda para arranjar trabalho por estas paragens. E não são economistas, arquitectos ou gestores. Esses saltam o muro com contratos na mão. São pessoas que perderam tudo e que precisam de comecar de novo, algures, fazendo "qualquer" coisa. Não têm formacão universitária e não resistiram ao assalto que Passos & Portas fizeram ao nosso país. Se pensar um pouco, vejo alguma lógica nisto. Apenas 9 ou 10% terminam o ensino superior. Desses, talvez metade tire cursos sem qualquer aplicacão no mercado de trabalho, portanto, é claro que a "nova emigracão" tinha que conter, na sua maioria, pessoal que desenrasca isto ou aquilo.
Tenho conhecido pessoas absolutamente fantásticas. Que chegam, não encontram trabalho ou são enrolados pelos empregadores, mas que não desistem, vão à luta, não se rendem. Perante problemas e mais problemas, têm sempre um sorriso, uma mão amiga, disponibilidade para ajudar e um instinto de sobrevivência que me faz sentir orgulhoso em ser português. São estes os meus heróis. Trabalham, não se queixam, procuram formas de rendimento alternativas. Chegam com todas as idades. Procuram o primeiro emprego ou, com mais de 50 anos, recusam-se a envelhecer em Portugal de bracos no ar a cada anúncio de mais impostos. São pessoas sem espaco em Portugal que, de uma forma ou de outra, seguiram o conselho do jotinha Coelho.
São histórias de vida que me afectam e nas quais não consigo deixar de me envolver. Mas são também licões para quem se queixava sem saber de quê.
Não sei se nos voltaremos a ver na praia, mas sei que vos verei com outros olhos.

2 comentários:

Sandra Dias disse...

E podermos ajudar alguem, faz-nos sentir parte de uma comunidade que deve ser de partilha e aprendizagem.
O blog é que fica a perder...passas menos vezes por aqui :)

Anónimo disse...

Nao sei se fica a perder, mas já tive dias com "mais horas". É um facto :)

Tf