sexta-feira, novembro 08, 2013

Back to 66 (mas sem o Eusébio)


O gráfico que está aqui em cima andou a saltar de mail em mail e de rede em rede. Apareceu num jornal qualquer (Diário Económico ?) e imagino que tenha sido notícia de Telejornal.
O José Rodrigues dos Santos ainda apresenta o jornal da noite? Se sim, gostava de ter lhe ter visto a cara no fim da peca...
Mas, voltando à lide, este gráfico apresenta-nos uma notícia que deverá ser arquivada no dossier de "calamidades naturais".
Portugal ultrapassou em 2012 o máximo histórico de emigrantes (registados) que se arrastava desde 1966. E o que mudou de 66 para 2012?
Acabou a guerra nas colónias ao fim de 13 anos, deixámos de viver em ditadura e, para mal dos meus pecados, o Eusébio reformou-se. Fora isso, mais auto-estrada aqui e centro comercial ali, é quase a mesma coisa. Ou não?
Não, claro que não.
Entrámos num projecto europeu que nos deu inúmeras condicões de progresso (leia-se: independência económica), muito mais portugueses tiveram acesso a escolas e universidades públicas. Criámos uma sociedade, em teoria, mais culta e preparada.
Não resolvemos contudo um problema de base, a corrupcão, e, por culpa própria, assistimos, de bracos cruzados, a décadas de corrupcão e enriquecimentos mal explicados.
Hoje, o nosso país não produz para comer, paga salários (médios) inferiores a praticamente todos os parceiros europeus e, em nome de uma dívida externa monstruosa, exige um garrote fiscal ao nível dos países mais ricos do mundo. Por outro lado, a escola pública está aos poucos a ser destruída, o SNS também. A justica continua, calma e tranquilamente, a deixar todos os atropelos entrarem na bruma do esquecimento.
Somos um estado dependente do dinheiro externo. Seja do FMI, dos mercados, ou dos subsidios da UE. Somos uma espécie de vergonha administrativa.
E é por isso que aquele gráfico atingiu um máximo histórico em 2012. A classe média rebentou.
Ou como diria Passos Coelho, esse analfabeto político, saíram da sua zona de conforto.
Não vou entrar no debate do que significa estar longe de casa e a revolta que causa ver o regresso eternamente adiado.
Mas gostava de perguntar se algo, mesmo neste cenário de crise, poderia ter sido feito para evitar esta fuga de Portugueses? Eu acho que sim.
Bastava, por exemplo, ter dividido o custo da crise por todos.
Li algures uma notícia sobre os lucros declarados pelos mais ricos de Portugal, no mesmíssimo ano que em 121.000 almas abandonaram o país. Escusado será dizer que os ricos ficaram ainda mais ricos. É um clássico das guerras, depressões e crises. Muitos empobrecem, uma minoria enriquece.
Olhando para um exemplo concreto: a banca. Declararam lucros enormes, mesmo aqueles que foram financiados com dinheiro sacado a cada português nos impostos de "emergência nacional". Já não falo no assalto colectivo que foi o BPN, mas, não teria sido justo que os bancos tivessem renegociado os créditos? Todos sabemos que a especulacão imobiliária foi uma das causas deste colapso mundial. Casas avaliadas 3 vezes acima do seu preco real e rendas para uma vida. Porque razão tem que ficar a perda toda do lado do cliente, que ainda por cima é depenado com impostos para financiar a banca? Porque não obrigou o governo a uma reducão nos créditos, dividindo assim o mal pelas aldeias?
Todas as perdas neste processo, sejam de direitos, salários ou regalias, aconteceram do lado da classe trabalhadora, dos que vivem do seu salário.
Dir-me-ão que as regras não podem mudar a meio. Quem comprou uma casa por 350 000 euros numa rua a cair de podre em Lisboa, fê-lo de livre vontade e concordou com aquelas prestacões que os farão pagar a casa 3 vezes. Certo, concordo.
Mas quem trabalhava também pensava que levava 100% da reforma aos 65 anos. Quem recebia uma pensão pensava que esta não seria cortada. Os funcionários públicos assinaram um contrato com 14 salários. Disseram-lhes que os aumentos de impostos eram temporários e que o esforco fazia sentido para reduzir uma dívida externa que ainda não parou de aumentar.
Portanto...porque razão a quebra de contrato só é possivel numa direccão? Porque razão prefere este governo de inúteis proteger uma minoria de banqueiros e empresários, deixando milhares de portugueses entre a espada e a parede?
Depois de conseguir a geracão mais formada de sempre (e de pagar essa formacão), Portugal oferece agora esse conhecimento, de mão beijada, a outros países que compreendem que, o maior activo de cada Nacão, são os seus trabalhadores, venham de onde vierem.
Passos sabe isto. Portas também. Os outros mangas de alpaca também.
Mas isto nunca foi sobre nós pois não? Nunca foi o nosso futuro que esteve em cima da mesa.
Claro como água.
E nós merecemos isto? Claro que sim.
Não foi o concelho com mais licenciados do país que gritou por um preso na noite das Autárquicas?
Nós fomos o bom aluno e estamos entrerrados por três geracões.
Os gregos partiram tudo, não aceitaram as imposicões da Alemanha, renegociaram a dívida e já estão em melhor situacão do que Portugal.
Sobre Irlanda e Espanha, nem vale a pena falar.
Estão-nos a comer até ao osso. E nós gostamos.

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