quarta-feira, maio 15, 2013

Benfica e Qatar, um dia esquisito



O Benfica joga uma final europeia hoje.
Da última vez que isso aconteceu, contava uns tenros 13 anos de idade e passei o dia na rua a correr atrás de uma bola fingindo ser o Valdo. No cabelo éramos muito parecidos. No toque de bola ele era melhor. Mas pouco.
Lá mais para a tarde, cansada de me ouvir, disse a mãe de um amigo: “Aiiii…porque é que vocês gostam tanto do Benfica? Daqui a pouco vão ter uma desilusão e depois ficam tristes!”. Indeed…
Rijkaard galgou uns metros sozinho com a camisola fora dos calcões e Silvino fez o que melhor sabia, olhar, deixando a bola entrar.
Mal eu sabia que essa desilusão era a primeira de muitas. Tive que gramar o Damásio, o Azevedo, o Nelo e o Tavares. O Celta e o Calado, o Thomas e o João Manuel Pinto. O sexto lugar e o Andrade. O Bossio e o Mawete Junior. O Artur Jorge e o Escalona, o Jorge Soares e o Paulo Almeida.
15 anos depois comecamos a ombrear por um lugar que já foi nosso. Voltámos a ser gente na Europa, jogamos melhor que os outros em Portugal. Mas ainda não ganhamos. Lá chegaremos. Apesar de tudo, o deserto já foi maior. O nosso ciclo vai regressar. Há que continuar a beter punho, como diz o filósofo das massas.
Mãe nenhuma me vai dizer hoje que eu vou ter uma desilusão. Aliás, 23 anos depois o meu nervosismo é nulo. Não acredito e isso não me deixa viver a angústia da ilusão.
Benfiquista que não “acArdita”, é uma verdadeira nódoa. Lamento. É aí que estou hoje.
E no meio destes pensamentos escreve-me o embaixador do Qatar em Portugal. Pede-me o número de telefone. Recuso e digo que já não preciso da ajuda deles. A embaixada do Qatar na Holanda disse-me que podia entrar em Doha com um carimbo israelita no passaporte. Era o que precisava de saber. Obrigado e até à próxima.
Ele insiste. Comeco a pensar se por azar do destino leram o que escrevi aqui e me querem chicotear por ofensas a Alá.
Envio o número.
Liga-me de imediato e deixa-me de boca aberta.
Apresenta um pedido de desculpas em nome da embaixada pela forma como o funcionário tratou o meu pedido de esclarecimento. ”Não corresponde aos altos standards exigidos a um representante do Qatar”. Fico envergonhado. “Não há problema”, digo eu. Mais do que habituado estou eu a embaixadas que só servem para o tacho e na altura de responderem a qualquer coisa, ou não estão ou chutam para longe. É o clássico da diplomacia. Tudo bem. Mas neste caso, e em honra da verdade, o embaixador na Holanda esclareceu a minha dúvida, comprei o bilhete, ponto final. Só precisava de uma reposta, viesse de Lisboa ou não. Assunto encerrado.
Para eles não. O empregado em Lisboa foi despedido. Parece que é difícil arranjar pessoal competente que fale Árabe, Inglês e Português.
Mas não, não era preciso, porque fez isso?? Eu nem me queixei!!”, digo a pensar no outro desgracado que vai cair no excel do Gaspar.
 “A minha missão aqui é tratar todo e qualquer cidadão Português com respeito e aproximá-lo do meu país. Se vocês nos dirige uma pergunta, não podemos dizer-lhe que contacte a embaixada da Holanda, temos que ser nós a responder!“, responde o embaixador.
“E não se preocupe com o carimbo de Israel, nós não somos um país de terceiro mundo nem parvos.  As pessoas viajam para onde querem e se for necessário, mudam de passaporte depois. Nada temos contra Israel, só não gostamos que facam bombardeamentos em Gaza”.
Seguimos conversa. Falámos sobre a presenca Portuguesa no médio oriente. Os castelos no Omã e os vestígios no Bahrain. “Vocês são Árabes que falam Português”, diz ele entusiasmado. Mais um que me chama Habibi.
Não desliga sem se colocar à disposicão para qualquer problema durante a minha estadia em Doha. Convida-me para um jantar quando chegar a Lisboa.
Nunca na minha vida fui tão bem tratado numa embaixada. Nem estou a ver que volte acontecer…
Mais “proximidade” com o povo Qatari, só se o camarada me desse boleia no jatinho dele para as areias tórridas.
Salto logo para Paris, ano de 2003, um valente gamanco no metro que me deixou sem dinheiro e documentos. Aflito na embaixada Portuguesa implorei por ajuda para conseguir sair do país e regressar a Lisboa. O funcionário, aborrecido e contrariado, soprava para o ar enquanto dizia: “Nós fechamos às 15.30h!!”
Vivendo e aprendendo. Podem fazer os telhados com areia, mas sabem receber. Muito bem camaradas, já estou a gostar e ainda nem embarquei.
Benfica e Qatar.
Há dias esquisitos. 

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