O Benfica
joga uma final europeia hoje.
Da última
vez que isso aconteceu, contava uns tenros 13 anos de idade e passei o dia na
rua a correr atrás de uma bola fingindo ser o Valdo. No cabelo éramos muito
parecidos. No toque de bola ele era melhor. Mas pouco.
Lá mais
para a tarde, cansada de me ouvir, disse a mãe de um amigo: “Aiiii…porque é que
vocês gostam tanto do Benfica? Daqui a pouco vão ter uma desilusão e depois
ficam tristes!”. Indeed…
Rijkaard
galgou uns metros sozinho com a camisola fora dos calcões e Silvino fez o que
melhor sabia, olhar, deixando a bola entrar.
Mal eu
sabia que essa desilusão era a primeira de muitas. Tive que gramar o Damásio, o
Azevedo, o Nelo e o Tavares. O Celta e o Calado, o Thomas e o João Manuel Pinto.
O sexto lugar e o Andrade. O Bossio e o Mawete Junior. O Artur Jorge e o
Escalona, o Jorge Soares e o Paulo Almeida.
15 anos
depois comecamos a ombrear por um lugar que já foi nosso. Voltámos a ser
gente na Europa, jogamos melhor que os outros em Portugal. Mas ainda não
ganhamos. Lá chegaremos. Apesar de tudo, o deserto já foi maior. O nosso ciclo
vai regressar. Há que
continuar a beter punho, como diz o filósofo das massas.
Mãe nenhuma me vai dizer hoje que eu vou ter uma desilusão.
Aliás, 23 anos depois o meu nervosismo é nulo. Não acredito e isso não me deixa viver a angústia da
ilusão.
Benfiquista
que não “acArdita”, é uma verdadeira nódoa. Lamento. É aí que estou hoje.
E no meio
destes pensamentos escreve-me o embaixador do Qatar em Portugal. Pede-me o
número de telefone. Recuso e digo que já não preciso da ajuda deles. A
embaixada do Qatar na Holanda disse-me que podia entrar em Doha com um carimbo
israelita no passaporte. Era o que precisava de saber. Obrigado e até à
próxima.
Ele
insiste. Comeco a pensar se por azar do destino leram o que escrevi aqui e me
querem chicotear por ofensas a Alá.
Envio o
número.
Liga-me de
imediato e deixa-me de boca aberta.
Apresenta
um pedido de desculpas em nome da embaixada pela forma como o funcionário
tratou o meu pedido de esclarecimento. ”Não corresponde aos altos standards
exigidos a um representante do Qatar”. Fico envergonhado. “Não há problema”,
digo eu. Mais do que habituado estou eu a embaixadas que só servem para o tacho
e na altura de responderem a qualquer coisa, ou não estão ou chutam para longe.
É o clássico da diplomacia. Tudo bem. Mas neste caso, e em honra da verdade, o
embaixador na Holanda esclareceu a minha dúvida, comprei o bilhete, ponto
final. Só precisava de uma reposta, viesse de Lisboa ou não. Assunto
encerrado.
Para eles
não. O empregado em Lisboa foi despedido. Parece que é difícil arranjar pessoal
competente que fale Árabe, Inglês e Português.
“Mas não,
não era preciso, porque fez isso?? Eu nem me queixei!!”, digo a pensar no outro
desgracado que vai cair no excel do Gaspar.
“A minha missão aqui é tratar todo e qualquer
cidadão Português com respeito e aproximá-lo do meu país. Se vocês nos dirige
uma pergunta, não podemos dizer-lhe que contacte a embaixada da Holanda, temos
que ser nós a responder!“, responde o embaixador.
“E não se
preocupe com o carimbo de Israel, nós não somos um país de terceiro mundo nem
parvos. As pessoas viajam para onde
querem e se for necessário, mudam de passaporte depois. Nada temos contra
Israel, só não gostamos que facam bombardeamentos em Gaza”.
Seguimos
conversa. Falámos sobre a presenca Portuguesa no médio oriente. Os castelos no
Omã e os vestígios no Bahrain. “Vocês são Árabes que falam Português”, diz ele
entusiasmado. Mais um que me chama Habibi.
Não desliga
sem se colocar à disposicão para qualquer problema durante a minha estadia em
Doha. Convida-me para um jantar quando chegar a Lisboa.
Nunca na minha vida fui tão bem tratado numa embaixada. Nem estou a ver que volte acontecer…
Mais “proximidade”
com o povo Qatari, só se o camarada me desse boleia no jatinho dele para as
areias tórridas.
Salto logo
para Paris, ano de 2003, um valente gamanco no metro que me deixou sem dinheiro
e documentos. Aflito na embaixada Portuguesa implorei por ajuda para conseguir
sair do país e regressar a Lisboa. O funcionário, aborrecido e contrariado, soprava
para o ar enquanto dizia: “Nós fechamos às 15.30h!!”
Vivendo e
aprendendo. Podem fazer os telhados com areia, mas sabem receber. Muito bem
camaradas, já estou a gostar e ainda nem embarquei.
Benfica e
Qatar.
Há dias
esquisitos.
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