Já está.
O número: 16.
Mas o quê? Dias. Passados a correr e sem tempo para completar a caderneta de cromos. Fica sempre algum por colar. Alguns, para ser preciso.
A calcas estão na mesma. Acorda, cabrito e tinto alentejano? Claro que sim. Mas desta vez os ténis seguiram viagem. Um prato de arroz doce, um jogging no rio. Um bife com molho, uma corrida no parque Eduardo VII. Visto do Marquês parece menor. E menos inclinado.
Correr em Lisboa é todo um festival de luz e cor. Há que subir, descer, nadar para atravessar a rua quando chove e saltar para evitar as decoracões canídeas da calcada portuguesa. É treino para a perna, para o braco e para o olho.
Mas é na altura em que o termómetro bate os 15 graus em Dezembro que percebo que sim, nós nascemos no lado certo do mundo. Descer a Av. da Liberdade com um simples casaco. De noite e em Dezembro. Um luxo. Os Oliveiras e Costas desta vida é que destruiram o nosso cantinho, mas isso são outros 500 paus e hoje não estou para amarguras.
Em Lisboa tive uma recepcão de luxo. Nem 2km fiz até a polícia me mandar parar. Ali no campo grande, ao lado do urinol gigante, virei para a esquerda no sítio do costume. Parece que já não dá. Nada a dizer, está lá um sinal do tamanho dos Clérigos a avisar...quem é que me manda ficar deslumbrado com o céu azul? Mas já repararam nisso? O céu em Lisboa está azul 365 dias por ano. 366 de 4 em 4. A polícia fez o favor de me avisar da asneira cometida. Sentados de camarote, 50 cm depois da curva, lugares na primeira fila. E eu, entre 1000 carros que seguiram em frente, fui o único a ir na direccão deles. Maravilhoso.
Como isto não era mau qb, dei a curva enquanto avisava a minha mãe que já cá estava. Kit mãos livres? Não, mesmo com o telefone no ouvido e uma mão no volante. A cereja foi o seguro do carro. Feito aqui nestas paragens e com uma folha qualquer em falta. Mas qual folha? Enfim, dia 23 de Dezembro, o Natal a chegar e eu a ver se oferecia um cabaz aos polícias. Foi um quadro bem bonito.
Enquanto levava nas orelhas, contemplava o céu, e concordava com tudo o que ouvia. Pedi desculpa e expliquei a situacão. "Sou emigra, costumava viver aqui e era possível virar e coiso e tal..." Então e o telefone??? "Ahh...lá na Lapónia é legal e não sei quê, já não me lembrava e rebéubéu..". Sempre com vários pedidos de desculpa e promessas de atencão daqui para a frente.
No fim da conversa, o elogio. "Sr. Tiago, o senhor está a ser tão educado que só o vou multar pela curva...o telefone e o seguro passam".
A educacão compensa sempre, já lá dizia o velho Erodes. Ainda tivémos algum tempo para discutir a condicão física do Cardozo e o seu instinto de goleador. "Tosco? Toscos são os que não marcam golos!!". Certíssimo.
Estávamos a avancar pelas alas com o Saviola bem aberto nos espacos quando outro camarada fez a mesma asneira. O policia interrompeu o discurso e foi autuar mais um pouco.
Senti que não estava só e libertei um "seja educado amigo", antes de desejar bom natal à rapaziada de Viseu.
Os dias seguintes, na capital do império, foram passados de mesa em mesa. De casa em casa. De ponte em ponte. Certo dia, na ponte 25 de Abril, ao fim de 2 horas parado e já aborrecido de contar acidentes (parei aos 7) comecei a pensar: "E se eu comprasse uma casa?". Bem perto do aeroporto!! Eu chegava, entrava, calcava os chinelos do IKEA e telefonava ao pessoal. "Cheguei!!" diria então. Depois era só esperar que o pagode se deslocasse. Que plano perfeito!! Bancos e Remaxs, venham a mim!!
Mas, diga-se em abono da verdade, quilómetros à parte, é sempre um sopro na alma ver pessoas que genuinamente gostam de nós só porque sim. As casas são frias, mas o acolhimento é sempre quente. Só desse lado consigo ter a sensacão de "casa".
Entre velhos abracos e sorrisos de sempre, um intervalo em Lisboa para um pequeno salto nas luzes de Times Square. A cidade que não dorme nem recolhe o lixo. Umas palavrinhas na "Estacão-Central" quando estiver para aí virado.
No regresso, o carnaval habitaual. Chegar a casa, abrir caixotes, carregar entulho. Nova casa, nova mudanca. 23 ou 24. Já lhes perdi a conta.
Reparo que vou perdendo roupa em cada passagem. O espaco é ocupado com dvds e livros. Se tudo correr bem, daqui a 3 casas estarei vestido como um índio da amazónia.
No caminho para o escritório ensaio duas ou três rezas. Não sei nenhuma completa mas dei-lhe forte no refrão. "A 13 de Maio, a 13 de Maio, na cova de Eiriiiiiiiia...apareceu brilhando, apareceu brilhando, a Virgem Mariiiiiaaaaaaa". Passem em S. Tim, capítulo "Xutos: 1978-1982". Está lá tudo. O objectivo? Encontrar um substituto para o meu segundo projecto.
Já vi o meu chefe entre um café e um chá. Ele não disse que sim, mas também não disse que não. O silêncio alimenta o meu optimismo. Passamos no mesmo corredor e já não há volta a dar. "Então? Novidades?"
A conversa corre bem. A urgência já não existe, o nosso preco parece que é alto, o cliente está a consultar outras empresas. Puro ouro.
Ele não se mostra preocupado. Pelo contrário...denota agora algum desinteresse neste projecto quando em Dezembro estava com o fogo todo. Diz-me que tem outras propostas mais interessantes, ou seja, mais lucrativas. Ok...assim já percebo, abre mão de um para agarrar outro. Pois que seja, mal por mal, sempre ganho algum tempo. Talvez não me safe de um segundo projecto mas como dizia o poeta, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.
O primeiro dia dá-me sempre conta do Tico e do Teco. Vou marcar as férias de Inverno para ver se me acalmo.
O número: 16.
Mas o quê? Dias. Passados a correr e sem tempo para completar a caderneta de cromos. Fica sempre algum por colar. Alguns, para ser preciso.
A calcas estão na mesma. Acorda, cabrito e tinto alentejano? Claro que sim. Mas desta vez os ténis seguiram viagem. Um prato de arroz doce, um jogging no rio. Um bife com molho, uma corrida no parque Eduardo VII. Visto do Marquês parece menor. E menos inclinado.
Correr em Lisboa é todo um festival de luz e cor. Há que subir, descer, nadar para atravessar a rua quando chove e saltar para evitar as decoracões canídeas da calcada portuguesa. É treino para a perna, para o braco e para o olho.
Mas é na altura em que o termómetro bate os 15 graus em Dezembro que percebo que sim, nós nascemos no lado certo do mundo. Descer a Av. da Liberdade com um simples casaco. De noite e em Dezembro. Um luxo. Os Oliveiras e Costas desta vida é que destruiram o nosso cantinho, mas isso são outros 500 paus e hoje não estou para amarguras.
Em Lisboa tive uma recepcão de luxo. Nem 2km fiz até a polícia me mandar parar. Ali no campo grande, ao lado do urinol gigante, virei para a esquerda no sítio do costume. Parece que já não dá. Nada a dizer, está lá um sinal do tamanho dos Clérigos a avisar...quem é que me manda ficar deslumbrado com o céu azul? Mas já repararam nisso? O céu em Lisboa está azul 365 dias por ano. 366 de 4 em 4. A polícia fez o favor de me avisar da asneira cometida. Sentados de camarote, 50 cm depois da curva, lugares na primeira fila. E eu, entre 1000 carros que seguiram em frente, fui o único a ir na direccão deles. Maravilhoso.
Como isto não era mau qb, dei a curva enquanto avisava a minha mãe que já cá estava. Kit mãos livres? Não, mesmo com o telefone no ouvido e uma mão no volante. A cereja foi o seguro do carro. Feito aqui nestas paragens e com uma folha qualquer em falta. Mas qual folha? Enfim, dia 23 de Dezembro, o Natal a chegar e eu a ver se oferecia um cabaz aos polícias. Foi um quadro bem bonito.
Enquanto levava nas orelhas, contemplava o céu, e concordava com tudo o que ouvia. Pedi desculpa e expliquei a situacão. "Sou emigra, costumava viver aqui e era possível virar e coiso e tal..." Então e o telefone??? "Ahh...lá na Lapónia é legal e não sei quê, já não me lembrava e rebéubéu..". Sempre com vários pedidos de desculpa e promessas de atencão daqui para a frente.
No fim da conversa, o elogio. "Sr. Tiago, o senhor está a ser tão educado que só o vou multar pela curva...o telefone e o seguro passam".
A educacão compensa sempre, já lá dizia o velho Erodes. Ainda tivémos algum tempo para discutir a condicão física do Cardozo e o seu instinto de goleador. "Tosco? Toscos são os que não marcam golos!!". Certíssimo.
Estávamos a avancar pelas alas com o Saviola bem aberto nos espacos quando outro camarada fez a mesma asneira. O policia interrompeu o discurso e foi autuar mais um pouco.
Senti que não estava só e libertei um "seja educado amigo", antes de desejar bom natal à rapaziada de Viseu.
Os dias seguintes, na capital do império, foram passados de mesa em mesa. De casa em casa. De ponte em ponte. Certo dia, na ponte 25 de Abril, ao fim de 2 horas parado e já aborrecido de contar acidentes (parei aos 7) comecei a pensar: "E se eu comprasse uma casa?". Bem perto do aeroporto!! Eu chegava, entrava, calcava os chinelos do IKEA e telefonava ao pessoal. "Cheguei!!" diria então. Depois era só esperar que o pagode se deslocasse. Que plano perfeito!! Bancos e Remaxs, venham a mim!!
Mas, diga-se em abono da verdade, quilómetros à parte, é sempre um sopro na alma ver pessoas que genuinamente gostam de nós só porque sim. As casas são frias, mas o acolhimento é sempre quente. Só desse lado consigo ter a sensacão de "casa".
Entre velhos abracos e sorrisos de sempre, um intervalo em Lisboa para um pequeno salto nas luzes de Times Square. A cidade que não dorme nem recolhe o lixo. Umas palavrinhas na "Estacão-Central" quando estiver para aí virado.
No regresso, o carnaval habitaual. Chegar a casa, abrir caixotes, carregar entulho. Nova casa, nova mudanca. 23 ou 24. Já lhes perdi a conta.
Reparo que vou perdendo roupa em cada passagem. O espaco é ocupado com dvds e livros. Se tudo correr bem, daqui a 3 casas estarei vestido como um índio da amazónia.
No caminho para o escritório ensaio duas ou três rezas. Não sei nenhuma completa mas dei-lhe forte no refrão. "A 13 de Maio, a 13 de Maio, na cova de Eiriiiiiiiia...apareceu brilhando, apareceu brilhando, a Virgem Mariiiiiaaaaaaa". Passem em S. Tim, capítulo "Xutos: 1978-1982". Está lá tudo. O objectivo? Encontrar um substituto para o meu segundo projecto.
Já vi o meu chefe entre um café e um chá. Ele não disse que sim, mas também não disse que não. O silêncio alimenta o meu optimismo. Passamos no mesmo corredor e já não há volta a dar. "Então? Novidades?"
A conversa corre bem. A urgência já não existe, o nosso preco parece que é alto, o cliente está a consultar outras empresas. Puro ouro.
Ele não se mostra preocupado. Pelo contrário...denota agora algum desinteresse neste projecto quando em Dezembro estava com o fogo todo. Diz-me que tem outras propostas mais interessantes, ou seja, mais lucrativas. Ok...assim já percebo, abre mão de um para agarrar outro. Pois que seja, mal por mal, sempre ganho algum tempo. Talvez não me safe de um segundo projecto mas como dizia o poeta, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas.
O primeiro dia dá-me sempre conta do Tico e do Teco. Vou marcar as férias de Inverno para ver se me acalmo.
2 comentários:
A minha educação também faz com que não entre logo "com sete pedras na mão". Já dizia o meu pai que "não é difícil viver, o difícil é saber viver". Bons ensinamentos, essa é que é essa.
Bom ano de 2011, tudo de bom.
um abraço
Nada mais podia fazer...não tinha qualquer razão para me queixar. Errei (e muito) e só me restava ouvir e "rezar" por uma vara de marmeleiro suave :) Bom ano!
tf
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