Bismarck dizia que "só os tolos aprendem com os próprios erros, eu prefiro aprender com os erros dos outros". É um pouco "à la ariano armado aos cucos " mas percebe-se o que o rapaz queria dizer.
Constato olhando para trás que eu nem nos tolos me encaixo. Não há erro que me safe.
Uma das coisas que eu já poderia ter aprendido por esta altura do campeonato era a não planear nada. Sendo que nada é todo o universo futuro para além de 3 dias. Se a memória não me falha, a quantidade de planos que correram da forma tracada correspondem, a ver se não me engano nas contas, a mais ou menos zero. É isso.
Quando vim para a minha licenca de paternidade, para além do óbvio tempo passado com o meu filho, queria "cortar" por uns meses com a minha realidade profissional e rezar aos santinhos para que a economia desse uma daquelas voltas que o Sócrates tanto apregoa. Tracei uma estratégia para mudar a minha carreira depois do verão, para de certa forma fugir ao terror dos despedimentos colectivos que me passaram ao lado durante 14 meses e garantir estabilidade. Mais um ano como o anterior e pedia uma estadia naquele resort da Av. do Brasil.
Infelizmente, por claro defeito ou burrice minha, nunca me consegui desligar da realidade que me envolvia. Há umas semanas recebi o relatório e contas de 2009. Era de fugir. Resumindo a história não havia um único indicador sem um (-) do lado esquerdo e um M(milhões) do lado direito. As perdas ascendem a números que eu nem sei dizer. Depois recebi o plano estratégico para 2010 e 2011. Palavras chave: "reforcar o negócio", "Brasil", "Índia", "China", "Alemanha".
Então e Gotemburgo? É mais bolos vinha lá na última página.
Os sinais estavam lá todos e decidi que a mudanca tinha mesmo que acontecer.
Para que tudo batesse certo nem era preciso a economia ajudar muito, bastava que um ou dois peões se mexessem no tabuleiro de xadrez.
Mas isto claro...era se alguma coisa me caísse no colo numa bandeja. Claro que o plano saiu furado.
Existe um departamento na empresa, um só, que atravessou a crise sem perdas. Um pequeno oásis que recruta colaboradores enquanto o resto da empresa despede mais de 1000. Não é preciso explicar que todos tentam saltar para lá, numa tentativa de garantir alguma estabilidade.
A crise continua a marcar o quotidiano desta cidade. Muito.
É um departamento cheio de cientistas, daqueles com muito acne e calcas debaixo das axilas, com o cabelo a escorrer fula e lancheiras preparadas pelas mães. Não é bem o meu ambiente, até porque tenho enormes dificuldades em ficar com o cabelo oleoso e a minha mãe não sabe receitas de salmão. Mas...se entrar lá significa estabilidade e seguranca, meus amigos, estou disposto até a usar suspensórios.
Tentei durante alguns meses e nada. Os cientistas nem se dignaram a responder. Com o passar do tempo comecei a desistir da ideia e a procurar novas solucões.
Eis quando surge uma oportunidade de me juntar aos oleosos. Chega na pior altura, agora, e para o pior sítio, Estocolmo.
Perante o medo de não voltar a ter outra oportunidade resolvi aceitar. Entretanto reparei que o meu visto também está a acabar. É incrivel como 5 anos pareciam uma eternidade...
Profissionalmente espero conseguir seguranca, pessoalmente, isto é o pior que me podia acontecer.
Depois de 2 meses a ver a evolucão do Diogo no dia-a-dia, a fortalecer lacos e a molhar os olhos a cada sorriso, deixarei de o poder ver todos os dias nos meses que se seguem.
Olhando para o dilema não vejo uma saída airosa. Pela primeira vez na minha vida não tenho resposta ou solucão. Seja qual for o caminho escolhido, ele terá sempre espinhos e buracos.
Isto é o mesmo que um algarvio ir trabalhar para Braga. Felizmente, felizmente, o comboio liga estes 550km em 3h (é por isso que os escandinavos não precisam de TGV...já têm comboios rápidos. Já era altura de pararem, como ouvi ontem no novo programa do Sousa Tavares, com esse mito dos escandinavos que são muito civilizados e não gastam dinheiro em TGVs. Não gastam porque fazem um "Lisboa - Madrid" em 3h, enquanto a CP o faz em 12h).
Não tenho andado com vontade de escrever e sinceramente, mesmo para mim que até gosto da mudanca, isto é muita trapalhada ao mesmo tempo.
Tento garantir o meu futuro e consequentemente o do meu filho. Mesmo sendo essa a principal motivacão, tenho dúvidas, medos e incertezas.
Enfim, a vida é feita de encruzilhadas, riscos e decisões. O tempo dirá se fiz bem ou se cometi um erro do tamanho dos Jerónimos.
Chegado aqui e uma vez tomada a decisão, é fazer como dizia o outro: "Para Estocolmo e em forca"
O Albarcuel segue dentro de momentos, na costa este, quando o sol sorrir um pouco mais.
5 comentários:
Dureza. Pensa que tambem estas a fazer isso por ele.
A vida é feita de escolhas e, com certeza, a opção que tomou foi pensada como a melhor. Vá anime-se. E não podem mudar-se todos?
O seu puto está bem giro.
Um abraço e parabéns (profissionalmente falando, claro está).
Boa sorte!
Fico a fazer figas para que tudo te corra de feição. Não sou religiosa, mas se fosse, acenderia uma velinha por ti, para te iluminar e proteger!!!
Beijos grandes,
a sis, Carolina.
As nossas escolhas são sempre as melhores escolhas! Aprendi isso com a vida!!
Força nisso!!
;)
Força, que esse sol sorria rapidamente e deixe alguma claridade mesmo na noite.
Abraço
Nuno Simão
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