sábado, abril 25, 2009

O que faz falta?



Para mim o dia de hoje significa esperanca.
Mais do que liberdade.
E porquê?
Esperanca é algo que os anos me têm ensinado a dar valor, já liberdade não.
Sou um filho de Abril e isso significa que nada fiz para ter a liberdade de que hoje gozo.
Nasci e ela veio numa bandeja. Gosto de ser livre, gosto de falar à vontade, gosto de ter opcões.
Mas para mim sempre foi assim, não tenho um termo de comparacão.
Já o mesmo não devem dizer algumas pessoas da geracão anterior que perderam a sua juventude (e muitos, mais do que isso) para que eu possa hoje optar livremente.
Para esses, fazendo fé nas suas palavras e nos relatos históricos, o 25 de Abril representava uma mudanca para uma sociedade livre, aberta e democrata.
Mas, por enorme que seja esse salto, não se esgotava aqui a revolucão dos cravos. Libertar o país de uma ditadura era também dar-lhe a oportunidade de se livrar de um crónico atraso imposto por décadas de "orgulhosamente sós". Era no fundo ter a hipótese de evoluir.
Esta parte não está completa.
Esta parte já eu a vi.
E é aqui que entra a esperanca.
35 anos passados sobre esse dia que mudou a nossa história, assinalam-se também 35 anos de erros acumulados, de uma classe política corrupta, de uma sociedade civil ausente, de um país controlado por meia-dúzia de fortunas, de sucessivos abusos de dinheiros públicos, de impunidade perante a lei, de apostas falhadas no sistema educativo.
A obra ainda nem vai a meio...
E eu tenho esperanca.
Tenho esperanca que a revolucão de Abril possa inspirar algo ou alguém. Tenho esperanca que 3 décadas depois já tenhamos percebido o caminho a seguir.
Tenho esperanca que o combate à corrupcão seja eficaz e que o mérito seja recompensado.
Tenho esperanca que consigamos olhar para o lado e perceber como em Espanha passaram de parente pobre a potência em menos de 20 anos.
Muitos dos nossos problemas não estão em quem nos governa. Estão em nós, portugueses. Ministros e autarcas são apenas outro alguém como nós.
A estrutura mental que nos une é a mesma.
Discutindo a liberdade vivida nos dias de hoje, a sic passava uma reportagem com estrangeiros que se tinham mudado para Portugal. Um brasileiro (administrador da TAP), uma inglesa, um americano (professor algures no porto) e uma sueca. Todos adoravam o país e a sua liberdade. Quando chamados a ilustrar diferencas foram certeiros. O americano criticava a esperteza saloia. Os seus alunos sentiam-se espertos quando conseguiam copiar e isso era de alguma forma uma coroa de glória. A inglesa falava na forma como medíocres chegavam a lugares de decisão dizendo que não percebia como não era o mérito a decidir progressões. A sueca falava (claro) no sistema gratuito de educacão no seu país que permitia a qualquer pessoa (filho do zé da taberna ou do zé sócrates) estudar. O único que estava nas 7 quintas era o brasileiro porque podia sair de casa à noite e parar em semáforos sem ser assaltado. Ou seja, só o que vinha do terceiro mundo é que via um degrau. E as criticas estão certas. Há que admitir.
Somos nós que fazemos toda e qualquer trafulhice no trânsito para enrolar os que esperam há horas, somos nós que passamos horas e horas no trabalho com os indíces de produtividade mais baixos da UE, somos nós que não pegamos num jornal para saber o que se passa no mundo, somos nós que não abrimos um livro, somos nós que vivemos com dinheiro que não temos, somos nós que esperamos sempre que alguém (Estado) resolva os nossos problemas, somos nós que concentramos a nossa actividade cultural em bola e novelas, somos nós que achamos que regras foram feitas para serem quebradas, somos nós que achamos que a fuga ao fisco e as baixas fraudulentas só prejudicam os outros.
Enfim, somos nós que enquanto povo desistimos de ser algo mais.
Quem chega ao poder é alguém como nós.
Talvez com mais dinheiro.
Talvez com um curso tirado no estrangeiro.
Mas na essência, na base, somos todos iguais, pelo menos nos defeitos.
E porque tenho esperanca então?
Primeiro porque adoro o meu país. Não passa um dia sem que eu me ligue a Portugal. Seja por um jornal, uma imagem, uma pessoa.
Depois porque este Abril incompleto criou condicões de vida más para a minha geracão (isto claro, na escala UE...) e obrigou muita gente a fazer as malas.
São estas pessoas que, vivendo em sítios onde a sociedade funciona, educarão parte da próxima geracão de portugueses. Há a esperanca que entre esses, alguns queiram regressar e fazer algo pelo seu país. O mesmo se aplica a quem vive em Portugal.
Já não estamos isolados. Já não estamos "orgulhosamente sós". A abertura vivida em pleno séc.XXI permite saber toda e qualquer informacão sobre os quatro cantos do globo. É ao perder as muralhas e ao ver o que se passa fora do nosso quintal que podemos emendar os nossos erros e evoluir. Esse tempo já chegou...há umas décadas, eu sei...ainda assim, só podemos melhorar. Não podemos aceitar com indiferenca que politicos corruptos e condenados sejam eleitos, não podemos aceitar negócios intermináveis e ruinosos com o lobby do betão (Já alguém reparou que o aeroporto de Lisboa está há 30 anos em constantes obras? Ninguém acha estranho?), não podemos aceitar a destruicão do parque natural do país e não podemos de forma alguma aceitar a perda de qualidade no ensino. É aqui, no ensino, que reside a chave do sucesso de um país. Enfim, eu ainda acredito.

Quanto tempo será necessário é que não sei.
Talvez na minha geracão. Haja esperanca!
25 de Abril sempre!

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom Tiago. Parabens. Paula Canada