sexta-feira, março 13, 2009

Senta-te e puxa da bica que isto vai demorar...


Resolvi ver o último prós e contras.
O tema era a crise (ou como sair dela) e como se ouve falar pouco dela nas 24h do dia, achei que um pouco mais de chicote no lombo só me podia fazer bem.
Não consigo viver esta crise de forma distanciada. Por mais que tente não consigo.
Penso em como aqui chegámos e o que podemos fazer para sair. Não imagino outro cenário que não seja o do peixe fora de água. Já percebemos o que nos trouxe até aqui, agora, para sair resta mexer, mexer, mexer. Produzir mais, procurar novas oportunidades, meter a imaginacão a funcionar e esperar que este esforco conjunto crie mais empregos, que por sua vez estimularão o consumo e servirão de alavanca ao crescimento. Tento todos os dias, ainda que de forma modesta, contribuir para a causa. Faco-o por acreditar que todos devemos remar para o mesmo lado e faco-o por ter tomado consciência empírica do que é esta crise. O meu emprego está constantemente ameacado e isso levanta uma série de questões. Especialmente para quem está longe da família, dos amigos e da seguranca de um Estado que serve de rede.
Melhorar a situacão depende de vários factores, sendo que o primeiro é a minha vontade e o meu esforco. Se eu não fizer nada por mim, dificilmente alguém fará.
Se todos tivermos esta consciência, as oportunidades não só aparecem como até se criam.
Voltando ao programa.
Foi pouco mais do que uma desilusão.
O que esperava ouvir era a resposta ao tema: "Como sair dela?"
Ao ver o painel percebi de imediato que isso não seria possível. Economistas e sociólogos na mesma mesa não podem gerar conclusões. Podem filosofar, discutir lugares comuns, andar em círculo. Solucões concretas que qualquer humano entenda e consiga tocar não vão sugerir de certeza.
Com todo o respeito por estas classes profissionais, o mundo real não é a sua especialidade.
É como tomar uma dose dupla de xanax e esperar que os pés fiquem no chão.
Também me custou um pouco ouvir um empresário (aquele das clínicas dentárias), apesar de muito admirar quem tem espírito empreendedor, dizer que não existia crise nenhuma. Estava na nossa cabeca.
Percebo onde quer chegar. Até percebo que seja um estímulo para que não nos deixemos cair. Mas não deixa de ser uma asneira do tamanho dos Clérigos. Empresas fecham todos os dias e há milhares de pessoas no desemprego um pouco por todo o globo. A crise é real e bem real.
Agora...o que fazer para sair dela?
Quando já se dicutiam indicadores de felicidade e se voava no espaco sideral, Pedro Lomba interrompeu para falar de medidas concretas. Foi para mim o único momento em que o chicote aliviou as costas.
O investimento público, feito um pouco por todos os governos, está certo e é o caminho a seguir. Mas que investimento deve ser feito? É aqui que está a grande questão. Pedro Lomba, a reboque dos jornais do dia sugeriu que em vez de se construirem mais auto-estradas e linhas de TGV que não fazem sentido (aqui defendo que a única a construir deverá ser Lisboa-Madrid), o investimento público deveria ser direccionado para a recuperacão. Conservar a nossa rede de estradas (convém dizer que já somos o país da UE com maior e melhor rede de auto-estradas, se comparadas com o tamanho do nosso território) e principalmente reabilitar os edifícios das nossas cidades.
Ora aqui está uma medida concreta, que gera o mesmo emprego, não entope o país com mais betão e limpa um pouco a imagem das nossas cidades devolutas que sinceramente só envergonham quem gosta de Portugal.
Visitar Lisboa (para falar só na maior cidade) é ver uma mistura de império grandioso com paredes de cartolina. Já não vou falar do terror urbanistico que representam todos os suburbios das grandes cidades. São prédios a perder de vista, colocados ao acaso, sem PDM ou espacos verdes e atravessados por auto-estradas. Viver em Corroios, Massamá, Loures e outros que tal não é azar, é castigo.
Já chega de destruir. É tempo de melhorar e de recuperar.
Há também outro ponto que a nível nacional engata sempre tudo: esta constante dependência do estado.
Nesse aspecto este governo falhou nas reformas. Não há volta a dar.
Os espanhóis, que nos servem de exemplo para tudo, tiveram a coragem de reduzir a máquina pública e o custo foi um aumento enorme (e nada popular) da taxa de desemprego. Comecaram do zero e com mais agilidade conseguiram crescer, passando a ser uma das potências da europa. Convém lembrar que Espanha estava há 20 anos no mesmo nível de Portugal. Hoje de facto sofrem muito mais com a crise mas tiveram um crescimento na década anterior que nós apenas vimos nos livros. 1/3 da nossa populacão activa trabalha para o estado. A despesa pública é ainda muito grande. As instituicões não funcionam. A corrupcão dita leis. A seguranca social assegura cenários irreais, o servico nacional de saúde (que é uma autêntica dádiva não reconhecida por todos nós) não faz a mínima gestão de dinheiro público. Sou, como é óbvio, a favor de um sistema público de saúde e de uma seguranca social que ajude quem está por baixo. O que não concordo é que se cave um buraco financeiro para 5 geracões para proporcionar 100 quando só se consegue pagar 10. Quantas não são as situacões em que o subsidio de desemprego compensa mais do que um salário a trabalhar? Quantos anos pode alguém viver desse subsídio? Como pode uma pessoa de baixa receber o mesmo (ou mais) do que se estiver a trabalhar?
Como podem as licencas de paternidades serem pagas a partir do salário bruto? Como é que se pode mandar fazer todo o tipo de exames (raio-x, ecg, eco, etc) ao primeiro sinal de constipacão?
Tudo isto custa dinheiro que o nosso país não consegue suportar. É tão simples quanto isso.
Claro que preferia que tivéssemos as condicões que hoje em dia temos (e acreditem, são muitos boas) e um país rico. Mas isso não existe, não é possível de continuar a suportar. Convencam-se disso.
Não podemos continuar a assobiar para o lado. Temos que ter consciência que ao dizer "não quero saber, o estado tem que" estamos a falar de nós. Nós somos o estado.
Convém também referir que esta crise mundial vem em bom momento para Portugal (pelo menos politicamente). O nosso pais já estava em crise há muito. Crescimento nulo ou perto disso, para mim significa crise. A diferenca é que os desenvolvidos estão agora ao nosso lado. Mas quando a crise passar, eles continuarão a sua marcha e nós, se uma vez mais não fizermos as apostas certas, vamos continuar a caminhar para África.
E as apostas certas são estas:
- apoio do estado às PME, especialmente da área tecnológica. Há muito cérebro em Portugal.
- Investimento sério num sistema público de educacão. Temos que aumentar os índices de pessoas com cursos universitários, especialmente em áreas com emprego (acho que não é preciso voltar a este tema) e temos que criar uma rede de creches públicas. Incentivo à natalidade e corte significativo nas despesas do casal.
- As empresas têm que entrar no séc.XXI e ter uma atitude de dar e receber com os colaboradores. Dar formacão e aumentar o leque de conhecimentos destes é uma medida onde todos ganham. A velha história do pescador que usou cana a vida toda e que agora não se adapta já não pega. Há redes, há sistemas de navegacão. Ensinem as pessoas e reciclem conhecimentos. Estar uma vida inteira a apertar o mesmo parafuso é estupidificante para o empregado e é redutor para as oportunidades do empregador.
- Reducão de efectivos na administracão pública. Chega de institutos que ninguém sabe para que servem.
- Aposta no turismo de qualidade (que não significa golf e mamarrachos a tapar a praia)
- Modernizacão das redes de transportes para reduzir a utilizacão de carros
- Maior vigilância à banca para evitar novas situacões de endividamento das famílias com créditos para LCDs e viagens ao Brasil
- Combate efectivo à corrupcão
- Reforma do sistema de saúde e da seguranca social
- incentivos para o aluguer de casas
- investimentos na reabilitacão urbana e na construcão de espacos verdes

Por fim, usarei o exemplo sueco, que apesar de não ser perfeito (socialmente tem menos benifícios que o modelo português) ilustra o que digo. Terei vários meses de licenca de paternidade. Durante esse tempo o meu salário será reduzido para metade. Dos meus descontos o estado garante parte da minha reforma, o restante tenho que ser eu a desenrascar, com fundos privados, boletins do euromilhões, o que quiser. Se estiver em casa doente, o salário é pago percentualmente. Se for despedido recebo menos de metade do salário por um período que não chega a um ano.
Outro bom exemplo vem de uma empresa de referência sueca, a SAAB. Está neste momento em falência técnica e o estado recusa-se a meter lá dinheiro. São 20 anos a contar prejuízos e os contribuintes não permitem que dinheiro público seja injectado. Haverá pessoas no desemprego, haverá mais pedidos na seguranca social, mas não existirão empregos suportados por uma almofada de crédito.
A taxa de impostos é das mais altas do mundo e nem assim proporcionam o suporte social que a lei portuguesa prevê. Pagam aquilo que conseguem pagar. Parece simples mas não é. O que se consegue com isto? Consegue-se um estado rico com a capacidade de suportar o um bom sistema de saúde, uma educacão totalmente grátis (creche - universidade) e a capacidade de ajudar quem realmente precisa. Ninguém fica debaixo da ponte, mas isso é feito com dinheiro na mão e não com crédito.
As famílias Suecas viajam há 60 anos e usam dinheiro para pagar a conta. Não necessitam de 24 prestacões para pagar a viagem ao Recife. Essas mesmas famílias andam com carros com 15 anos e raramente compram um novo. Há consciência social e das possibilidades reais em cada pessoa. Se o estado é formado por essas pessoas, torna-se óbvio o porquê de tudo funcionar.
Esta não dependência do estado permite ao mesmo proporcionar um bom nível de vida a quem cá vive e permite à populacão ter espírito de iniciativa para dar um passo sabendo que nem sempre tem rede por baixo.
Dar esse passo marca a diferenca entre crescer ou estagnar.
Volto a insistir nisto. Nós não somos mais estúpidos que os espanhóis, menos inteligentes do que os alemães ou menos sensatos do que os suecos. Somos um povo de gente extraordinária. Há que limar apenas umas questões de atitude. É só isso.
Parafraseando uma amigo paquistanês "the world is our stage!"

1 comentário:

Anónimo disse...

de certa forma, admiro a tua coragem. só porque eu já desisti de ver o prós e contras - uma medida drástica tomada após semanas e semanas de ver uma enorme montanha parir um ratinho de laboratório.

o programa diz-se grande. anuncia-se como grande. mas falta-lhe objectividade, falta-lhe jornalismo sério, falta-lhe quase tudo menos uma boa dose de arrogância.

enfim.