segunda-feira, outubro 06, 2008

Wizz me

Segundo reza a história, quando Adolfo disse: "É para meter no chão!" as SS levaram-no a sério e não deixarem os seus créditos por mãos alheias.
Varsóvia foi de tal forma arrasada (nem 15% da cidade ficou de pé) que no fim da II GG os polacos pensaram em mudar a capital para outra cidade.
Desistiram dessa ideia e acabaram a meter, tijolo por tijolo, tudo no sítio num esforco de reconstrução notável.
Varsóvia é por isso uma cidade de desiquilíbrios. No centro, a cidade velha, foi inteiramente recontruída, com base em desenhos e fotografias da época. A arquitectura imita séculos passados e para quem não sabe o que por ali se passou, dificilmente imagina que a "cidade velha" tem pouco mais de 40 anos. A beleza do local mereceu a chancela da Unesco. Fora deste espaco é o caos. Blocos a perder de vista construídos pelos russos. Feios, grandes, sem cor, sem vida. Aqui e ali salta um arranha-céus construído depois da abertura ao ocidente. De um lado os gulags de Estaline, do outro lado os símbolos do capitalismo. Ideologias à parte...é tudo feio.
Aliás...basta sair uns metros da parte velha e o cenário veste-se de cinzento.
Os bairros judeus que serviram de gueto, estão hoje recuperados. Recuperados significa: com paredes. Alguns prédios mais modernos, pintados e com bom aspecto, têm normalmente guardas à porta. Outros, a cair de maduros, nem 1L de tinta. Não há um plano urbanístico. Cada prédio (ou conjunto de moradores) fala por si. Passar por aquelas ruas deixa uma sensacão esquisita. Um dos maiores dramas da nossa história comecou ali e continuou no campos de concentracão. As placas de homenagem aparecem em cada esquina. E um restaurante judeu para almocar? Isso é que era! Corremos dois bairros para encontrar um. Mais de 1h a dar à sola. Hiii...malta tramada para comer fora de casa e gastar dinheiro! Do outro lado do rio Wisla está o mercado russo. Outrora o maior mercado da europa (onde se compravam entre outras coisas artigos militares) é hoje um conjunto de barracas onde asiáticos vendem tudo e mais alguma coisa. Uma espécie de feira de Carcavelos XXL, com o papel dos ciganos desempenhados por coreanos, chineses e vietnamitas.
Escapou-me a parte russa da coisa...
O objectivo da viagem era promover o convívio entre pessoas do mesmo departamento. Tal como no ano passado em Budapeste, "farra" era a parte histórica mais procurada. De qualquer forma, sobrou tempo para passear de máquina na mão. Sempre depois do almoco, claro.
Se na vertente de camaradagem todos os objectivos foram alcancados (e eles são importantes principalmente para quem não é de cá), no contexto turístico não posso dizer o mesmo. Varsóvia é a primeira capital que não me deixa vontade de regressar. Mas também é verdade que nunca fui a Astana.
No fim, para o regresso ao lado de cá do Báltico, estava reservada aquela componente tão interessante para mim que é o convívio com o avião.
Quando entro vou, em norma, descansado. Já enchi o cv de peripécias e imagino que não há muito mais que me possa acontecer. Engano-me.
Desta vez, ao fim de 10 minutos dentro do avião ouvi uma lenga-lenga do piloto em polaco. Só percebi "Chhhh dschhh kzxhh CTRL ALT DEL sxhh erxhhh dzschhh"
Oh lá...CTRL ALT DEL? Será que em polaco isto quer dizer o mesmo?
A mesma cantiga inglês confirma. "Vamos fazer um reset ao sistema, porque o sistema de navegacão não funciona", diz o piloto.
Reset? Epá....isto parece-me pouco científico...
Tudo se desliga no avião. Escuridão e silêncio.
Ao fim de 10 minutos, a voz da seguranca: "Queríamos informar que este pequeno truque não funcionou e..."
Truque?? Mas qual truque pá?? Não quero truques! Quero sistemas de teste, metódicos, científicos, aprovados pela ONU, pela NATO e pelo papa!
"...e então vamos introduzir os dados à mão."
À mão? E se te enganas numa coordenada?
Mais um reset e 15 minutos depois: "Infelizmente não resultou e vamos trocar o computador de bordo"
Trocar o computador de bordo? Bom...podia ser um motor...podia ser pior.
"Caros passageiros, é só mais um reset e 30 minutos."
O pânico comeca a instalar-se.
Estavam 150 engenheiros electrónicos a bordo. Todos tinham uma opinião. O avião passava a ter 150 problemas em vez de um.
Atrás de mim, um viking perguntava: "olha lá, tens o service pack 2 do windows??"
Outro dizia: "Para mim isto é 50-50%".
A malta divertia-se.
Uma colega comeca a ficar mais solta e vai para o cockpit interrogar o piloto. Aproveito a boleia e ouco as explicacões do piloto.
Pergunto-lhe com um ar pedagógico: "Sim senhor, a navegacão não mexe, mas os motores estão bem? Já fez aquele teste de potência que deu barraca em Madrid?"
Percebi que não causei boa impressão. Ele lancou-me um olhar de terror.
Estávamos no mesmo barco.
Vem a resposta finalmente: "O novo computador de bordo não funciona mas entretanto ligou um senhor da Airbus que percebe mais destes computadores e disse para fazermos o reset a um de cada vez"
Aí levantei-me.
Já que o gajo da Airbus não ia pilotar o avião, comecei a fazer contas à vida.
Pedi ao gajo do lado para recolher a minha mala em Gotemburgo e levantei-me.
Entretanto, o novo reset também não funcionou e toda a gente foi recambiada para o terminal.
Vi caras sorridentes a desembarcar pela segunda vez em Varsóvia.
A minha era uma delas.
O avião é novo, o que me leva a perguntar, o que é que vocês, malta da Airbus, andam a fazer no departamento de navegacão?
Compram isso aos chineses??












































































































































1 comentário:

Inês disse...

Noto medinho na descrição :P
É por estas e por outras que eu adormeço antes mesmo do avião começar a andar :P