terça-feira, abril 15, 2008

Sempre quis ter um urso



Nas alturas de maior tormento encontro sempre os mesmos dois remédios. O primeiro, clássico e infalível é o de correr atrás de uma bola (com mais malta por perto que eu não sou doido). Desligo a massa cinzenta e confio apenas no neurónio do "passa e chuta". Transpirar ainda é remédio santo.
O outro, não tão clássico, é o de escrever sem sentido. As letras, as palavras e depois as frases, têm o seu quê de terapêutico.
Por estes dias entrego-me a uma das minhas leituras preferidas: os livros do Lonely Planet. Cada vez mais me convenco de que viajar é o que mais me fascina. Conhecer, conhecer e conhecer. Estes livros, apesar de serem guias, vêm sempre bem apetrechados do contexto histórico e político do destino em questão. Aprende-se por isso muito para além da exacta localizacão do museu X ou da igreja Y.
Um destes dias, passando os olhos no guia da Europa Ocidental parei nas páginas de Portugal. 650 por 230Km (ou qualquer coisa do género) diziam eles. Fiquei indignadíssimo. Como poderiam cometer um erro de palmatória destes? Estavam a surripiar pelos menos 200 Km pensei eu…
Fui ao Google Earth e constatei que não só estavam certos, como tinham usado a mesma ferramenta para "medir".
Só 650 Km?? Bolas…é mais pequeno do que sempre pensei…
O meu primeiro pensamento para esta nova realidade foi: quantas auto-estradas se encaixam em 650 X 230Km ?
Não tenho nada contra auto-estradas, bem pelo contrário, mas acho que "enough is enough"…
Já se podia ter comecado a tirar dinheiro do alcatrão a favor das universidades, hospitais e olha, lembrei-me desta agora, creches.
Há 15 anos atrás. Pelo menos!
Frequentemente, usam a Escandinávia como exemplo para "desenvolvimento sem auto-estradas", mas há um caso bem mais interessante: a Irlanda (Rep.).
Há umas décadas fugiam todos da fome em barcos com destino marcado: EUA.
Hoje, depois de terem usado os fundos da UE para a educacão e criacão de empresas, não conseguem ocupar todas as profissões que geram (a populacão em pouco ultrapassa os 4 milhões). Recorrem a mão de obra estrangeira e chamam de volta os emigrantes com novos incentivos (daquele que se mete no bolso).
Apesar do sucesso, continuam a usar as estradas nacionais como vias de comunicacão. A ligacão entre Dublin e Galway, duas das principais cidades, faz-se em 4h (mais coisa menos coisa). São pouco mais do que 200 km…
A estrada que as liga tem apenas uma via em cada sentido e é ladeada por muros de pedra e pastos com vacas. Para quem já foi aos Acores, torna-se fácil perceber a imagem.
Até os irlandeses, autores de frase tão famosas como: "Nada nos parará até Bagdad…a não ser que abram um pub no caminho!" conseguiram perceber o que pode e deve ser um desenvolvimento sustentado. Porque é que nós temos que ser patos bravos?
Vejo o caso "Jorge Coelho". A sensacão é de desilusão.
Apesar de se saber há muito que era um dos homens fortes dos bastidores do PS, sempre o vi como alguém que anda na vida pública para servir.
Esta passagem para a Mota-Engil não podia ter acontecido. Simplesmente não podia.
Mesmo admitindo que há obras públicas a fazer e que qualquer ministro tem apenas meia dúzia de grandes construtoras para escolher. Mesmo dando o benefício da dúvida de que foi honesto e tentou defender o Estado em cada acordo. Mesmo pensando que como qualquer profissional tem o direito de voltar para a vida privada, nunca, mas nunca poderia ter escolhido esta via. Há centenas de formas de voltar para a vida privada sem "rebentar" com a imagem. Quem tem cargos públicos de destaque, tem que perceber que certos saltos, a bem da dignidade, têm que estar proibidos. Caso contrário, verdade ou não, fica na opinião popular um calculismo total durante a vida de governante com único propósito de encontrar reformas douradas.
O porta-voz do PSD (um gajo qualquer de gravata cujo nome não me lembro) apareceu a criticar, escândalo dos escândalos, o acordo entre a RTP2 e a jornalista Fernanda Câncio, para uma série de 10 episódios sobre bairros de lata.
O argumento "não faz sentido encomendar programas a uma entidade externa" mostra que o porta-voz do PSD percebe como funciona esta coisa dos conteúdos para TV…Há que arranjar alguém para definir uma estratégia de ataque no PSD. O Menezes tem a habilidade de um elefante numa loja de vasos Ming.
Segundo consta, Fernanda Câncio já era jornalista antes de ser namorada de Sócrates…mas para Menezes, uma hipótese de crítica, mesmo que vazia vem sempre a calhar. Curioso foi ainda constatar que sobre o caso Coelho nem uma palavra. Esse sim, poderia ser alvo de crítica política, mas do PSD nem uma palavra.
Huummm…vem-me à cabeca o nome Ferreira do Amaral. Rabo preso. Bloco central no seu melhor.
Vendo daqui há um misto de tristeza e de desespero.
Tristeza porque não aprendemos nada com os nossos erros e fazemos da corrupcão um activo político. Desespero porque cada vez mais constato que Portugal não poderá proporcionar qualidade de vida aos seus habitantes (pelo menos a maioria) nos próximos 50 anos.
Esta parte dos 50 anos atrapalha-me um pouco.
Mas é só um pouco.
Enquanto escrevo ouco a confirmacão da reeleicão (com maioria absoluta!) do Berlusconi. Fantástico.
Um empresário corrupto, que usou a imunidade parlamentar para fugir aos processos que pendiam sobre si, mereceu pela 3a vez a confianca dos italianos.
Também não estão mal vocês.
Va bene, va bene...

4 comentários:

Inês disse...

Em relação ao título só me apraz dizer: antes ter do que ser :P

Em relação ao resto... Os concursos das obras públicas em Portugal são pura corrupção... A Mota tem a sorte de apertar a mão à esquerda e abraçar a direita por isso lá se vai safando...
Antes das aberturas de concursos ouve-se sempre aquelas bocas: "esta barragem foi para a OPCA? Então a próxima vai para a Somague!". É fatal como o destino...

Para alimentar a polémica deixa-me só dizer-te que a obra do fecho da CRIL foi adjudicada ao 7º concorrente em termos de preço (por 112 milhões de euros) sendo que o preço do primeiro classificado eram 97 milhões de euros.
Geralmente, os critérios de adjudicação são do género 55% preço, 35% valias técnicas e 10% prazo...
Aqueles 35% de valias técnicas são sempre discutíveis já que no preço e no prazo poucos pontos se podem dar ou tirar...

Todas as pessoas que conheço que fazem parte do departamento de orçamentos de empresas sentem-se bastante frustradas por saberem que o seu trabalho é em vão. Toda a pesquisa, todo o estudo técnico são reduzidos a zero quando as decisões passam somente pelo envelope debaixo da mesa...

Mas olha que não é só Portugal, Tiago. Em Espanha é igual e Itália também não deve fugir à regra...

Anónimo disse...

Sim. Portugal, Espanha e Itália.
O sul orgulhosamente só quando o tema são "patos bravos".
Essa da CRIL vai-me deixar aqui a moer...

TF

Unknown disse...

Isso é tudo muito interessante mas hoje... não consigo pensar noutra coisa... e o benfica????
BAH!

Anónimo disse...

o quem????
5 golos em 20 minutos???
Já só o Euro me interessa....

TF