sexta-feira, janeiro 25, 2008

A lei

Estou fã do Prós e Contras.
Não só os temas discutidos me interessam, como ali se define o rumo do país.
Sim, a Assembleia da República também é importante, mas comparativamente com a quantidade de decisões que saltam do estúdio da RTP não passam de uma reunião de tupperwares.
Nos dias que correm, a opinião pública é influenciada por espacos destes. E se não tivesse colocado um ponto final diria: ponto final.
O Sócrates deve ver cada programa de bloco de notas na mão.
A lei do tabaco.
Durante duas horas médicos, advogados, historiadores e donos de restaurantes tentaram compreender a lei.
Sá Fernandes, como bom advogado que é, procurou interpretar a lei e procurar linhas que explicassem conceitos técnicos que eles manifestamente não entendia. Aproveitou até para fazer um pouco de politiquice de alguidar, abusando da paciência daquele médico simpático e educado que se sentou à sua frente. Não é o George, é o outro com o nome cheio de Ks.
Platão apareceu na conversa e por aí se percebe a capacidade técnica dos oradores.
Os restaurantes perguntavam como podem cumprir a lei, a ASAE dizia que só precisavam do certificado de um técnico, o Sá Fernandes perguntava como se mede o ar, o George invocava Platão e o Assis Ferreira mostrava-se um benemérito colocando os casinos a cumprir uma lei "só por que nos apetece".
O governo, com as excepcões acabou por arranjar sarna para se cocar.
"Mas porque é que não tirámos as alíneas todas deixando apenas a de É PROÍBIDO FUMAR ?", perguntava Sócrates entre dois golos de um reserva do Esporão no apartamento do Marquês.
Eis que, na 3a parte do programa deixam falar um engenheiro. Estava só e por isso direi, o engenheiro.
Arrumou com as duas primeiras horas do programa dizendo que os actuais ventiladores não serviam para nada. Não basta ir um técnico ao restaurante montar um exaustor. É necessário um projecto de engenharia, que estude o espaco, veja a concentracão de fumo e conceba as melhores saídas. Em Portugal, segundo ele, só engenheiros credenciados podem fazer tais projectos.
Por acaso, são os engenheiros pertencentes à associacão que ele representa. Um detalhe.
Como era o único técnico presente, ninguém ousou duvidar. Fátima Campos Ferreira fez o resto. "Os restaurantes têm aqui a resposta que procuravam", disse. Não basta um técnico e um exaustor mas sim um projecto de engenharia assinado por um engenheiro certificado. A ASAE papou, a lei diz apenas que tem que ser alguém certificado e na falta de outro alguém aquela associacão arranjou tacho para os próximos 10 anos.
Agora, cada tasco terá que pedir a um gabinete de engenharia um projecto para limpar o fumo. A palavra projecto aqui muda tudo. Engrandece a coisa. Eis como se cria um lobby em directo.
Profissão de futuro: engenheiro que assina papéis relacionados com fumo.
Zé, aqui só para nós, não teria sido mais fácil fazer uma lei apenas com uma linha:
"É proibido fumar em todo e qualquer espaco interior de acesso público."
Aqui por cima faz-se isso e parece que ninguém se importa de fumar na rua.
E olha que faz frio pá!

4 comentários:

Unknown disse...

(de pé) CLAP CLAP CLAP CLAP CLAP!!

Micas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Micas disse...

Nem mais, é proibido fumar e basta. Aqui foi assim e ninguém fez barulho, fuma-se na rua, e cá tb faz frio!!. Excelente post

Namaste disse...

Tá demais. Parabéns.