Hoje antes de entrar no autocarro reparei num miúdo que parecia o David Bowie com 15 anos. Chapéu de aba, cabelo laranja e roupa preta. O puto tinha um certo estilo e parecia divertido. Sorria enquanto falava com duas miudas que estavam ali mesmo ao lado. Não consegui evitar olhar porque à parte toda a naturalidade o miúdo estava numa cadeira de rodas. Tal como eu esperava por um transporte público.
Os autocarros têm uma porta (no meio) para cadeiras de rodas, mas o miudo tentou entrar pela porta de trás, onde os degraus estão fixos. Sozinho não conseguiu e as miudas, ao tentarem ajudar fizeram com que caisse em cima do degrau. Riam-se de uma forma inocente enquanto as portas se fechavam automaticamente entalando o miudo que não perdia a boa disposicão com a cena. Num autocarro cheio ninguém mexeu um braco para o puxar ou sequer avisar o motorista que entretanto arrancou. A cena obviamente incomodou-me e arrastei o miudo para dentro do autocarro. Coloquei-o em cima da cadeira perante olhares que então se tinham desviado do jornal. Era como pegar num peso morto. Um puto que não devia ter mais de 15, 16 anos e não conseguia fazer algo aparentemente tão simples como subir um degrau.
Olhou para mim e voltou a sorrir, dizendo obrigado.
Assim que me passou a raiva pela falta de solidariedade daqueles breves segundos fiquei com as lágrimas no olhos imaginando o que o teria deixado assim.
Eu sei que pena é o pior sentimento que se pode dispensar, mas porra, pobre miudo.
Uma pessoa não perde muito tempo a pensar na sorte que tem. Eu pelo menos.
Todos os meus problemas deixaram de fazer sentido naquele momento.
3 comentários:
Mas depois há sempre pessoas assim especiais (como tu!) que salvam a história no fim.
N é preciso ser muito especial. O desgaracado do miudo estava entalado na porta sem se conseguir mexer (por razoes óbvias). É uma daquelas cenas que n nos deixam sequer tempo p reagir qto mais fingir q n vemos.
Olhar para aquele miudo fez-me sentir mesquinho porque 10 min antes achava que o mundo ia desabar pq estava atrasado...
As escalas onde se medem os problemas ajudam a compreendê-los.
Ainda bem que existes Tiago.
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