sábado, maio 12, 2007

Uma história

Apresento-vos o Vasa.
A história deste navio fascinou-me e por isso vou partilhá-la.
Primeiro porque me apetece escrever e segundo porque não me apetece limpar a casa.
Pode ser que dê jeito caso um dia seja sujeito ao Search&Destroy na Torre do Tombo.
O Vasa é o maior (e quem sabe único...) navio de guerra do séc.XVII em perfeito estado de conservacão. Está em Estocolmo no museu mais visitado cá da paróquia.
Qual a particularidade histórica deste navio? Ter-se afundado.
Em combate? Não, nem por isso.
O Vasa afundou 15 minutos depois de cheirar o mar pela primeira vez.
Mas voltemos ao início...
Gustavo Adolfo II, além de ter um nome giro, era o Rei da Suécia quando esta se viu embrulhada na guerra dos 30 anos. Para mostrar o seu poderio militar mandou construir o maior e melhor navio de combate alguma vez visto (estas manias das grandezas é que nos lixam sempre..."nos" como quem diz Humanidade ou homem com Ó grande). A 10 de Agosto de 1628, 12 anos depois de iniciada a sua construcão, estava pronto para largar âncora. Toda a cidade se juntou no porto para ver a armada partir em direccão ao Báltico. O Vasa, tal e qual Tolan, na primeira curva (era uma apertada) adornou a estibordo (sim, porque bombordo é a parte que fica para o lado em que se vê terra - o que se aprende quando se trabalha com malta da marinha!) e afundou-se. 12 anos a serrar madeira e 15 minutos depois, estava a obra no lado errado da linha de água.
Criou-se uma comissão para investigar e nenhum culpado foi encontrado (a eficácia das comissões é secular). Contudo, na altura não se descobriu qualquer culpado porque tinha sido o próprio Rei a meter a pata na poca.
A meio da construcão do navio e já com a parte de baixo (a que equilibra o barco) feita, Gustavo lembrou-se de exigir mais canhões. O navio que já tinha mais poder de fogo que uma 6 tiros na mão do Clint Eastwood, ficou transformado no que o Bush apelidaria hoje de potência nuclear.
O problema é que parece que cada canhão daqueles ainda pesava qualquer coisa e o fundo do barco (onde iam as pedras para o equilibrar) já não tinha capacidade para mais contra-peso.
Ordem de Rei não era discutida. Refazer o barco para tornar o seu fundo mais pesado também estava fora de questão porque o tempo apertava. Sendo assim benzeram-se e foram em frente.
O barco partiu para a viagem inaugural com pouco peso para o "encostar à água". Ao primeiro balanco virou-se e ficou a descansar durante 330 anos ali a poucos metros de uma das baías de Estocolmo.
No início da década de 50 um investigador privado (Anders Franzén) resolveu procurar o Vasa.
Foi já na década de 60 que o Vasa passou a linha de água e chegou ao porto de onde tinha saído 340 anos antes. Mais 30 anos passaram para que o navio fosse totalmente recuperado e apresentado como um tesouro mundial e exposto ao público. Mais de 30 anos a recuperar um pouco da sua história. Primeiro um investigador, depois o governo e o país.
Enquanto via o trabalho desta gente pensava em castelos que lutam sozinhos contra o tempo e pedacos de história, da nossa história, que todos os dias caiem porque "a cultura não traz dinheiro".
É obra.
E sem o Emanuel.

2 comentários:

Inês disse...

É engraçado porque penso que já tinha ouvido esta história em algum lado... Também pode acontecer em casas se decidirmos fazer uma mega-biblioteca em sítios não dimensionados para ela :P

Sandrinha disse...

"Extordinário"!