quarta-feira, abril 18, 2007

Os importantes e os outros



Para provar o que disse no post anterior fica uma imagem de uma campanha (que julgo estar a passar em Portugal) e que me parece bastante infeliz.

Não há respeito por profissões sem título.

Tão simples quanto isso!

E um bocadinho terceiro-mundista...

Ps - Há cartazes com isto nas ruas??

7 comentários:

Inês disse...

De facto estes anúncios andam a circular por aí. Nunca vi nenhum afixado mas vejo-os nos jornais todos os dias. Ora com a Judite de Sousa, ora com o Abrunhosa. É de facto, no mínimo, uma falta de respeito

Ana disse...

E também com a Maria Gambina , o Carlos Queirós...
Eu quero acreditar que o objectivo desta campanha é de facto sensibilizar os portugueses a escolherem rumos profissionais alternativos que tenham a haver com a sua vocação, uma vez que o Mundo não é feito apenas de Doutores e Engenheiros.
No entanto , a forma como a campanha está feita não é de facto nada coerente com esse objectivo. Ora vejamos : O trabalho de uma costureira não é essencial ao de uma estilista ? A mensagem do anúncio é que se uma costureira estudar e se especializar pode vir a ser uma estilista famosa e assim realizar o seu sonho . E mais uma vez parece-me que o problema está aqui. Este país , nos últimos anos , tem as suas bases acentes na fama . O alcançar a fama parece ser o objectivo a incutir aos portugueses , quando esta é tão efémera...Á conta disso , vemos centenas de pessoas a sonhar que podem vir a ser isto ou aquilo , famosas e ricas , em vez de pensarem em exercer uma profissão para a qual têm capacidade e vocação , com competência , dignidade e alegria . Essas pessoas facilmente acabam perdidas num sonho e quando um dia acordam do mesmo , têm a vida perdida ( ora vejamos o exemplo dos rapazinhos do Big Brother - que futuro podia sair dali ? E tão famosos que eles eram ! ).
Os spots acabam por ser bastante arrogantes.
Porque razão o trabalho de uma costureira não é valorizado como o de uma estilista? É que se analisarmos bem , o que seria de uma estilista sem uma boa costureira ? Porque razão a costureira se tem de tornar estilista para que o seu trabalho seja valorizado ?
Todas as profissões são dignas e cada uma deve ser exercida por pessoas especializadas e não por amadores como acontece na maioria dos casos. E a falta de fiscalização nesta área e a permissividade existente para dar empregos a quem não tem habilitações para os exercer , permite que haja grandes diferenças de ordenados,pois esse trabalho é assim desvalorizado.
Se houvesse respeito por todas as profissões e fosse exigido sempre pessoal qualificado e competente , talvez fosse possível tentar equilibrar os salários e tornar a sociedade mais funcional e feliz.
Sou a favor das novas oportunidades , com o respeito devido a cada profissão.
E um bom profissional não o é só porque tem um canudo na mão ou um lugar de destaque na sociedade ( temos o exemplo da cambada de inúteis que aparecem nas colunas sociais e que só levam à describilização do nosso país ). Um bom profissional é aquele cujo trabalho apresenta resultados positivos , é aquele que produz mais trabalho.
E mais uma vez lamento que o lema da nossa gente seja ter bons empregos , daqueles de cumprir horário , passar o dia na net e nada produzir. Já vimos que assim não chegamos a lado nenhum . Sem trabalho, sem produção , não chegamos a lado algum. Tem-se visto...

PS : Peguei no exemplo do spot da Maria Gambina ( que é uma querida ) , como podia ter escolhido qualquer outro.

eu, do alto do meu salto disse...

Há sim senhor!
Eu pelo menos já vi exactamente esse afixado numa paregm de autocarro!

Concordo com o que dizes, acho-o infeliz... vamos lá ver que efeito terá!

Sandrinha disse...

Eu vi hoje um no site da rádio comercial com o Pedro Abrunhosa!
Muito mau!

Anónimo disse...

Hoje, nas notícias das 20h00, apareceu o Manuel Alegre a insurgir-se contra esta campanha publicitária. Também o Bloco de Esquerda divulgou cartazes com jovens liocenciafdos a trabalhar nas tais profissões "menos dignas" onde só deviam estar pessoas que não tiveram acesso aos estudos. A ministra da Educação veio a terreno defender a campanha. Enfim....

Anónimo disse...

Tiago,tu que és engenheiro, estudaste, és inteligente e consegues efectuar uma análise crítica sobre o país e a sua evolução, podes certamente ter essa opinião profunda de que esta campanha é infeliz.
Mas lembra-te, esta campanha não é para ti, é para a maioria dos portugueses que são, analfabetos, iletrados e fogem aos impostos descaradmente dizendo: "ah, quer factura? então tem que pagar mais 21%"
Este é o tipo de linguagem que eles entendem!A campanha só podia ser assim.Xana

Tiago Franco disse...

Xana, eu percebo o intuito e compreendo a linguagem de choque.
Mas o problema (além da óbvia infelicidade no desrespeito a profissões não "académicas") é que até a própria campanha está errada. Nós não precisamos de mais engenheiros das obras feitas ou de historiadores do tempo que virá. Precisamos de quadros médios técnicos cuja aprendizagem é feita fora das universidades. Vê as entrevistas do Van Zeller e repara como as empresas se queixam da falta deste tipo de profissionais. Ninguém se queixa da falta de advogados ou dentistas pois não? Porquê incentivar um gajo a ir para a universidade tirar filosofia? Que emprego e futuro pode hoje em dia ter esta pessoa? 10% dá aulas e os restantes 90% dividem-se entre a telepizza e o fundo de desemprego. Perde o aluno e perde o país que aposta numa formacão que não favorece ninguém.
As coisas devem ser feitas de forma estruturada (e antecipada). Se o país estima a falta de economistas daqui a 20 anos, deve proporcionar agora condicões para uma nova geracão de especialistas e por aí fora.
Não basta ser letrado, há que ser prático e objectivo.