terça-feira, abril 17, 2007

É o costume Dr.?

Estive a ver a entrevista do Sócrates na RTP.
Comeco por dizer que o acho o melhor PM que Portugal teve em Democracia. Pelo menos desde que me lembro de ligar a estas coisas.
Fiquei com a clara sensacão que ele está com o rabo preso. O que me desilude enquanto votante.
Que me lembre, foi a primeira vez que vi o nosso PM a enrolar-se numa entrevista.
Aquela de trocar a escola mais antiga de engenharia do país (o Isel existe há 150 anos) pela UNI por causa do "prestígio" pareceu-me um pouco forcada. Contam-se pelos dedos das mãos as universidades privadas que em Portugal servem para algo mais do que retirar dinheiro aos pais. A Uni não entra nessa contagem.
Isto para não falar na história do mesmo professor (ligado ao PS) dar 4 notas de enfiada e outras coisas que tal.
O próprio assumiu que nunca teve intencão de exercer engenharia e que apenas continuou os estudos para se valorizar. Isto já acredito, mas numa versão um pouco diferente.
Nós somos o país dos títulos. Não tiramos cursos para nos valorizarmos como profissionais mas sim para termos algo antes do nome. De preferência nos cheques ou no cartão de crédito. Isto porque ao pedirmos o pastel de nata e a bica, achamos bem mais giro que o gajo do lado de lá do balcão nos chame Dr. a vida toda e nunca chegue a descobrir o nosso nome. Se funciona assim em cada esquina, na Assembleia da República não será diferente e nesse sentido, convém ter um curso qualquer, para que o nome próprio nunca venha só. É tudo uma questão de status.
Somos o país da UE que mais cursos de engenharia tem. Algumas especialidades ainda ninguém descobriu para que servem, mas já existem nas universidades do passa-para-cá-50cts-por-mês.
Temos cursos sem saída nenhuma que continuam a formar alunos para as filas do desemprego.
Tiram-se cursos de sociologia-aplicada-ao-crescimento-dos-rabanetes-em-dias-pares-de-meses-ímpares e no fim, vive-se do fundo de desemprego. Mas nos cheques que nunca são passados o nome é antecedido de "Dr."
E isso é o que parece contar.
Nós não temos canalizadores, electricistas, médicos, engenheiros, advogados, carpinteiros e alfaiates. Temos os Drs. e os outros. E ninguém quer ser "outro". Todos querem ser Doutores. Podem não ter emprego, mas fazem sucesso ao pedir a bica.
Há uma falta enorme de quadros médios e técnicos especializados no nosso país. Qualquer técnico de computadores ou desenhador industrial, arranja emprego do dia para a noite com um curso técnico-profissional. E não raras vezes bem pago. Mas nós (enquanto sociedade) não valorizamos isso. Um bom canalizador ganha fortunas, mas quem quer ter um filho canalizador?? Antes vê-lo tirar Filosofia das Aves Migratórias na Universidade do Cacém e pagar 60 cts todos os meses durante uns anos, para que ele possa escrever Dr. no impresso do centro de desemprego.
Não se discutem as qualificacões do PM. Elas são irrelevantes para a funcão. Discute-se isso sim como as conseguiu. Depois de o ouvir, fiquei ainda mais com a sensacão que a escolha da Independente não foi apenas pelo "prestígio".
Parece-me que queria um título na sociedade dos títulos e limitou-se a encontrar a forma mais rápida de o conseguir.
Certamente não terá sido o primeiro e muito menos o último.
Mas também... agora que penso nisso, o que poderia ser diferente nesta entrevista?
O que poderia ele dizer?
Que como qualquer Português queria um título?
Que lhe dava jeito para os debates não ser chamado Zé??
Que estava um professor na Uni que lhe aviava cadeiras como pãezinhos quentes??
Não. Acho que ele não podia dizer isto.
Parecia mal. Depois ainda diziam "ah e tal, uns são filhos e outros enteados!!"
Já se sabe como é o povo...não entende estas coisas do pedigree.

Ps - sim mãe, sou eu na foto.

2 comentários:

Inês disse...

Eu que nem votei no senhor não me sinto minimamente incomodada com esta situação. É-me perfeitamente indiferente, como devia ser para todos, que ele seja ou não engenheiro. E talvez fosse de valor parar de alimentar esta polémica e virarmos de vez as atenções para as atitudes do governo em vez de as virar para as "habilitações" do PM. De resto achei a entrevista extremamente fraca. Escapa o entrevistador mas a sua colega não tem o mínimo perfil para aquilo e atrevo-me a dizer que realmente só está bem para as "perguntas previamente ensaiadas" com o prof. Marcelo.

Anónimo disse...

Eu tb acho que as habilitacões n devem ser tema de discussão.
A unica coisa q me interessa é saber se ele foi honesto ou n.