Capitólio, Havana
Há pouco tempo vi o filme "Lost City" (acho que o referi algures aí atrás) e...
(...)
Calma, antes de continuar este texto tenho que fazer nova pausa cinematográfica para dizer que o "Babel" é um extraordinário filme que merece ser visto e pensado. O argumento roda em torno de 4 histórias (Japão, México, Marrocos e Tunísia), ligadas por um objecto comum, uma arma (claro que esta é a minha interpretação e vale o que vale...).
Com Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael García Bernal (dos "Diários de Che Guevara") nos principais papéis, chega-nos um drama onde a falta de comunicação, de solidariedade e de simples entendimento entre povos, retrata o nosso quotidiano.
A não perder!
(...)
...dizia que há umas semanas vira o "Lost City". Um filme que retrata a Havana dos anos 50/60 antes e depois da revolução.
A visão de Andy Garcia (que é cubano) pode ser apreciada neste filme e sinceramente, identifico-me bastante com ela.
Há pouco tempo vi o filme "Lost City" (acho que o referi algures aí atrás) e...
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Calma, antes de continuar este texto tenho que fazer nova pausa cinematográfica para dizer que o "Babel" é um extraordinário filme que merece ser visto e pensado. O argumento roda em torno de 4 histórias (Japão, México, Marrocos e Tunísia), ligadas por um objecto comum, uma arma (claro que esta é a minha interpretação e vale o que vale...).
Com Brad Pitt, Cate Blanchett e Gael García Bernal (dos "Diários de Che Guevara") nos principais papéis, chega-nos um drama onde a falta de comunicação, de solidariedade e de simples entendimento entre povos, retrata o nosso quotidiano.
A não perder!
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...dizia que há umas semanas vira o "Lost City". Um filme que retrata a Havana dos anos 50/60 antes e depois da revolução.
A visão de Andy Garcia (que é cubano) pode ser apreciada neste filme e sinceramente, identifico-me bastante com ela.
Ver este filme fez-me pensar no regime de Castro. Algo que faço com alguma frequência diga-se, sem que o consiga perceber. Por muito que se leia ou se investigue sobre a revolução cubana, toda a verdade, ideais passados e presentes, alianças e estratégias, morrerão com Fidel. Poderão os historiadores fazer o seu trabalho, mas duvido que o comum dos seres tenha alguma vez a certeza das motivações de Castro ao longo destas décadas. A não ser que seja um iluminado como o Luís Delgado...mas isso já é outra história.
O caminho para o trabalho foi feito no meio desta teia.
O período de Baptista foi terrível para o povo cubano e a revolução dos "barbudos" não trouxe o que se esperava.
Parece-me quase senso comum, mas não o consigo entender na sua totalidade.
Confesso-me um admirador da história cubana e do romantismo que envolve o M26 (Mov. Revolucionário 26 de Julho) .
Em teoria tudo parece simples. Evitando os chavões "imperialistas", direi apenas o que a história confirma: Baptista era um fantoche dos EUA e Havana uma espécie de casino de Miami. Lavagem de dinheiro, jogo e muita prostituição.
Algumas famílias devidamente alinhadas e com boa vida, miséria e mais miséria para a maioria do povo cubano.
Querer derrubar um regime destes e devolver o país aos seus, é ideológicamente perfeito e acho que ninguém contesta isso. A forma como foi feita a revolução, o discurso de Fidel em sua própria defesa (o famoso: "A história me absolverá"), a vida na Sierra Maestra, o mito de Che Guevara, tudo isso ajudou a criar uma simpatia (pelo menos para mim) em torno deste movimento. O pior vem depois.
Tento perceber o que move ou o que moveu Fidel. Pura paixão pelo país? Sentido de justiça? Sede de poder?
Eu até acho que as suas convicções foram mudando com as alterações no xadrez político do globo.
É preciso não esquecer que foi Washington a primeira capital a reconhecer o governo dos "Barbudos". O corte de relacções que mais tarde aconteceu, numa altura de Guerra Fria, obrigou-o a escolher o "outro lado".
Criado que estava o inimigo, havia que o enfrentar e fortalecer a posição interna. Nunca entendi por exemplo porque ficaram os Cubanos privados da sua liberdade. Porque não podem circular livremente? Hoje se pudessem, Fidel ficaria praticamente só, mas no início não foi assim. Com a política certa ninguém sairia da sua terra natal, não mais do que em qualquer outro país.
A medicina em Cuba é verdadeiramente fabulosa. A percentagem de académicos é muito elevada mas a partir daí nada mais funciona. A queda da URSS deixou Cuba à sua mercê e dos turistas e nos últimos anos, as trocas médicos-por-petróleo com a Venezuela, foram um verdadeiro balão de oxigénio.
O que interessa ser médico se o salário obtido a carregar malas num hotel é tremendamente superior? O que interessa ter uma taxa quase nula de desemprego se para isso é necessário colocar 5 pessoas nas tarefas de uma? Não há produtividade e a economia gerada na ilha não aconchega sequer os problemas do embargo.
Circulando nas ruas de Havana dificilmente se encontra um polícia magro. As forças de intervenção estão sempre bem alimentadas. O museu da revolução tem em cada parede frases escritas pelo próprio Fidel e dezenas de gráficos comparativos do antes e depois da revolução. Claro que segundo estes o "céu" chegou depois de 1959.
Na rua, as pessoas falam olhando para os lados. Há medo.
Sem querer ser simplista, isto são sinais de que o regime político é uma ditadura.
Há relatos de como os comandantes da revolução foram afastados (Che, Cienfuegos, etc), numa tentativa de justificar a sede de poder dos irmãos Fidel. Imagino que nunca a verdade chegará a nós. Fidel sabe o que sente, mas certamente não o dirá.
Para quem imagina o romantismo da revolução, passear em Havana traz a lágrima e a constatação que não é bem assim.
Antes de 59 viviam um inferno e depois da chegada de "El Comandante", os cubanos também não viram o céu.
Eu continuo a achar que a revolução tinha o seu lugar na história. Foi uma oportunidade para um povo. Apenas uma oportunidade, infelizmente não mais do que isso.
Parece-me quase senso comum, mas não o consigo entender na sua totalidade.
Confesso-me um admirador da história cubana e do romantismo que envolve o M26 (Mov. Revolucionário 26 de Julho) .
Em teoria tudo parece simples. Evitando os chavões "imperialistas", direi apenas o que a história confirma: Baptista era um fantoche dos EUA e Havana uma espécie de casino de Miami. Lavagem de dinheiro, jogo e muita prostituição.
Algumas famílias devidamente alinhadas e com boa vida, miséria e mais miséria para a maioria do povo cubano.
Querer derrubar um regime destes e devolver o país aos seus, é ideológicamente perfeito e acho que ninguém contesta isso. A forma como foi feita a revolução, o discurso de Fidel em sua própria defesa (o famoso: "A história me absolverá"), a vida na Sierra Maestra, o mito de Che Guevara, tudo isso ajudou a criar uma simpatia (pelo menos para mim) em torno deste movimento. O pior vem depois.
Tento perceber o que move ou o que moveu Fidel. Pura paixão pelo país? Sentido de justiça? Sede de poder?
Eu até acho que as suas convicções foram mudando com as alterações no xadrez político do globo.
É preciso não esquecer que foi Washington a primeira capital a reconhecer o governo dos "Barbudos". O corte de relacções que mais tarde aconteceu, numa altura de Guerra Fria, obrigou-o a escolher o "outro lado".
Criado que estava o inimigo, havia que o enfrentar e fortalecer a posição interna. Nunca entendi por exemplo porque ficaram os Cubanos privados da sua liberdade. Porque não podem circular livremente? Hoje se pudessem, Fidel ficaria praticamente só, mas no início não foi assim. Com a política certa ninguém sairia da sua terra natal, não mais do que em qualquer outro país.
A medicina em Cuba é verdadeiramente fabulosa. A percentagem de académicos é muito elevada mas a partir daí nada mais funciona. A queda da URSS deixou Cuba à sua mercê e dos turistas e nos últimos anos, as trocas médicos-por-petróleo com a Venezuela, foram um verdadeiro balão de oxigénio.
O que interessa ser médico se o salário obtido a carregar malas num hotel é tremendamente superior? O que interessa ter uma taxa quase nula de desemprego se para isso é necessário colocar 5 pessoas nas tarefas de uma? Não há produtividade e a economia gerada na ilha não aconchega sequer os problemas do embargo.
Circulando nas ruas de Havana dificilmente se encontra um polícia magro. As forças de intervenção estão sempre bem alimentadas. O museu da revolução tem em cada parede frases escritas pelo próprio Fidel e dezenas de gráficos comparativos do antes e depois da revolução. Claro que segundo estes o "céu" chegou depois de 1959.
Na rua, as pessoas falam olhando para os lados. Há medo.
Sem querer ser simplista, isto são sinais de que o regime político é uma ditadura.
Há relatos de como os comandantes da revolução foram afastados (Che, Cienfuegos, etc), numa tentativa de justificar a sede de poder dos irmãos Fidel. Imagino que nunca a verdade chegará a nós. Fidel sabe o que sente, mas certamente não o dirá.
Para quem imagina o romantismo da revolução, passear em Havana traz a lágrima e a constatação que não é bem assim.
Antes de 59 viviam um inferno e depois da chegada de "El Comandante", os cubanos também não viram o céu.
Eu continuo a achar que a revolução tinha o seu lugar na história. Foi uma oportunidade para um povo. Apenas uma oportunidade, infelizmente não mais do que isso.
5 comentários:
Eu não vi polícias magros mas também não vi ninguém com fome... E também não senti o medo que falas, pelo contrário. Os cubanos parecem-me serenos, mas não assustados e muito menos resignados. Mas se calhar são os meus olhos ;)
Eu falei bastante (e continuo a falar) com um pintor (eng. físico por sinal :)) e ele olhava pela janela quando se referia ao Fidel.
O facto de não poderem comandar o seu próprio destino, é na minha opinião, uma fatalidade. Em cada bairo de Havana central (que não é uma zona de passagem de turistas) existe um vigilante (a casa está identificada e tem um nome que não me lembro) para controlar as pessoas do bairro e precaver revoltas. Eu enquanto turista n senti qq medo, mas notei medo do outro lado e alguma revolta. Foi esta a sensação que trouxe.
De facto não há ninguém com fome (por 1 eur come-se), mas há uma grande diferença entre aqueles que chegam à moeda estrangeira e aqueles que têm que viver com o peso cubano.
Eu sou um defensor da revolução, mas acho que ela não cumpriu tds os seus propósitos.
Caro Tiago,
em primeiro lugar parabéns pelo blog.
Em segundo, gostaria de deixar um comentário:
Cuba é sempre vista de duas formas: ou é tudo muito bom ou é tudo muito mau, dependendo sempre das concepções que cada um tem.
De facto, poucos são os que olham para Cuba de uma forma desapaixonada, minimamente objectiva.
Cuba é uma ilha do Caribe, este é o primeiro dado objectivo que importa analisar.
Estamos a falar da América Latina, de um País que deveria ser comparado com os países vizinhos e não com outros.
Nesse contexto regional, observe-se o que se passa à volta: Jamaica, Bahamas, Rep.Dominicana, Haiti, Porto Rico, etc, etc.
Nessa comparação Cuba ganha em todos os indicadores de desenvolvimento humano.
O que não é possível é comparar Cuba com a Suécia, com Espanha ou Portugal.
Outro dado objectivo é o bloqueio e as múltiplas dificuldades que ele impõe ao povo cubano.
Quanto às questões da liberdade e da democracia, importa ter em conta alguns dados: sendo o sistema eleitoral diferente do nosso, em Cuba existem eleições livre e certificadas por instituições e observadores internacionais - veja-se documentação da ONU sobre a matéria.
Se Cuba fosse de facto essa ditadura de que falam poderiam os chefes de Estado presentes na Cimeira Ibero-Americana visitar em suas casas os chamados «dissidentes»?
Poderiam as pessoas falar bem ou mal da Revolução consoante as suas opiniões? (falei com várias, comvárias opiniões)
A Revolução Cubana terá os seus defeitos, as suas insuficiências, os seus errros.
Mas, a Revolução e a resistência do Povo Cubano às diversas tentativas de liquidar a sua soberania nacional, a sua vontade de prosseguir a Revolução e de construir o seu caminho é um exemplo a ter em conta.
Uma pequena incorrecção: nos bairros e nas fábricas existem CDR (Comités de Defesa da Revolução) que são uma organização popular de base, com órgãos eleitos pela população, cujo objectivo está longe de ser o de reprimir as populações.
A Revolução Cubana constrói-se a cada dia e a Revolução tem mais apoio popular do que se possa imaginar.
Lembre-se o caso de Elian ou mais recentemente dos 5 heróis cubanos presos nos EUA e veja-se o apoio popular.
Cuba é de facto uam realidade complexa que se constrói diariamente.
Analisá-la desde a nossa Europa com o minimo de objectividade é difícil, quase impossível.
Eu tenho a consciência da minha falta de imparcialidade e objectividade ao tentar ser o mais objectivo possível.
Eu estou com Cuba, com o seu Povo e a sua Revolução.
A resistência e a vitória de Cuba é para mim um exemplo, a prova de que poderíamos construir um País (certamente muito diferentes de Cuba), mas igualmente solidário com os outros Povos, igualmente concentrado na busca de soluções colectivas que não passassem pelo aumento das desigualdades e injustiças, igualmente tendo por objectivo a construção de uma sociedade sem explorados nem exploradores.
Quanto aos erros e insuficiências da Revolução Cubana espero e estou convencido que os próprios saberão corrigi-los e superá-los, Cuba com todas as conquistas sociais já alcançadas pelo seu Povo, conseguirá ir mais longe, passar para outra etapa.
Um País que sofrendo um bloqueio de uma super potência consegue manter das conquistas sociais a funcionar é admirável, em Portugal sem nenhum bloqueio corta-se precisamente onde os cubanos investem: na educação, na saúde, na segurança social.
acho que já escrevi demais, peço desculpa pelo espaço ocupado.
Um abraço.
Caro Rib,
muito e muito obrigado pelo comentário.
Debatendo e aprendendo.
1 abraco
Tiago
Caro Rib,
um pequeno comentário mais.
Concordando com quase tudo oq ue escreveu, 3 notas:
- Eu sou favorável ao mov.rev.Cubano.
- Os CDR podem ter base popular, mas a verdade é que um opositor do regime não fala livremente
- Um Cubano não pode sair de Cuba quando quer a não ser que alguém se responsabilize por ele (isto significa pagar a gov. uma elevada quantia em dinheiro)
Estes são factos que na sua visão talvez estejam nas "imperfeicões" da revolucão. Para mim são plataformas de desenvolvimento humano. Tudo comeca na liberdade.
Quanto ao resto: medicina (produzem os seus próprios genéricos), educacão, formas de sobreviver ao bloqueio,melhores indicadores do Caribe,etc, estou completamente de acordo.
abraco
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