sábado, março 08, 2014

Belmiro, e se aproveitasses a feira de enchidos do Continente?


Reza a lenda que Otelo Saraiva de Carvalho, naquela altura quente do PREC, em conversa com Olof Palme (antigo PM sueco assassinado na década de 80) lhe disse que em Portugal tentariam acabar com os ricos. O sueco estranhou a frase e respondeu: "Nós na Suécia estamos é a tentar acabar com os pobres".
Não faco ideia se isto aconteceu mesmo e tenho alguma dificuldade de imaginar Otelo a falar com Olof Palme mas enfim, o Relvas está de volta, o Sol brilha em Gotemburgo e o mundo afinal não é plano. Vale tudo.
Isto tudo para dizer que nada me move contra os ricos. Até gostava de ser um deles, mas isso sou eu que, como é sabido, tenho problemas do foro interno.
Alguns são mais irritantes, como aquele do "aguenta, aguenta" ou o cepo do Pingo Doce, mas outros há, como é o caso do camarada Belmiro, com quem manifestamente simpatizo.
Parece-me uma pessoa séria e que trilhou o seu percurso sem grandes favores. Bem sei que é a mesma argumentacão das velhas de aldeia que votam no Portas pela cor da gravata, mas adiante.
Ora...o camarada Belmiro disse esta semana uma daquelas asneiras que, aqui e ali, a todos borra a bota.
"Os salários só podem aumentar quando a produtividade dos Portugueses aumentar". Cito de cabeca, talvez a ordem das palavras não seja a mesma mas, estou certo, a mensagem é esta.
Esta frase além de falsa, é de uma idiotice tal que não fica bem num homem inteligente como Belmiro de Azevedo. Aliás, o que ele diz é quase uma impossibilidade matemática.
Bem podem os Portugueses trabalhar de Sol a Sol, que não verão (na sua maioria) aumentos significativos nos próximos anos. Bem pode o filho de Belmiro produzir metade do que produz uma "caixa" do Continente, que nem por isso deixará de ver o seu salário subir.
O empobrecimento da populacão não está relacionado com a produtividade da mesma. Dizer isso é o mesmo que culpar os Alentejanos pelo buraco da camada de ozono, só porque têm a pele mais escura.
Não Belmiro, desta vez tinhas ficado com o escafandro a nadar na caixa-forte e vociferavas menos. Era só isso.
Os salário não podem subir porque acumulámos 30 anos de enganos, erros, desvios colossais de fundos europeus, apostas erradas (estradas em vez de educacão), destruicão do aparelho produtivo, politicas de incentivos às PME sem vigilância, corrupcão absolutamente impune, jogos de favor entre Estado e privados do aparelho.
Chegamos a 2014, quase 30 anos depois da adesão à UE, sem largar a prateleira dos paises pobres, sem conseguir criar riqueza (qual foi a ultima vez que o nosso crescimento chegou aos 2%???), com uma taxa baixíssima de universitários, com uma dívida externa galopante, com necessidade de importar para comer e, créme de le créme, com um custo de vida (casa, transportes, escolas, bens de consumo) ao nível da europa civilizada.
Continuamos a ser um povo inculto que se preocupa com as casas dos segredos e que debate até à exaustão as calinadas do Jesus, mas que não perde 2 minutos a tentar perceber o maior assalto colectivo da nossa história que foi o BPN.
Estamos onde estamos por culpa própria mas nem por isso a frase de Belmiro passa a fazer sentido. Basta usar a contra-prova mais batida: "Ora vê lá como se comportam os Portugueses no estrangeiro".
É isso Belmiro. Não falo por todos, mas falo pelos que conheco, que já são umas dezenas largas. Trabalham menos horas, estão mais tempo com a família, são funcionários exemplares e recebem, no mínimo, 3 vezes mais do que receberiam em Portugal. Compreendes ou queres um boneco?
Pior do que ouvir estas asneiras é ver o séquito de sanguessugas que de imediato as tomam como verdade absoluta. Os escudeiros do regime, com Camilo Lourenco à cabeca (esse é outro que me enerva de Segunda a Sexta, mas fica para outras linhas!), logo aparecem à boleia de toda e qualquer palavra que aceite o empobrecimento da populacão, a troika ou os cortes como inevitáveis
Tentaram convencer a populacão que viveram acima das suas possibilidades, agora tentam passar a mensagem que não há volta a dar ao empobreciemnto geral. A bem da Nacão.
Entretanto vão pagando, com impostos, os crimes que outros cometeram e, na classe que decide, nada se altera. Regalias, PPPs, reformas.
Gregos não aceitaram e partiram tudo. A dívida foi renegociada.
Islandeses não aceitaram pagar os crimes de politicos e banqueiros. Meteram os responsáveis na cadeia.
Nós, baixámos até se comecar a ver a cor das cuecas e continuamos, cantando e rindo.
Entretanto, governantes e comentadores do regime, vão validando a velha máxima: "é preciso mexer muito para que nada se altere". Pelo menos para quem decide.

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