terça-feira, agosto 07, 2012

Jogos Olímpicos do Rectângulo



Adoro os Jogos Olímpicos. Acompanho-os sem qualquer fervor clubistico ou patriotismo de pacotilha. Vibro com jogos de badminton entre chineses de quem nunca ouvi falar, deliro com as provas de velocidade, os saltos para a água, os ginastas no "all-around". A resistência dos quenianos, as bracadas do Phelps, a descontracao do Bolt. É uma competicão, provavelmente a única, onde admiro o desporto e os praticantes, pela sua excelência e capacidade de superacão.
Acho ridiculo quando o meu clube se tenta associar a medalhas (Di Maria, Vanessa Fernandes ou Nelson Évora) e também me custa ler/ouvir comentários dos nossos atletas e de quem os segue. De uma forma ou de outra perdem o bom senso. Somos um povo de extremos.
Disse um atleta português, João Rodrigues se não me engano, "onde estavam estes portugueses que tanto nos criticam durante 4 anos?". Ora...o rapaz tem o seu quê de razão. A esmagadora maioria dos portugueses sabe o nome dos 10 argentinos que formam o plantel do Maior (há quem o conheca por "Glorioso" também) mas, da comitiva olímpica conhecerão, na melhor das hipóteses, a Telma Monteiro e mais 3.
Nem sabemos em que modalidades vamos competir mas queremos medalhas. "Salto em longitude está lá? E não chegaram à final?? Bandalhos!!"
De Agosto para a frente, venha de lá o Porto - Nacional com metade da equipa insular a ter ataques de sono. Voltamos à vidinha e dos Jogos Olímpicos recordamos Bolt, Phelps e a Rosa Mota, que também não esteve mal.
Eu sou o típico português, assumo. Mas não fico aborrecido com as prestacões lusas porque não espero nada delas. Nem sei quem eles são ou que resultados relevantes tiveram nos últimos anos.
Portanto, tudo bem, facam o vosso melhor e ponto final. Não acompanho o coro de críticos que exige sem saber o que está a pedir.
Por outro lado, a ladaínha de desculpas que ouco do COP e dos atletas, faz-me perder alguma da simpatia.
Ninguém vos exige nada, tudo bem, mas, com o devido respeito, metam a conversa dos coitadinhos...bem, já perceberam o alcance.
Argumentos como "país pequeno", "base de recrutamento muito limitada", "pouco apoio financeiro", "atletas amadores", "falta de condicões" e mais uma série de baboseiras, já não fazem sentido.
Sim, é verdade que Portugal não investe muito no desporto. Não é um país que use a vertente desportiva para se mostrar ao mundo, como faziam por exemplo os satélites da URSS. Mas também é verdade que nem todos os atletas são amadores, que as condicões de treino são muito melhores hoje do que há 20 anos e que, para a crise que Portugal atravessa, o apoio não acompanha a realidade do país.
As condicões não são as melhores, é um facto, mas as prestacões (na sua maioria) nem essas condicões justificam.
Há também uma questão de fibra, de querer, de vontade e de coragem que infelizmente não está no ADN do nosso povo. É por isso que vibramos com os feitos de Carlos Lopes, Rosa Mota, Fernanda Ribeiro, Vanessa Fernandes ou Nelson Évora. São momentos raros que escapam à mediocridade reinante. Nós não somos um país de Carlos Lopes mas sim de Mamedes.
Quando Obikwelu foi descoberto nas obras no Algarve já tinha medalhas no CV. As condicões na Nigéria seriam tão boas que preferiu ir para as obras? E os quenianos ou etíopes que varrem as provas de resistência no atletismo? Também recebem condicões espectaculares de treino? Toma lá uns ténis e foge que vou soltar os leões.
Lembrei-me, "mesmo ao acaso", de um país que contraria todos os nossos queixumes: a Estónia.
Do tamanho do Alentejo, com uma populacão menor que a grande Lisboa, muito mais pobre do que Portugal e ocupado quase 60 anos por uma potência estrangeira. Estiveram presentes nos JO até 1936 e a partir de 1992 (quando voltaram a ganhar a independência). Neste período conseguiram mais de 30 medalhas enquanto que nós, em 100 anos, só conseguimos 22. Qual é a desculpa? Comem mais salmão?
São rijos. Não tremem. Nós preferimos o queixume, a lamúria, a desculpa.
Telma Monteiro é uma atleta excepcional. Colecciona títulos europeus e mundiais. Tem todas as condicões de treino que precisa. Chega aos JO e nem passa a primeira ronda. Azar? Ao fim de 3 participacões, desculpem, já não é azar. E eu gosto muito de Telma Monteiro.
Parece-me que nos encolhemos nos grandes momentos. "Temos medo de vencer", como alguém escreveu.
Sim, há mérito em quem trabalha na fábrica e se esforca por conseguir um mínimo olímpico. Há mérito em quem tropeca, cai e recupera o suficiente para conseguir um apuramento. Admiro-as.
Mas, ao fim de 100 anos de jogos olímpicos, temos que reconhecer que as nossas prestacões são pouco mais do que misaráveis. Há que assumir e não ter medo de o dizer.
Por mim, continuarei a não esperar qualquer feito relevante de um atleta olímpico português. Não exijo medalhas e espero que o país (leia-se erário público) evolua também nas condicões de trabalho que proporciona. Tudo bem.
Em cada desconhecido com as cores portuguesas esperarei por um novo Carlos Lopes. E não é por achar que precisamos de alegria para esquecer a crise. É por gostar de ouvir o nosso hino.
Mas parem com o nacional derrotismo. Poupem a ladaínha dos apoios, do dinheiro, dos estágios, da pista coberta, da casa das seleccões e da interminável lista de desculpas. Muitos fazem melhor com metade do apoio, por isso, corram, não se queixem e ninguém vos pede mais nada.
Forca para 2016.

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