quarta-feira, julho 25, 2012

Este país não é para velhos


Quantos pedaços de prosa não se iniciaram já por baixo deste título? Gosto que alguém baptize uma canção, livro ou filme para que todos possamos abusar dos direitos de autor.
Imaginem os pais do Ola John. "Mas que nome vamos dar ao miudo?", pergunta o pai. "Olha, só se fosse um para encher a capa de ABola de trocadilhos durante 1 ano!", disse a mãe.
"Este país não é para velhos" aparece de quando em vez na pena dos mais conceituados cá do rectângulo. Vou imitar. Porquê? Ninguém imagina esta...porque me sinto velho! Surpreendente não foi?
Aqui "há atrasado" (para quem me lê a Norte não se perder), tinha eu 23 anos, quando uma senhora na empresa CBE (ou qualquer coisa deste género - eram uns estica-cabo da construção civil) me disse: "mas você já tem 23 anos...o que é que tem andado a fazer?".
Foi a primeira vez que me senti velho. Tive o primeiro choque cultural (em Gotemburgo) quando perguntei a um colega, "mas se este é o teu primeiro emprego e tens 30 anos, o que é que andaste a fazer antes?". Resposta: "Dei 5 voltas ao mundo".
Aí está...algo que me escapou na entrevista com a senhora da CBE. Ou seria CBS? Não, esses são aqueles americanos dos jogos de futebol com as mãos.
Este ano lembrei-me de comprar uma palhota em Portugal. Foi a minha ideia mais duradoura. Quase 10 dias!
Não a que está na fotografia (aquela praça perdeu o encanto!) mas sempre por ali, onde a noite é mais estrelada.
Corri todos os bancos. E quando digo todos, incluo o BPN. "Não, não...nós agora somos BIC. Sabe, estamos no meio da fusão!". Como aquela do Songoten com o Trunks?
Não. Parece que é outra feita com os vossos impostos e mais não sei quê. Lucros para os angolanos e capitais tóxicos para o Estado. Não percebi bem. Atrapalho-me sempre com a química.
Em todos os bancos, um problema. Para alguns sou velho. Para outros o crédito habitação não é hipótese. Uns exigem que viva cá. Outros pedem fiador. Uns oferecem spread de 6% outros de 4% e dizem que é espectacular.
"O meu é de 0,5%", digo. "Ó amigo...isso é chão que já deu uva!!", ouço.
Interrogo-me...se não querem emprestar dinheiro para casas, vivem de quê? Repito em voz alta. Diz o camarada do Banif: "neste momento temos que receber um porco para dar um toucinho".
Puxo da máquina e faço contas.
"Camarada, desta forma acabo por pagar a mesma casa 3 vezes...para toucinho não está mal..."
No banco seguinte a mesma lenga-lenga. E outro. E mais um.
Vou beber um café e comer um pastel de nata. Algo não bate bem.
Todos os bancos aprovam o crédito, é um facto, mas em todos terei que passar os próximos 20 anos só a pagar juros. Está tudo doido.
Por um lado querem que os emigrantes metam dinheiro no país. Por outro querem que os salários apareçam na CGD. Se for para mandar remessas de nota para cá, tudo bem, se for para pagar uma casa, tudo mal.
Alguém em Portugal tem que ser responsável. Sim...tudo bem com isso de emigrar, mas se queres torrar algum por aqui, tens que ter um familiar com desafogo financeiro como garantia. Portanto...filhos do Belmiro e do Champalimaud, tudo bem, se emigraste porque já eras pobre cá...paciência. Ninguém te mandeu nascer à sombra do chaparro.
"Passámos do 8 para o 80", repetem os senhores de gravata. Não amigos...vocês passaram de burros a extremamente burros. Tentam corrigir um erro (crédito ao desbarato) com um novo erro (crédito com juros de morte).
É para isto que o país se está a endividar? Para capitalizar uma banca que se recusa a emprestar?
E, pormenor importante, esta confusão toda para um empréstimo de 50% do valor do imóvel.
Quando me lembro que há 11 anos me emprestaram o dobro e nem um salário eu tinha...
Nova dentada no pastel de nata. Nunca me desilude esse companheiro.
Eis que vejo uma notícia. "A Grécia vai sair do Euro lá para Setembro". Alto e pára o baile!
Ora...isto dá-nos o quê? Um ano? Dois no máximo?
Voltamos ao escudo e claro que teremos que o desvalorizar para conseguir mexer com a economia interna. E o que é que isso quer dizer? Que a moeda estrangeira (não só o euro) comprará mais em Portugal pelo mesmo valor que hoje compraria.
Sentemo-nos então. O vento está a favor.


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