quinta-feira, junho 21, 2012

Os hutus portugueses



Sorrio sempre que ouco as nossas elites pensantes. Aliás, quanto mais os ouco, mais confirmo que somos um país de analfabetos. Qualquer badameco diz as maiores atrocidades na praca pública e nós, os "simples" eleitores, aceitamos tudo como verdade absoluta. Será da gravata? Será por terem espaco de antena? Será porque já nos habituámos a ver e ouvir as mesmas personagens desde que o outro caiu da cadeira?
Somos gente boa e de "deixa andar". Para quem tem dois dedos de testa, consegue articular umas frases e tirou um curso qualquer de merda numa privada, Portugal é um filão inesgotável.
Cadilhe, outro daqueles que gosta muito de "pensar Portugal" (desde que toque aos outros a factura do pensamento), deixou na AR mais uma sugestão para reduzir o défice: taxar a riqueza do país em 4%. Um imposto de "shot" como lhe chamou, ou seja, pago todo de uma só vez. Como se aplicaria, quem ficaria isento? Os detalhes ficam para depois que ele ainda não teve tempo para pensar em tudo...
E porque é que somos boa gente? Porque acreditamos. Li e ouvi opiniões de anónimos. "Já era tempo de os ricos pagarem a crise!" diziam.
E é por isto que o Cadilhe, o Nogueira, o Cavaco, o Borges, o Passos, o Vara, o Portas, o Isaltino, o Relvas, o Catroga e mais uma série de inúteis, gozam uma vida de previlégio com o dinheiro público enquanto exigem esforco e sacrifício a quem lhes paga. Não deixa aliás de ser curioso verificar que os únicos que não pagam esta crise (em Portugal e no Mundo), são exactamente aqueles que a criaram. E tudo bem...seguimos caminhando perante o roubo.
Cortam salários e reduzem o apoio social. Muito bem, e do vosso lado? Nada? Todas as semanas leio notícias que fariam as delícias do Portas se ainda estivesse na oposicão. Ministros que contratam assessores com salários milionários (pagos 14 vezes), Reformas acumuladas, as eternas PPPs, o enterro do país por causa de um banco de merda onde os barões do PSD multiplicaram lucros durante anos. Os velhinhos, os polícias e os agricultores. Onde andas tu agora Portas da lavoura?
Quantos institutos cheios de "boys" já encerraram? A frota de carros? Já a trocaram pelo L123?
Austeridade sem um fim à vista e um país de regresso aos anos 50. E nós, boa gente, continuamos a acreditar.
E volto à sugestão de Cadilhe. Qual é o problema de taxar a riqueza num imposto extraordinário de "solidariedade"? Nenhum. Não há qualquer problema. E dizer que "o dinheiro ia directamente para abater a dívida externa" até fica bem no fim da frase. Mas pensemos...que riqueza é que ia ser tributada? Há ainda algum milionário com capitais em Portugal? Há alguém, entre aqueles que lucram com esta crise, que se disponha a "ajudar" o país? Não, claro que não.
Posso estar a ver mal mas, a não ser que a cobranca chegue às off-shores, os únicos "ricos" que vão largar os 4% são aqueles desgracados que andaram a poupar uma vida inteira e conseguiram acumular 2 salários do Catroga para a velhice. É essa a "riqueza de Portugal" que seria taxada de uma só vez.
Não existe dinheiro, é uma evidência. É preciso revirar cada bolso para arranjar forma de combater o défice...tudo certo. Não o condeno. Mas porque razão uma minoria pendurada na máquina estatal, decide, exige e penhora a vida da maioria? Ou seja, porque razão não são os sacrificios verdadeiramente distribuidos? Porque é que permitimos que o roubo continue?
Se a maioria da populacão está a empobrecer e a perder qualidade de vida, enquanto uma minoria mantém o luxo e outra minoria enriquece, o que é isso senão um roubo organizado?
O Borges, um daqueles inúteis que enriquece à custa das sanguessugas partidárias, diz que o caminho para sair da crise é o "empobrecimento da populacão". E diz isto sem se rir e sem levar duas bofetadas logo de seguida. É parte da minoria que decide o quão miserável deve ser a "populaca". Mas afinal, onde estamos nós? No Ruanda? Seremos os Hutus lá da rua?

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