segunda-feira, outubro 03, 2011
A pensão
A semana que passou foi de alguma complexidade para mim. Tudo seria mais simples se eu tivesse algum jeito para dizer "adeus" mas, decididamente, não é essa a minha praia.
Ao fim de quase 5 anos (todo o tempo que vivi em Gotemburgo) resolvi mudar de emprego. Nada de muito sério ou problemático. Quis apenas trabalhar na área que estudei no século passado (telecomunicacões) e achei que, ao fim de 10 anos de espera, os cremes de beleza já não tinham o mesmo efeito. E pronto. Amigos como antes e mudo-me para o tasco da fotografia.
O facto de mudar de emprego obriga a uma série de "ajustes" que, vá lá, me aborrecem. Burocracia e papelada agradam-me tanto como tertúlias com grupos de forcados.
Um desses ajustes "tem que ver" (sempre quis usar esta expressão PPD/PSD) com a reforma. O sistema sueco é ligeiramente complicado (pelo menos para mim). O governo sueco (através dos impostos) paga uma parte da pensão e os descontos do empregador (para fundos privados) pagam outra parte. Juntos não chegam a 60% do salário pelo que PPRs são bem-vindos.
Sentei-me em frente a uma senhora, funcionária do banco que recebe os fundos para a minha pensão, para ouvir todas as explicacões necessárias. Enquanto ela me ensinava o funcionamento dos mercados eu, com a minha capacidade de concentracão habitual, comecei a pensar no 25 de Abril.
"A pensão será 60% do salário" pensava eu enquanto acompanhava com um f*§&% virtual. Nessa altura percebi claramente a diferenca do método usado pelos arquitectos da Seguranca Social Portuguesa e pelos vikings. Os últimos, provavelmente, não fizeram as contas depois de 3 garrafas de tinto e, aqui digo-o com alguma certeza, usaram uma máquina de calcular.
A matemática é simples e não engana. A pensão é bem mais pequena (em %) o que estimula a poupanca das familias. Ninguém passa fome e o sistema não entra em ruptura. Em Portugal o cálculo é feito pelos últimos 10 anos de trabalho certo? As reformas são garantidas entre 80 e 100% se não me engano. E nem sei se existe um tecto máximo ao contrário do que acontece por estes lados.
Mas enfim...é também por isso que o país está falido. Ad eternum.
No fim deste pensamento pergunta ela: "Percebeu?", "Claro!!" disse eu.
"Óptimo, agora tem que decidir onde quer aplicar o fundo de pensão". Larguei o 25 de abril e lembrei-me daquele emigrante que ao fim de 40 anos na Venezuela colocou todas as poupancas no BPP. Chorava em directo na RTP1 enquanto chamava nomes ao Rendeiro. Isto sim, servico público e uma licão em directo.
Disse-lhe: "Não me leve a mal mas não acredito na multiplicacão de oxigénio. Quero retirar da conta exactamente o mesmo que lá coloquei...como se fosse um colchão".
"Bom...assim o melhor é meter na dívida sueca. O risco é nulo mas também não aumenta o capital. A dívida é muita baixa e o governo não pede dinheiro aos bancos o que dificulta muito o nosso negócio", disse ela.
Ou seja...os bancos são financiados com dinheiro taxado aos salários (é obrigatório) e tentam emprestar ao governo com juros mais elevados (como fazem em Portugal). Como a dívida externa é pequena e o governo não tem necessidade de se financiar...entala a banca. Gostei. É mesmo esse que eu quero.
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1 comentário:
Giro giro era ouvir a Sra. Explicar isso tudo em sueco!!!! ;)
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