quinta-feira, junho 02, 2011

De vez em quando lembro-me deste gajo


Corria a primavera de 53 quando fui a uma entrevista de trabalho no agora extinto "Independente".
Portas já não andava por lá e era Inês Serra Lopes que dirigia o pasquim. Eu enviei uns textos e fui entrevistado pelo sub-director, um Victor qualquer coisa. A minha memória já não é o que era.
A hora que lá passei foi um ensinamento para a vida do que não dizer. Num jornal assumidamente direitoca respondi a tudo o que me foi perguntado com a honestidade de quem quer perder o emprego. Assumi-me como uma pessoa de esquerda, disse que votaria CDU em Lisboa e, cereja no topo do bolo, passámos maior parte do tempo a discutir a implosão da União Soviética.
Um dos meus textos era sobre uma das antigas repúblicas (a Geórgia se não me engano) e foi por aí que a conversa comecou. O camarada Victor não sei quê, do alto da sua pose de ignorante comecou a arrasar-me desde o primeiro minuto.
"Não existem ex-repúblicas soviéticas" disse ele depois de ler a primeira linha do texto (que comecava com "A ex-república blá blá"). Cada um esgrimiu os seus argumentos. Ele como sub-director de um jornal de merda e eu como um puto de 20 anos que não queria ser engenheiro.
Para mim, pelo menos na altura, a história era simples. Depois de correr com os Alemães, Estaline forcou um conjunto de países, desde o Báltico até à Ásia Central, a acordos de cooperacão. É bom lembrar que o exército vermelho montou a tenda em cada um destes sítios depois da "libertacão".
Estes acordos não eram mais do que uma forma de "legalmente" integrar/anexar esses países na URSS. Pouco importa se os degracados foram forcados ou não. Tiveram que levar com carregamentos de russos para misturar a populacão, governos fantoches que simulavam repúblicas autónomas e décadas de opressão.
O governo de cada república respondia a Moscovo, a comunidade russa era maioritária em várias cidades anexadas (Riga, Tartu, etc), o russo era língua oficial e a Sibéria era o resort de férias comum.

Portanto, seu animal, é claro que existem ex-repúblicas russas para infelicidade de uns quantos milhões.
Aliás...repara na delicadeza: "União das Repúblicas Sociais Soviéticas". Percebes ou queres um boneco?
Por tua causa tive que seguir engenharia e ainda passei a detestar mais direitocas. Nunca te perdoarei David Croquete.
E isto para dizer o quê? Que vou lá.
Vou embrulhar a trouxa e visitar uma destas repúblicas que nunca foi soviética. Lituânia e a sua capital, Vilnius.
Quero ver se tenho tempo de visitar os monumentos das fotografias. Parecem mesmo uma igreja ortodoxa russa e a sede do KGB não é? Mas não, diz que não.
Bom fim-de-semana.

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