sexta-feira, janeiro 14, 2011

Da minha janela vejo...


Tenho tentado seguir a campanha presidencial, mas ando com alguma dificuldade.
Para comecar já não me lembro do nome de metade dos candidatos, e, admitindo que seja um erro de análise, tenho a sensacão que o único ponto em debate é a argolada de Cavaco no BPN.
Claro que é um detalhe importante e eventualmente a única oportunidade que Alegre tinha para apertar Aníbal, mas convenhamos, já chega.
Se nada mais há para discutir, poupem nos cartazes e deixem lá o camarada que anda há 17 anos nisto mas que não se considera um "político", ganhar.
Quem quis perceber o embrulho do BPN percebeu, quem quer continuar com as palas montadas...faz favor. Albarda-se o burro à vontade do freguês, diz quem anda nesta vida há mais décadas.
Cavaco ganhou (muito) com a especulacão que agora todos pagamos. A forma como protegeu Dias Loureiro no conselho de estado há coisa de 1 ano devia ter servido de aviso. O homem estava e está comprometido. Meteu a habitual pose de superioridade, engoliu o garfo do costume e falou pairando sobre os demais. Explicacões? Zero.
Aníbal de Boliqueime, diz lá que, apesar de seres um economista profissional (como não és político nem sapateiro, imagino que sejas economista), não sabias que o BPN era olhado de lado pelo Banco de Portugal, nãos sabias que para multiplicar ar e obter dinheiro há uma parte da equacão que falha, não sabias que os teus ganhos de accionista eram diferentes dos da ralé e, como diria Luis Delgado, outras coisas.
O facto de elegermos para presidente da república alguém que foi presidente do PSD, PM durante 10 anos, PR um mandato e ainda assim não se assume como político, também diz algo sobre a forma como vivemos a cidadania.
O camarada aqui da frente perguntou se Portugal estava na situacão da Irlanda e de Espanha. Eu disse que estava pior. Os Irlandeses e os Espanhóis, apesar do buraco onde se meteram ser maior, têm capacidade de sair dele. A Irlanda tem uma populacão relativamente pequena, com melhores qualificacões e com um tecido empresarial mais competitivo. Os Espanhóis exportam tudo e mais alguma coisa. Tenho impressão que até paella congelada já vi nos supermercados aqui em Gotemburgo...
O nosso caso é mais complicado. Baixa qualificacão, ainda a tentar competir num mercado global pelos baixos salários, com poucas exportacões e pouquíssimas multinacionais. Vivemos apenas para pagar os juros do crédito que nos permite respirar em cada mês.
Pergunta seguinte: "Como é que chegaram aí? Um país com tanta história e tradicão, com peso e orgulho. Como foi possível?"
Limitei-me a olhar para o rio e suspirar. Não me apetece explicar, não me apetece mesmo. Tento passar uma mensagem de optimismo. Detesto ver esta bifalhada com má impressão nossa. Mas sinceramente, tenho consciência que estou a mentir com os dentes todos.
Tenho discutido este assunto N vezes com amigos portugueses. O que podemos fazer para ajudar o nosso país? O que pode a nossa geracão fazer para ajudar? Para além de trabalhar e pagar impostos, claro. Há algo mais que possamos fazer? Ter voz e peso nas decisões? Influenciar o rumo? Como? Alguém sabe qual é o mail do Sócrates? Acho que lhe vou escrever.

3 comentários:

Helena Barreta disse...

Admiro-lhe essa capacidade de omitir, perante os seus colegas estrangeiros, o pior de Portugal, como se costuma dizer, ficam-lhe bem esses sentimentos.

O meu filho é cidadão eleitor pela primeira vez, como ele serão muitos mais jovens a votar sem saber bem em quem, é que a campanha eleitoral não está a esclarecer ninguém.

Bom fim de semana

Um abraço

Anónimo disse...

O outro candidato, aquele que parece o Pai Natal, velhinho, barrigudo e barbudo, não pode dizer mal do governo porque é apoiado por eles, portanto… fica limitado a dizer mal do outro que parece o velhote de um conto de natal de Charles Dickens, aquele que têm três desejos. A velha Europa cortou-nos as vazas: limitou-nos a pesca; subsidiou, ou melhor pagou para se fazer o abate de culturas (aqui à minha volta, no Oeste, à vinha a produzir que foi subsidiada para ser abatida), a pouca indústria de metal foi abafada, enfim o quase pouco que produzíamos era alguma coisa, que digam os açorianos o valor das multas que tiveram que pagar por produzirem em excesso, ridículo! Quiserem transformar este país num campo de golfe, conseguiram. A agricultura até seria uma hipótese. Eu estive colocado em Moura, tive o prazer de regalar a vista com o maior lago artificial da Europa, a Barragem de Alqueva, e vi, porque um gajo até vai falando com as pessoas e sabendo as coisas, o produto da agricultura alentejana, é fantástico! As sementeiras subsidiadas com dinheiro dos impostos produziram… jipes Mercedes! Jipes BMWs, e pasme-se o mais incrédulo pois até Porsches Cayenne a agricultura portuguesa gera. Somos melhores do que os alemães! No Ribatejo, de onde sou oriundo, a coisa muda de figura, o resultado do subsídio para a criação de gado deu… jipes japoneses. Mão-de-obra para isto tudo? Escravos russos. Trabalhos domésticos? Mão-de-obra ilegal brasileira. Esta situação não vai mudar, porque interessa aos super ricos continuar a viver assim.

Anónimo disse...

Cara “Helena Barreta”, se me permite a ousadia, os filhos que sigam a sugestão dos pais. Estas eleições podem ser um bom mote para se começar a falar de deveres de cidadania.