sexta-feira, dezembro 03, 2010

Os pombos




Este "Prós e Contras" é uma lição para todos. Explica por A + B porque razão o mundo não pode estar entregue, como está, a economistas. 6 pessoas em debate durante duas horas. O assunto, como não poderia deixar de ser, é a actual situação económica do país. Julgo que só um dos convidados não é economista (Daniel Oliveira).
O rapazinho que está ao lado do Medina Carreira, fascinado com o seu próprio discurso, representa o caso típico da classe. Discute os mestres, formula teorias, relembra as equações das aulas e pincela com um pouco da antiguidade grega. Um discurso brilhante. Para um economista.
Qual é o sumo? Zero. Um copo cheio de nada.
O debate não é sobre o diagnóstico da crise e muito menos sobre as espectaculares teorias económicas que têm a utilidade de um garfo num prato de sopa. Qualquer pastor em Serpa percebe como é que chegámos aqui. O difícil é dar o passo seguinte e ter a certeza que este é dado na direcção certa.
Com ou sem FMI (parece inevitável) o que eu gostava de ouvir, por uma vez, é como é que vamos aumentar o nível de escolaridade do país, como é que vamos reduzir o peso do estado, como é que vamos incentivar o risco do investimento privado, como é que vamos alterar mentalidades, como é que vamos aumentar a produção, como é que vamos combater a corrupção.
Aliás...é por aqui que tudo começa na minha opinião. Reforma da justiça para que acabe este regime de impunidade. Se a corrupção da classe política (que custa enormidades ao país) começar a ser julgada exemplarmente, colocando todos em alerta, podemos reduzir o buraco financeiro do lado da despesa pública. Claro que não podemos esperar que seja a actual classe política (que divide o manjar há 30 anos) a dar esse passo.
O fim das ruinosas parcerias publico-privadas ou pelo menos a renegociação dos contratos, seriam também aconselháveis.
Depois de controlar a despesa é necessário aumentar a produtividade. É necessário criar riqueza e isso, no médio-prazo, passa pela educação. Não aquela de fachada para as estatísticas. Educação que prepare as próximas gerações para o mercado de trabalho.
Nada disto é novo e todos o sabemos. O difícil é executar num cenário de conflito social e no meio
de tantas medidas de austeridade. Ninguém quer saber de um plano para 25 anos. As pessoas querem saber se vão ter salário daqui a um mês, o que é compreensível.
A situação é difícil e complexa. Controlados pelo FMI, a nossa autonomia será cada vez menor o que significa, entre outras coisas, que a capacidade de influenciar e decidir enquanto Estado também será menor. Um pouco como já acontece hoje em dia com a UE, mas pior. Quem paga decide.
Controlados por uma entidade externa, temos que viver em austeridade para pagar crédito, crédito e mais crédito. Não consigo esconder a revolta de 30 anos de asneiras. Tantas e tantas oportunidades perdidas no xico-espertismo até que o mundo desabou e nós, enquanto país soberano, estamos de gatas.
Mas...a única coisa boa desta calamidade é a hipótese de um novo começo. Eu ainda acredito que é possível...daqui a umas décadas.
E é por isso que o caminho deve ser traçado, agora, por pessoas com sentido prático e real da vida. Não me levem a mal, mas por cada 10 que decidem, verifiquem que só um é economista.

1 comentário:

Helena Barreta disse...

Palavras certeiras, mais uma vez concordo e subscrevo.

Um abraço