segunda-feira, setembro 27, 2010

Bárbaros uma vez, bárbaros para sempre

Há uma Suécia, a mais conhecida imagino eu, onde todas as definicões de primeiro mundo fazem sentido e outra, mais sombria, menos conhecida e muito menos agradável, a do álcool.
As bebidas alcoólicas são altamente taxadas em lojas do Estado e o seu consumo e compra obedecem a uma série de regras bem definidas. Dizem-me que a razão para tal controlo se prende com os graves problemas de alcoolismo sentidos na década de 50.
Não sei que música tocava nos idos de 50, mas cheira-me que não era muito diferente da que hoje toca. Esta malta transforma-se na sexta-feira à noite (leia-se das 17h às 23h...) um pouco por toda a cidade, ou pelo menos, onde existir um bar com um "afterwork".
O "afterwork" é um conceito muito simples. Comida de borla (normalmente enormes tacas de saladas e pastas) e 2 cervejas pelo preco de uma (5 euro, mais coisa menos coisa). O que o sueco comum faz é: entra às 17h, senta-se, come e bebe tudo o que consegue até às 20h. Por essa altura levanta-se (se conseguir tirar a cabeca da mesa) e vai arranjar confusão para um sítio qualquer. Vejo um sexagenário a caminhar contra postes de iluminacão, vejo miudas a trocarem agressões, vejo a polícia a algemar homens da minha idade, vejo pessoas aos gritos no meio da rua (sozinhas ou em grupo), ouco insultos a imigrantes. Tudo num espaco de poucos metros e antes das onze da noite.
E não estou num subúrbio. Estou no centro da cidade, perto dos clubes da moda, rodeado por homens de fato e mulheres de vestido que amanhã, depois da ressaca, serão novamente civilizados.
Chega a ser degradante. O Cais do Sodré às 3 da manhã tem melhor ambiente que o centro de Estocolmo ou Gotemburgo às 22h.
Fico com a sensacão que todas as frustracões contidas durante a semana (por educacão ou cobardia, não sei...) se libertam depois de uns litros de cerveja. Aparece o racismo, a extrema agressividade, os instintos mais primários. Não escolhe idade, sexo ou família. Parece-me um mal geral...correndo o risco associado a qualquer generalizacão...
Durante a semana, período de trabalho, ninguém bebe uma cerveja (que não seja light) ou um copo de vinho que seja ao almoco. Acho até que é proibido trabalhar nessas condicões (admitindo que uma cerveja pode alterar o estado de alguém). Em quase 5 anos nunca vi ninguém consumir qualquer tipo de álcool durante um almoco semanal. Por outro lado também nunca vi ninguém beber água numa sexta-feira à noite. Não existe meio-termo. Ou água ou uma uva para o coma.
Estarei certamente a ficar velho mas tenho cada vez menos paciência para a Suécia das sextas-feiras.

4 comentários:

Tiago disse...

Não te preocupes...a sexta-feira holandesa vai ser melhorzita. Até já!

BoyGenius disse...

O verdadeiro primeiro mundo a uma sexta-feira!!!

Anónimo disse...

O facto de ser proibido não é impeditivo de um consumo compulsivo, abusivo, tanto é que, quando chega o momento em que tal atitude é aceite, tolerada e estimulada, verdade seja dita que as promoções existem para isso mesmo: um estímulo ao consumo, as desgraças acontecem. Existe sempre o “depois da festa”. Os comportamentos de risco são “zipados”; comprimidos e exultam naquele mínimo espaço de tempo que tem de ser desfrutado em excesso por ser curto.

Anónimo disse...

O facto de ser proibido não é impeditivo de um consumo compulsivo, abusivo, tanto é que, quando chega o momento em que tal atitude é aceite, tolerada e estimulada, verdade seja dita que as promoções existem para isso mesmo: um estímulo ao consumo, as desgraças acontecem. Existe sempre o “depois da festa”. Os comportamentos de risco são “zipados”; comprimidos e exultam naquele mínimo espaço de tempo que tem de ser desfrutado em excesso por ser curto.