Ouvi ontem uma notícia que me deixou os cabelos de 4 mm em pé.
Estou convencido que não percebi bem ou que estou a interpretar mal.
O Ministro das Financas disse que o orcamento de estado contempla uma verba para cobrir parte do buraco do BPP. O governo assegura os depósitos até 250 000 euro.
Ora como o euro me diz pouco comecei a converter para contos. O raciocinio foi este: "ora a casa que comprei em 2002 custou 100 000 euro e eu lembro-me que isso valia 20 000cts...eh lá...ele está a falar de 50 000 cts!!"
"Mas está tudo doido??", foi a minha primeira reaccão.
A notícia segue e aparece um dirigente de uma associacão que representa esta malta. Diz ele: "A associacão acha esta medida discriminatória".
Bom...fiquei sem adjectivos e senti-me dentro de um filme do Fellini. Confusão, barulho e gritaria.
Aparece então o João Rendeiro a apresentar o seu livro, onde entre outras coisas, diz que não tem culpa nenhuma no que aconteceu já que era "só" o presidente e não lidava com as aplicacões. Enfim, sacudiu a água para cima dos administradores.
Ora, várias interrogacões me assaltam a mente. A primeira e mais incómoda para o meu pobre espírito é esta: "ISTO É MESMO VERDADE OU FUI EU QUE PERCEBI MAL???"
Um grupo de pessoas, de quem eu sinceramente tenho pena porque foram enganadas, decidiu investir o seu dinheiro num banco que oferecia melhores contrapartidas que qualquer outro. Não acharam estranho que o dinheiro se multiplicasse apenas com oxigénio e acreditaram que "o retorno garantido" num mundo capitalista (onde ninguém dá nada a ninguém) era uma verdade absoluta. Ou seja...naquele banco, ao contrário dos demais, o dinheiro multiplicava-se e ninguém se interrogou como era isto possível?
A coisa deu para o torto e comecaram a pedir a intervencão do governo. A maior asneira de Sócrates foi sem qualquer dúvida nacionalizar o BPN. Há 1 ano que os clientes do BPP exigem o mesmo. No caso do BPN usaram a desculpa do "risco de contaminacão da banca" (uma daquelas tangas que deixará uma factura para os nosso netos), no caso do BPP não havia mesmo ponta para pegar. Poucos clientes e poucos balcões não justificavam qualquer "risco de contaminacão".
Mas o pessoal não se calou. Compreendo-os. Se tivesse todas as minhas economias no BPP também gritava pelo Sócrates.
Mas...e esta é a questão, o que é que os demais portugueses têm a ver com essa merda? Porque têm os restantes pagadores de impostos que contribuir para tapar mais este buraco? Por acaso os clientes do BPP distibuiram dinheiro por quem agora os vai safar na altura em que este se multiplicava com base em especulacão?
Como é que se pode criar na populacão um sentido de responsabilidade se ao menor deslize o governo, escudado no dinheiro dos contribuintes, aparece para desenrascar?
Uma pessoa investe dinheiro em aplicacões de risco (se não perceberam que eram de risco é porque acreditavam mesmo no pai natal...) e depois, quando perde dinheiro, os contribuintes restituem-lhe o investimento. Mas isto faz algum sentido?
E, ainda assim, como o governo "só" cobre os depósitos até 50 000 cts as associacões de clientes do BPP ainda reclamam? Mas perdemos a nocão da realidade? Andamos a viver no mundo encantado de Oz?
E o Rendeiro? Passeia tranquilamente na rua, a escrever livros sobre o seu "génio financeiro" em vez de estar na estiva a trabalhar para pagar as dívidas?
Fico indeciso entre comecar a ignorar as notícias de Portugal ou continuar a carregar a bílis.
É nestas alturas que brado aos céus por saber que o dinheiro dos meus impostos fica deste lado do mundo.
Caminhamos a passos largos para a tragédia grega.
1 comentário:
Faco minhas, as tuas palavras. Eu, ja nao vejo as noticias. Paula
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