sexta-feira, novembro 13, 2009

Chega para lá


Esta malta não pára de me surpreender.
E o que eu gosto de surpresas…
Reunião extra e magna, tipo RGAs com a malta toda aos gritos mas calados, para ouvir Big K, o CEO da companhia.
Comeco por dizer que Big K era piloto de carros na sua juventude. Imagino que o papá lhe tenha dado uns popós para brincar no alcatrão. Tudo bem por mim.
Preferia não ter o meu emprego dependente do Pedro Lamy cá do sítio, mas marcha.
Dois ou três slides a mostrar as perdas dos vários departamentos e em seguida comeca a discutir o acordo salarial para este ano.
Esta estratégia deve estar na página 2 (a primeira tem o nome da editora) do manual "Como ser CEO em 10 licões". Primeiro "ah e tal estamos tão mal e coiso" e a seguir "…por isso, após dificieis negociacões com o sindicato chegámos ao valor 0 para o aumento".
"Então e tu Big K? Vais passar a andar de eléctrico ou segues com aquele carro de luxo pago por nós??", era a pergunta que se impunha.
A sala estava cheia. Ainda sobram umas centenas de cabecas, por enquanto.
Salta para o palanque o gajo do sindicato, o "nosso" representante nas negociacões. Eu, apesar de não ser filiado, levo por tabela com o que se decide.
E não sou filiado porquê? Até venho de uma família com tradicão na área….
Porque o sindicato dos engenheiros aqui é tão eficiente a defender a classe (pelo menos na minha empresa) como um catavento debaixo de água.
Até aqui a accão dos camaradas foi:
Empresa: "olha, tenho aqui uma lista de 300 para meter a andar, algum nome que não gostes?"
Sindicato: "Tudo bem. Olha…até te digo que devias acrescentar este, aquele e o outro"
Empresa: "E quanto ao salário?"
Sindicato: "Temos deflacão, os precos reduziram…está o aumento salarial feito!"
Gostei desta. Como os precos reduziram devido a um fenómeno económico, mesmo sem aumento, na prática conseguimos comprar mais e assim, sem gastar um tusto, parece que a companhia nos aumentou.
Há por aqueles lados mentes fantásticas. Metade do pessoal ficou à nora e por isso a coisa passou sem grande alarido. Aliás, comeco a perceber que esta gente só se manifesta contra qualquer coisa quando bem regados de sumo de cevada. A seco parecem o coro Sto. Amaro de Oeiras.
Adiante.
Chega então a parte que realmente me encheu as medidas.
Anunciaram que o acordo salarial, anteriormente feito para todos os funcionários, seria desta vez dividido em vários acordos por área de funcionamento.
A razão é simples. Não se pode dar o mesmo aumento a uma área que esteja com lucro (ex: energia) e a uma que esteja com prejuízo (Ex. Automóvel).
Ora…isto é fantástico por várias razões. Primeiro porque sendo a indústria automóvel a levar com o grosso da crise, é óbvio que esse departamento seria o mais afectado. Segundo porque desde que a crise comecou que vozes no departamento se levantaram para que deixássemos de ter área automóvel e reciclássemos engenheiros para áreas com volume de negócio: energias, ambiente, eléctrica, etc. Nenhum funcionário quer estar no departamento automóvel mas a companhia não consegue novos projectos noutras áreas. Nenhum dos monos que chefia a área conseguiu ver o inevitável mesmo que cá de baixo se grite há pelo menos 12 meses. Por fim, a última razão é que o departamento entalado é aquele onde eu trabalho.
Big K…tu és uma cabeca. Uma mente brilhante cuja visão estratégica mas faz lembrar os generais russos na IIGG…em frente e sem medo contra as balas alemãs, se voltarem para trás somos nós que disparamos. Devias estar em formol para mais tarde recordar.
1152 horas. Com os fins-de-semana nem chega a 1000. 1000 horitas e tou fora. Com o Diogo. Por 8 longos meses!
O ensaio é já hoje.
Na pequena ilha de Gullholmen onde os gordos não passam entre as paredes.
Bom fim-de-semana .

Ps - O facto de o Ronaldo não jogar significa que vamos passar com a Bósnia. O Queiróz tem mais sorte do que juízo.

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