Passado que está o período de reflexão - e o que eu reflecti enquanto o glorioso triturava o leixões - voltemos à campanha.
Estas duas semanas serviram, entre outras coisas, para descobrir novos valores do comentário político. Novos, é como quem diz.
O camarada da fotografia chama-se Joaquim Aguiar. Ao que parece é politólogo e segundo leio, conceituado. Confesso a minha ignorância. Nunca o tinha visto a fumar o cachimbo até há poucos dias atrás.
Ouvi-o pela primeira vez no dia do debate entre Sócrates e Manuela F. Leite. Percebi de imediato que estava na presenca de um artista. Analisou o debate, se bem me lembro na RTP1, e conseguiu arranjar forma de destacar MFL pela positiva e Sócrates pela negativa. Não o fez de forma particularmente inteligente ou elaborada. Foi mesmo à descarada. Na altura fiquei um pouco chocado, até com alguma revolta de o ouvir. Se há personagem que perdeu em toda a linha com os debates, essa personagem foi MFL. Não admira que ela tivesse recusado mais debates. Conseguiu até, proeza das proezas, meter os pés pelas mãos (IRS e IRC) no debate com Jerónimo de Sousa, o mais genuíno dos candidatos, mas também o mais fraco a debater. E eu não defendo que um político de sucesso tenha que ter somente o dom da palavra, mas defendo que se deve preparar para conhecer os assuntos em discussão. MFL, além de se atrapalhar com a lingua mãe, apresentou-se sempre muitíssimo mal preparada em todos os temas. No debate com Sócrates a coisa rocou o massacre. Por muito laranja que alguém seja, é impossível extrair algo de bom a MFL naquele debate. Mas...para minha surpresa, este camarada conseguiu esse feito. Numa análise medíocre, parcial e em directo no canal do estado. Fiquei com a sensacão que era um analista incompetente, adepto de MFL, não mais do que isso.
Há dois dias voltei a encontrá-lo no jornal da 2. Pediram-lhe que analisasse as duas semanas de campanha eleitoral e ele, sem qualquer tipo de vergonha, passou 20 minutos a falar de Sócrates e MFL. É bom lembrar que as legislativas são as eleicões para a AR (não para PM) e este ano concorrem 15 partidos. Tudo isto ficou de fora da análise deste "reputado politólogo".
O que se seguiu foi quase um escândalo. Frases como "o que se decide no domingo é muito simples, escolher uma mudanca ou continuar neste cenário de crise", "o que vimos foi Sócrates a falar em confianca, crescimento, etc sem nunca explicar como e MFL a resistir a todos os ataques de que foi alvo" ou "Sócrates não apresentou uma única proposta".
Foi enfim um destilar de ódio pela pessoa de José Sócrates. Uma vez mais na televisão pública e numa análise que, do ponto de vista político, vale zero.
Um analista imparcial e competente na sua profissão, tem que dizer que MFL foi quem mais perdeu com a campanha eleitoral. Pensemos um pouco:
Há 15 dias as sondagens indicavam um empate técnico. MFL concorria contra um PM desgastado e com o balão de oxigénio das europeias a favorecer o PSD. O que se viu depois foi uma sucessão de tiros no pé. Gaffes atrás de gaffes, desconhecimento dos temas em debate, contradicões constantes e o lema de verdade desmontado a cada dia. Portas foi um dos beneficiados (pelo menos nas sondagens) com as asneiras de MFL. Sócrates foi o outro. Os 2 milhões de indecisos decidirão esta eleicão mas mesmo que o PSD a ganhe, não o fica a dever a MFL.
Resolvi investigar um pouco para ver se percebia se este rapaz era só incompetente. Parece que nas horas vagas Joaquim Aguiar é também administrador no grupo Mello. Ora este é um dos grupos que mais investe na saúde em Portugal e que beneficiará largamente se o SNS perder "clientela" a favor dos hospitais privados e dos seguros de saúde (siestema americano). Apesar do grupo Mello já ter algumas administracões (atribuídas pelo governo de Sócrates), ficarão melhor servidos com MFL em S.Bento, já que o PSD apoia claramente mais saúde no sistema privado.
Pena é que este rapaz tenha tempo de antena no canal público para fazer pela vida de quem lhe paga.
Agora...coincidência, isso é que decididamente não existe.
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