Não direi uma grande novidade se constatar que muitas empresas tentam tirar o maior proveito possível desta crise. Estando os governos na disposicão de torrar algum endividamento externo, seria de esperar todo o tipo de abuso. Trabalhadores em (falso) lay-off, falências oportunas, apoios indevidos. De uma forma geral o governo corre a injectar dinheiro sem olhar onde e as empresas querem continuar a lucrar como se não existisse crise.
É tempo de apertar o cinto sim, mas para quem paga impostos. Só para esses.
Dito isto e acrescentando que estou habitualmente do lado mais fraco entre empregado e empregador, tenho, desta vez, que concordar com as palavras de Belmiro de Azevedo.
Não podemos continuar agarrados aos direitos adquiridos como se o mundo à nossa volta tivesse parado de rodar.
É neste sentido que os sindicatos devem funcionar como parceiros e não como pedras no sapato.
Exigir é fácil. A constituicão até diz que todos temos direito ao trabalho...
Mas quem paga? Quem é que dá emprego se não existirem empresas? Como é que as empresas têm lucro se ninguém comprar o seu produto? Como é que as pessoas podem comprar se não tiverem dinheiro?
É tempo de afastarmos os olhos do nosso umbigo e percebermos que o que acontece no nosso quintal depende de uma economia global.
O recente exemplo da Autoeuropa é um bom ponto de partida. Não defendo, nem nunca defendi, que se faca tábua rasa da lei, mas se existiu algum momento na nossa vida para ser flexível, esse momento é o presente. Claro que há uma diferenca entre ser flexível e ser entalado. Ao ouvir a notícia "Autoeuropa não quer pagar sábados!" fiquei um pouco supreendido. É uma realidade que conheco relativamente bem e nunca vi ninguém a trabalhar ali 15 minutos de borla. Pelo menos forcado...
Lá percebi lendo no Expresso que o que a companhia não quer é pagar o sábado a 200% como a lei manda. Oferece-se para pagar como dia normal e a segurar os 250 temporários. Escusado será dizer que isto é contra a lei e que os trabalhadores têm todo o direito de reclamar. Devem é também perceber que se ninguém compra carros e se essa indústria é a mais afectada a nível mundial, o facto não haver despedimentos na fábrica devia ser encarada como um pequeno oásis dentro da realidade actual.
Teria sido também interessante saber, mas nenhum jornalista perguntou, porque razão trabalha a Autoeuropa aos sábados se a producão actual não chega a 50% da capacidade da fábrica?
Posso estar enganado, mas a Autoeuropa não é normalmente uma empresa sem preocupacões sociais ou com abusos relativamente aos seus colaboradores. Claro que tudo isto pode ser uma estratégia (chantagem) para criar o clima certo para encerrar a fábrica (a favor da unidade de Emden) mas sinceramente, duvido.
Um direito é um direito, mas a realidade que nos rodeia não pode ser neste momento ignorada.
Há milhares de despedimentos na indústria automóvel. Em todos os construtores e fornecedores. Os salários estão congelados, o trabalho extra não é pago e os sábados são pagos como um dia normal. Esta é a realidade que vejo, que me toca e que afecta centenas de colegas meus.
Está na lei?
Não, claro que não.
Chama-se flexibilidade e entre outras coisas gera produtividade e emprego.
Parece-me que é a única forma de lidar com as exigências de uma crise mundial. Se formos sérios, claro. Se estivermos a falar de uma atitude bidireccional. Se as cedências cairem todas no lado do colaborador, então já têm outro nome: abuso.
2 comentários:
Oh Tiago ! Francamente, tu que estiveste aqui...
Um dos acordos para vir para aqui o Xarroco era os sábados serem pagos a 100%. Isso já tá feito... Agora querem à borla !!!
Ou seja, fecham qd querem, a malta fica em casa, e fazemos fins de semana a custo zero de mão de obra, e energia + barata.
Só um dos lados se ouvem...
Nuno:
1. Pq razão têm que trabalhar aos sábados?
2. O que a AE sugere é pagar o sábado como se fosse um dia normal de trabalho ou é pagar zero?
tf
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