Sem qualquer base científica que o justificasse, tinha por certo que a vaga de imigracão do séc.XXI nada tinha a ver com as anteriores, mais especificamente as que aconteceram durante a ditadura. Era minha conviccão que hoje em dia os portugueses já não emigravam para fazer trabalhos que os locais não queriam.
Esta minha nocão, assumidamente errada, baseava-se no facto de o acesso às universidades ser hoje muito mais fácil do que era, por exemplo, há 50 anos atrás.
Vem esta conversa a propósito do debate sobre a imigracão em inglaterra. A crise e a escassez de emprego gera, entre outras coisas, a discussão sobre quem está a mais. Embora as vozes se oucam mais nestes tempos complicados, já em 2007 se tinha feito um estudo que acabou em relatório e documentário (se não me engano do canal 4).
Inglaterra, Irlanda e Suécia foram os únicos países que não impuseram limites para a imigracão quando a UE deixou entrar os novos estados membros. Isto justifica em parte as hordas de estrangeiros que receberam. Assim e em resumo, com mais ou menos flores nas palavras, o que os ingleses queriam era diferenciar por comunidades, quem pesa no orcamento e quem contribui.
Sentei-me a ver o documentário. Mais valia ter ficado quieto.
As estatísticas são aterradoras para a comunidade lusa. Os imigrantes portugueses são dos que contribuem menos (salários mais baixos), são os que abandonam a escola mais cedo e são aqueles cujos filhos têm o pior desempenho na escola inglesa. De imediato pensei que a nossa comunidade seria da " vaga Salazar" e fui ver a média de idades. Novo engano. A média é de 33 anos ou seja, é a minha geracão. Imigracão recente.
No documentário abordam o caso específico português. As nossas estatísticas deixam-nos longe de qualquer povo europeu ou norte-americano (canadianos e americanos são compreensivelmente as comunidades com maior sucesso) e aproximam-nos de paquistaneses e somalis. Acho que não preciso explicar o que é a comunidade paquistanesa em Inglaterra nem referir que maior parte dos somalis ali chegam como refugiados. No entanto, não são apenas as comunidades de primeiro mundo que têm sucesso. Nigerianos, indianos e polacos, entre outros, apresentam altos níveis de educacão e por isso, resultados melhores.
Convém também explicar que "resultados" aqui não são só números. Representam vidas melhores.
O caso polaco foi um contra-ponto ao caso português. Um casal saiu da Polónia assim que estes entraram na UE, uma vez em Inglaterra fizeram aquele tipo de trabalho que ninguém quer assegurando a permanência no país. Sendo pessoas com educacão superior não demoraram muito a arranjar emprego na sua área. O que disse o empregador para deixar 30 ingleses de fora e recrutar o polaco? Tem um cv impecável, a formacão certa, é competente e tem fome de trabalho. Simples. A educacão como base de todo e qualquer sucesso. É por isto que dentro de pouco tempo todos os novos membros de leste vão ultrapassar Portugal na corrida pelo desenvolvimento. Não há volta a dar, não há milagres, não há atalhos. Educacão séria e competente (não vale a pena formar analfabetos) é o ÚNICO caminho.
Fizeram o mesmo ao casal português. Viviam num quarto com um filho e esperavam por uma casa da seguranca social. Tinham empregos não qualificados e o miudo tinha dificuldades na escola atribuidas à falta de bases que trazia de casa. Ainda assim, diziam que estavam muito melhor do que em Portugal porque ali tinham dinheiro para a comida. Imagino o pardieiro de onde saíram.
Depois de ver este documentário e de sentir tamanho murro no estômago resolvi investigar um pouco. Li o relatório e fazendo fé no que se escreve por lá, não há qualquer diferenca entre quem sai hoje de Portugal e quem há 50 anos foi lavar escadas para Paris.
Esquecendo por agora a vergonha de ver patrícios com igual desempenho de refugiados, centremo-nos no que importa. Significa isto que a educacão não evoluiu em Portugal?
Voltei às estatísticas, desta vez da OCDE.
Em 1991 apenas 8% da populacão tinha um curso superior. Em 2002 passámos para 9%. Segundo a OCDE em 2002, 80% da populacão não tinha o secundário concluído. De referir ainda que entre os países da OCDE só México e Turquia têm estatísticas piores. Nos países de primeiro mundo 1/3 da populacão tem um curso superior. No caso do Canadá por exemplo (um dos 5 primeiros países em todos os rankings de desenvolvimento e qualidade de vida) esse número sobe para quase metade da populacão.
Não melhorou. Decididamente só por coincidência geográfica é que nos podemos considerar um membro da UE. A educacão TEM que ser a aposta dos governos dos próximos 30 anos. Não há outro caminho.
As novas oportunidades são uma boa medida, a escolaridade obrigatória também, o magalhães também, a avaliacão de professores também. Há que continuar esse caminho e não virar a cara sempre que a Fenprof e demais medíocres comecam aos gritos. A salvacão do país depende da educacão. Era bom que todos o percebessem. Mas, mais importante de que educar para as estatísticas é educar com qualidade. Facilitar exames (como a prova de matemática do ano passado) para aumentar a taxa de sucesso não serve de nada. Educacão é o caminho, mas com qualidade e exigência. Para formar ignorantes e geracões de incapazes não se incomodem.
2 comentários:
Meu caro irmão, concordo em absoluto!
A educação, nas suas mais variadas vertentes (a elementar, que levamos de casa, a que nos ensinam na escola, a que o próprio país disponibiliza através dos seus mais variados recursos materiais e humanos) é o que cada um de nós tem de mais basilar e que, em ultima análise, nos identifica como povo.
Neste momento, o que podemos fazer perante a vergonha que é o ensino nacional é, de facto, exigir mais. A começar em casa.
Não nos esqueçamos que existe toda uma nova geração de professores que, infelizmente, já vem de uma tradição de facilitismo, de falta de exigência, e sobretudo de grande falta de paixão e motivação naquilo que fazem, com baixos níveis de qualidade, a quem os educandos ficam entregues um sem número de horas semanais a aprenderem sabe-se lá bem o quê.
Falta educação cívica, falta aprender artimética sem macacadas (já viste um livro do ensino básico dos tempos que correm? É de fugir...), falta aprender a falar, a ler e a escrever, a argumentar. Caso contrário, teremos amanhã um conjunto de representantes que (misericórdia!) nos envergonhará...
Cabe a todos e a cada um de nós bater o pé e exigir ensino de qualidade, empenhando-nos pessoalmente na garantia dessas condições, não nos desresponsabilizando do nosso papel igualmente interventor.
Bem hajas...
sim, a realidade é muito dura.
e daqui a uns anos não ser possível basear um post semelhante com estes dados da OCDE porque ao ritmo a que a população anda a ser "escolarizada" com as Novas Oportunidades as estatísticas vão melhorar bastante...
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