sexta-feira, janeiro 30, 2009

A República


Tenho andado a fazer contas à vida.
Contas filosóficas, entenda-se.
Não caminho para novo e, embora o Benjamin Pitt me tenha dado alguma esperanca, cheira-me que essas coisas não acontencem fora da Califórnia.
Acompanho as notícias na sua forma "tema do mês".
Depois dos assaltos a bombas, do surto de gripe no natal, vem agora o desemprego.
Todos os dias uma nova multinacional a sair do país. Todos os dias mais não sei quantos na rua, um pouco por todo o mundo.
Já tenho saudades de um belo assalto. Isso é que eram notícias.
Só me faltam 5 anos para a reforma, não tenho PPR e não sei quanto mais tempo consigo passar entre as gotas do despedimento.
Tenho reparado no mercado de emprego em Portugal e constato que está óptimo para quem quer trabalhar ali na zona de Luanda, como quem vai para o Marquês.
As portas fecham-se.
Vem um puto a caminho e isso puxa-me pelo lado responsável. Quero um lugar ao sol, um emprego que me permita descansar durante a reforma que iniciarei aos 35. Dava-me jeito que fosse bem pago também para poder comprar aquele monte em Mora, mesmo ao lado do Sousa Tavares.
Vistas bem as coisas e depois de alguma investigacão cheguei a uma conclusão: quero ser político.
Não porque a crise económica passe ao lado desta classe.
Quero servir o povo.
Não estou preocupado comigo.
Quero apenas servir a comunidade.
Acho que até tenho jeito.
Gosto muito de falar.
Adormeco muito bem em cadeiras fofinhas.
Quero ser deputado.
É isso.
Vereador de uma câmara em Fornos de Algodres não me interessa.
Ministro também não que é preciso responder a muitas perguntas.
Secretário de Estado ainda marcha. Mas no ministério dos negócios estrangeiros. Acho que aí é que posso servir o povo como deve ser.
E comer grandes tachadas de massa de cherne com a Clinton quando ela nos visitar.
Sempre a servir o povo.
Mas o meu sonho é mesmo a AR.
Deputado de um partido de esquerda que não tivesse posicões muito idiotas ou o rabo preso pelo clientelismo.
Bem....
Também não posso querer tudo.
Pronto....um partido que me permitisse fazer 3 mandatos e conseguir aquele PPR à prova de bala.
Agora que está decidido, como é que faco?
Chego a Portugal, preencho a proposta de sócio, pago as cotas, recebo um cartão mas não vejo jogos de borla. Acho que é isso.
E depois?
Como é que faco para repararem em mim?
Tento apanhá-los nos mercados a falar para a RTP e meto-me atrás abanando a cabeca com alguma indignacão?
Já vi uns quantos gajos a fazerem isso com o Portas. Mas é preciso cara de almofada e franja pelo meio da testa. Não tenho hipótese.
Ir a um congresso e dizer umas bardoadas no palanque? Resultou com o Jardim.
Comprar um carro e ir fazer a rodagem? Huum....também já foi feito.
Arranjar um padrinho e esperar que ele chegue a líder? Como? Não conheco ninguém na Teixeira Duarte!
É nestas alturas da vida que uma pessoa percebe que tomou as opcões erradas....
Porquê All-star quando podia muito bem jogar à bola com os sapatos de vela??
Foi o primeiro grande erro. Abandonar prematuramente aqueles belos sapatos.
Nunca ter comprado o casaco verde pelos joelhos que cheirava a cavalarica.
Foi o segundo.
São pré-requisitos para se ser o "benjamim" de alguém nos partidos do bloco central.
Isso e a alergia ao trabalho.
Todo um caminho se definiu aí. Que mal pensado...
Bom, enquanto espero vou continuando a trabalhar.
Só para pagar as contas.
Mas despachem-se com isso que ninguém é benjamim aos 40 anos!
Que chatice...
Logo esta 6f que acordei com uma vontade enorme de servir o povo.
E acho que até digo "povo" com a entoacão correcta.
Com uma cara séria.
Sim, eu sei que daí não dá para ver...
Mas imaginem.
Assim como eu.

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