Ontem foi um daqueles dias que poderia ser riscado do mapa.
A História agradecia e eu também.
Pela fresquinha, que é quando o frio castiga mais, os senhores que me providenciam o pão nosso de cada dia distribuiram uma comunicacão interna.
Ali dizia, que a Ford/Volvo ia despedir 300 camaradas da minha cor e em consequência, eles teriam que recambiar o mesmo número de pessoas para a rua.
Dizia um colega há duas semanas que a vantagem de ser consultor é que para seres despedido a ordem tem que chegar duas vezes. Ela aí está.
De 100 passámos para 300, de postos seguros passámos a negociacões com os sindicatos.
E rápido. Cinco semanas e está a obra feita.
Das 1200 pessoas do escritório de Gotemburgo, 300 estão a andar.
No mesmo dia, 3 sessões de esclarecimento. Na porta as estacões de televisão. Os jornais tinham a notícia estampada 1h depois de eu receber o mail.
Não era este o filme previsto.
A palavra "dramática" foi repetida até à exaustão. Ninguém foi capaz de prever esta bancarrota e a situacão nesta zona da Suécia é mesmo dramática. Basta explicar que Ford e GM são os maiores empregadores….
Comecam a correr listas e os nomes aparecem. A lei tem que ser cumprida e na Suécia, o primeiro a entrar é o último a sair. Podes ser o maior coca-saco, mas se cocares há muito, ficas no barco.
A única forma de ultrapassar a lei é seres insubstituível, um Einstein de qualquer coisa ou um génio da lâmpada mágica.
Comeca a competicão. Todos tentam mostrar o que têm de melhor.
Há que salvar a pele a qualquer custo. Cada um olha para o seu umbigo.
Não percebemos que foi exactamente o nosso umbigo que nos criou esta situacão.
Se não fosse a ganância individual de ter lucros monstruosos, sem que esse lucro tivesse correspondência em postos de trabalho, produtividade e riqueza gerada, não teríamos criado estas duas décadas de especulacão bolsista.
Sem essa especulacão não teríamos atribuído valor a coisas que não temos ou que não existem.
Sem esses valores não teríamos criado créditos mal parados.
Sem esses créditos não teríamos desequilibrado o sistema financeiro.
Sem esse desiquilíbrio não teríamos uma crise mundial.
Sem essa crise mundial, não teríamos pessoas sem casa ou emprego.
Eu não estaria também a escrever isto, nem os meus colegas estariam a contar quantos gajos entraram depois deles.
Foi o umbigo que nos trouxe mas tem que ser o conjunto a safar.
Especial atencão para as eleicões americanas. Qualquer um dos candidatos prometeu injectar dinheiro na GM e Ford, para salvar os milhões de americanos que estão na corda bamba. Hoje é por isso o primeiro dia de esperanca. Do it Obama!
Nunca tinha estado por dentro numa crise. Em Portugal, tudo me passava ao lado. Furacões, tsunamis e crises. Aqui, o impacto sente-se. E de que maneira.
O crescimento económico é um facto, mas o abalo da crise é real.
Directa ou indirectamente afectar-nos-á a todos.
Apesar da previsão de 2 a 3 anos de crise nesta zona da Suécia, há esperanca que os mercados emergentes possam compensar esta trapalhada.
A informacão escorre a conta-gotas, mas já se comeca a perceber o desenho.
Ainda não é desta que faco a trouxa e volto para o MacDonals da 2a circular.
De qualquer forma, à velocidade a que tudo muda, eu diria que prognósticos só mesmo no fim do jogo.
1 comentário:
EStive anos assim... sem saber quando me calhava a mim e a ver diminuir o nº de pisos e o pessoas lá no escritório. Tudo foi movido para a Roménia, imensas lojas fechadas e mais de 200 pessoas foram despedidas neste tempo. Viver o dia-a-dia não era fácil.
Força e boa sorte.
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