quarta-feira, outubro 08, 2008

Filme de terror a cores



No meio da década de 90 (sim, do século passado) tive uma professora de Física que para nos assustar dizia: "Não estudem não, que depois vão para gestores de empresas que não existem!".
Era a forma de ela nos alertar para os perigos da preguica. O seu nome era Odete, se a memória não me falha, mas todos a conheciam por Nakajima. Os seus gritos de espanto tinham algo de samurai e um aluno, cujo nome agora não me lembro mas sei que detestava cinemática, acabou por fazer o baptismo recorrendo a um piloto de fórmula 1 de então.
A Nakajima mostrava um certo desprezo pelos gestores. Para ela, quem não sabia/queria fazer nada, ia para gestão. Para nós, os alunos, ficava a sensacão que sem fazer nada podíamos mandar em qualquer coisa. A isso chamámos gestão. Mandar sem saber fazer.
Nós portugueses mandamos como ninguém. Também "amandamos", mas aí já são postas de pescada e outros seres vivos com guelras.
Pensava que a gerir não havia pai para os filhos de Viriato, mas agora percebo que há quem mande melhor do que nós, os americanos.
Desde que saí de Portugal trabalhei para duas companhias americanas. Não serão o espelho do país, mas a sua dimensão obriga-me a pensar que serão bons exemplos: GM e Ford.
O que é que vejo? Muito gestor, muita gente a mandar.
Eu reporto a um líder de projecto, que por sua vez reporta a uma líder de líderes de projecto, que por sua vez reporta a um chefe de grupo, que por sua vez reporta a um chefe de departamento, que por sua vez reporta a um chefe de àrea e a partir daí já não sei. Mas ainda demora uns quantos degraus até chegar ao olimpo.
Ora…e isto é a estrutura da empresa certo? Não meus amigos…isto é apenas a estrutura do centro de desenvolvimento de sistemas de airbag. Agora multipliquem por todas as pecas que um carro leva e por todos os carros que a marca faz.
É muita gente a mandar.
Então e pessoal para vergar a mola?
Índia, esse El Dorado.
Estratégia de gestão?
Não é muito diferente da usada na AIG e demais companhias em terras do Tio Sam.
A Volvo sempre teve lucros.
A Ford, companhia falida há séculos comprou-a e implementou o sistema de gestão americano.
Sugou tudo o que conseguiu e agora, com a Volvo seca, resolveu fazer uma limpeza.
E ao estilo cowboy.
Esta manhã, todos os departamento foram chamados para informar que 6000 cabecas vão rolar.
Dessas 6000, quase 4000 serão em Gotemburgo, o sítio de onde, por acaso, estou a escrever.
Durante essa reunião, por volta das 10h, apreciei o momento em que disseram "alguns empregados terão que sair antes de almoco".
Uau…Lucky Luke style!
Antes de almoco?
Camarada…na Suécia às 11 da manhã já se vai para a manjedoura. Nem 1h para arrumar tarecos e tirar as fotografias das patroas de cima da mesa?
Land of the dreams, home of the braves e mais não sei quantas coisas giras. Big Macs, vocês são os maiores a gerir.
Para já, o meu pescoco ficou no lugar e o sangue passou a raspar, mas imagino que seja uma questão de tempo.
Prevendo a situacão, os meus chefes já me tinham alocado a um novo projecto há mais de um mês. Fizeram o mesmo a outros colegas, minimizando assim as perdas com esta crise no maior cliente.
Com esta gestão, pergunto-me se a companhia terá algum futuro?
Duvido. A não ser que os chineses ou os russos do gás aparecem aí com umas notas no bolso.
Cada funcionário despedido na Volvo significará 4 perdas nos fornecedores. Assim, a costa oeste sueca enfrentará entre 16000 a 20000 pessoas no desemprego.
É dose.
A minha pergunta para os gestores americanos é simples: porque é que não estudaram um pouco mais no 12 ano?
Nakajima, tu é que a sabias toda.

2 comentários:

Inês disse...

Pois... parece que o fenómeno "gestão privada" tem dado que falar...
Eu só gostava de saber se esses gestores que ganham milhares têm a mínima noção da quantidade de vidas que dependem das suas decisões...

Unknown disse...

Lucky Luck spared the Lucky Guy ;o)))