sábado, janeiro 05, 2008

Olá 2008

Long, long time ago...vá, 20 anos para ser mais preciso, coincidia o número de velas do meu bolo de aniversário com o número que o maestro usa nas costas quando Lisboa aparecia aos meus olhos como o centro do mundo. Dos sítios por onde o destino me fazia passar, Lisboa era a maior, a que tinha mais luzes, mais carros, mais lojas e mais confusão.
Lembro-me de levantar vôo em S.Miguel e 2h depois ficar encantando com a quantidade de luzes com que Lisboa me recebia. Era A cidade.
Os anos passaram e as voltas alargaram-se.
A observacão contínua de outras realidades tem a enorme desvantagem de nos situar em várias escalas. Retira a magia.
Há pouco menos de uma semana, passava na baixa pombalina e perguntava-me porque gosto tanto de Lisboa?
Tem uma luminosidade única e foi a cidade onde nasci e passei parte da minha vida. Objectivamente são estas as razões que ainda posso apontar.
Os restantes atributos que fizeram de Lisboa uma cidade esplendorosa estão hoje no seu estado "américa latina".
A cidade projectada pelo M. do Pombal (até deve dar voltas no túmulo...) está hoje totalmente em ruínas. Há prédios sem tinta, paredes partidas e fachadas a corar de vergonha. No centro histórico! Maior parte dos edíficios estão sujos e em mau estado de conservacão. Felizmente existem bancos naquela zona senão ficava tudo transformado num autêntico galinheiro. As casas na colina do castelo esperam que um vento mais forte as encoste ao chão.
Qualquer ruela tem prédios a cair. Perto da Alameda, Saldanha, Campo Pequeno, Praca de Espanha, etc, etc. Escolham.
Fora do centro histórico o conceito arquitectónico chama-se "bloquismo".
Blocos e blocos de cimento arrasam qualquer pequeno canteiro. Meter um cão a mijar é hoje em dia uma aventura. Um exemplo clássico: telheiras.
Uma das zonas mais caras da cidade com prédios a perder de vista, entalados entre a 2a circular e o eixo N-S. Vista de sonho.
Aliás, todas as vias rápidas que atravessam a cidade têm uma grande vantagem: fazem uma espécie de "taipal" para a construcão de prédios. Quando toca, está bom.
O rio. Lisboa foi bafejada pela natureza com um rio enorme que a contorna durante largos Km's até encontrar o Oceano.
Até sair de Lisboa eu pensava que era normal um rio existir apenas para ter cacilheiros. Depois de ver meia dúzia de cidades, percebi que as pessoas podem ler um livro num jardim com vista para o rio, que podem andar de kayak, almocar ou beber um café numa esplanada enquanto vêm o seu reflexo na água e por aí fora. Lisboa, deve ser das poucas (para não dizer única) cidades europeias com rio onde a populacão não o consegue aproveitar.
Aproveitar?
Eu diria: ver!
Tapumes em Sta. Apolónia, contentores no poco do bispo, um mamarracho novo no C. do Sodré, docas em algés, etc,etc.
É difícil ver o Tejo. E não é por ele ser pequeno...
Madrid, Barcelona, Valência, Paris, Londres, Munique, Dresden, Estugarda, Frankfurt, Dublin, Zurique, Budapeste, Ljubljana, Zagreb, Split, Oslo, Helsínquia, Estocolmo, Gotemburgo, Copenhaga, Veneza são algumas das cidades europeias que têm o seu centro histórico conservado. Algumas delas totalmente desfeitas na II GG ou na guerra dos balcãs estão hoje em condicões de receber turistas e de proporcionar bem estar a quem lá vive.
A II GG não passou por Lisboa. Depois de 1755 as únicas calamidades foram a corrupcão, políticos de algibeira e uma populacão pouco activa para meter governantes na ordem.
Enquanto outras capitais conservam (pelo menos) o seu centro histórico, nós deixamos o nosso cair. Nem deixámos que lá viva ninguém, nem retiramos proveitos turisticos. Para não ir mais longe, penso apenas o que fariam os espanhóis se tivessem uma cidade com o potencial de Lisboa.
Rio, Mar, Sol, Arquitectura, História, Beleza Natural, Gastronomia, Museus, Espectáculos. Está lá tudo. Mal aproveitado, mas está.
Objectivamente, recorrendo aos olhos da razão, tenho que me esforcar para encontrar o esplendor de Lisboa no presente.
Sobra-me a emocão e o bater do coracão.
Essa não muda, nunca mudará. Felizmente.
Lisboa é a minha cidade.
Mas perde cor em cada regresso.

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