quinta-feira, agosto 16, 2007

O åskbollen

Corria célere o ano de 82...ou seria 83...bolas, com esta interrogacão interrompi um início de frase que prometia.
Acho que andava pelos 5 anos de vida...ou seriam 6?
Tenho que voltar aos comprimidos da memória.
Alguém me levou ao cinema, e alguém aqui não é um truque de anonimato, não me lembro mesmo da caridosa alma.
Mas recordo-me do protagonista na minha estreia na sétima arte: Bambi.
Acho que gostei. E não chorei.
Só voltei ao cinema já homem feito e com a barba a despontar. Em 84 para ser mais preciso.
Com sete anos e na companhia do meu primo mais velho lancei-me nos filmes de carácter político, daqueles que tracam o rumo da Humanidade e nos fazem pensar "Onde estou e para onde vou?". Adorei a cor da espada do Luke Skywalker. Não sei qual foi o filme que vi, mas estou certo que nessa altura pensava que era o II ou III e agora dizem que é o V ou VI. Fico confuso com isto. Mas aquela da espada ser de luz deixou-me a pensar no futuro. Comecou aí o meu fascinio por luzes. Lembro-me de pedir sempre no carnaval para me arranjarem uma espada de luz mas diziam-me que o Zorro é que era. Hoje percebo que o que eles não sabiam era onde arranjar o sabre de luz. A espada do Zorro era mais fácil e com um giz na ponta permitia-me escrever em qualquer parede com algum estilo. Depois do Skywalker o Zorro era o maior. Ninguém sabia quem era o Banderas e este perguntava em Madrid quem era o Almodovar. O mundo era mais simples.
Mas onde é que eu ia com esta história do cinema?
Ah...já sei.
Já adulto, entrei numa nova fase cinematográfica que me levou a uma troca de heróis. O Chewie e os seus gritos deixaram de me dizer algo.
Estávamos em 85...não, 86, assim é que é. Em 85 era um miúdo. Estávamos em 86 quando entrei num videoclube que por acaso ficava por baixo da minha casa. Nunca tinha visto um videoclube. Numa lojinha muito pequenina, um senhor de sorriso simpático e expressões que me divertiam, apresentava um conjunto pequeno de filmes. As K-7 vhs estavam espacadas umas das outras uns bons 5cm. A oferta não era grande. Reparei que no lado direito da loja, todo o canto superior direito estava cheio de vários filmes com o mesmo personagem. Perguntei ao "é-só-para-entregar?" quem era aquele senhor tão penteado que aparecia em 14 capas?
"Bond. James Bond."
Foi a primeira vez que ouvi e o arrepio ficou lá. Tinha atingido o topo.
Sim, o "Citizen Kane" já tinha sido feito, mas toda a gente sabia que o Orson Welles tinha complexos de inferioridade com a obra de Ian Fleming.
Escusado será dizer que o "é-só-para-entregar?" foi o meu primeiro-grande-melhor-amigo naquela semana em que vi todos os filmes feitos até então. Sequioso por mais perguntei: "Então e aquele em que ele anda com um tanque a perseguir o narigudo do vodka dentro de um daccia?". "Ainda não foi feito", disse-me num ar pesaroso.
Desde então converti-me ao Bondeísmo, discutindo taco-a-taco a riqueza de argumento com um Allen, Scorcese, Bergman, Coppola (nos tempos do padrinho) ou Lynch (isto se algum dia chegar a perceber um).
Claramente não há profundidade que se assemelhe a um Bond. Senão vejamos: no fim de cada filme do R.Moore há aquela cena típica em que o covil do mau é destruído e os marines aparecem para matar os soldados do vilão. Os marines vão sempre de azul e os bandidões têm sempre um fato de treino amarelo ou vermelho para não se confundirem na altura da castanhada. Meus amigos, se isto não é génio...
Poderia falar na banda sonora e naquele ta-ta-ran-ta-tan-ta-tan-ta-ra-ra...mas aí já acho que era humilhar. Não há paralelo no mundo.
Tornou-se imperativo arranjar a coleccão. E sem piratarias. Tudo limpinho e com caixas originais. A FNAC torturou-me durante 2 anos com aquela caixa a 70 cts. No iníco do verão um jornal sueco comecou a vender um filme por semana a 1000 paus. Do "Die another day" até ao "Dr. No". Já só faltam 4 para terminar a coleccão e fazê-la tem dado um jeito enorme porque alguns dos filmes ainda só tinha visto 10 vezes.
Agora, a grande questão que eu levanto é porque é que me lembrei do "é-só-para-entregar?" hoje?
Porquê? Será porque o "Thunderball" sai hoje?
Sim. Deve ser por isso.

2 comentários:

Patricia disse...

O Bambi também foi o meu primeiro filme!
Mas eu chorei, pronto, admito :P

Inês disse...

Adorei a história :) Só não me consigo lembrar qual foi o meu primeiro filme :S