segunda-feira, agosto 20, 2007

O selim



Olhei para o céu e não o vi.
É verdade, os óculos continuavam na mesa, mas ainda assim eu sabia que ele estava lá.
As nuvens também sabiam e resolveram escondê-lo com o carinho de um talibã por uma mulher.
"Segunda-feira" pensei. Não há nada de bom a esperar de uma segunda-feira.
Passei para outra janela. O céu era o mesmo. Quem diria…
Duche quente e cabelo penteado. Com as mãos. Que isso dos pentes é para meninos.
Roupa passada no sábado a desfilar no corpo. Sinto-me sempre outro com uma t-shirt sem vincos. Como se fosse o único a saber dos milagres que um ferro quente pode trazer a uma sociedade.
Calmamanente dirigi-me para o carro. Estava fresquinho sim, mas nem pensar em vestir um casaco. O meu relógio diz que o presente mês se chama Agosto e a minha t-shirt está impecávelmente esticada. Não, não e não. Casaco não entra neste cenário.
Coloco um pé em frente do outro e inicio aquilo que alguém em cinemática definiu como movimento rectilínio uniforme. A cabeca alinha pelo diapasão e olha apenas em frente. A paisagem está pintada com um carro decorado de ferrugem. É o meu. Lá dentro espera-me o Rodrigo Leão que ao som de "Cinema" me vai embalar até à Volvo. Sei que será assim.
No meio dos meus passos deixo a cabeca cair um pouco para a esquerda e contemplo o parque das bicicletas. Estão lá todas. Presas aos ferros. Umas velhas, outras nem por isso. Umas inteiras, outras nem tanto. Uma delas chama-me pelo olhar mais atento. Não tem banco.
"Curioso", penso. Ontem quando fiz este movimento em sentido contrário o banco estava lá. Foi roubado durante a noite. Azar do dono.
Pena ser eu.
Não fiquei chateado, afinal o mundo é feitos destes desiquilíbrios. Uns compram, outros roubam, outros misto. Tudo bem.
Ainda assim achei que Rodrigo Leão já não encaixava no cenário. Linkin Park ao vivo em Dallas já dava outro tom. A camisola continuava impecável. Nada a afectava.
Chego ao trabalho e sento-me com 8 suecos. Durante 3 horas discutimos documentos. Sendo o documento um pedaco de papel sem vida, torna-se quase impossível perceber como gera tanta discussão. O Excel é a grande invencão da gestão "vamos-distribuir-tarefas". Tudo bem.
Chego ao computador e ligo a TSF. "Portugueses presos em Yucatan por causa do furacão..." dizia o rapaz das notícias. Mas porque é que vão para Cancun penso eu? Ainda por cima quando os furacões se conseguem prever com tanta antecedência. Ahh…já sei, estavam a contar que a agência de viagens dissesse: "Parece que há vento…mas se quiserem ir….".
Passado o vendaval diz uma voz imperial "Nando já ganhou um par de patins!" (pareceu-me que ele disse isto...). Fiquei com o coracão aos saltos e de imediato pensei no "rodelas". Na segunda frase: "José António Camacho é o senhor que se segue!", nem queria acreditar, o Nando a andar e o Rodelas a regressar !
O dia até estava a correr bem, mas esta notícia puxou-me pela lágrima.
Eufórico corri e saltei pelos escritórios gritando: "Nando is history!!! Onion circles is back!!!"
A camisola essa, continuou imaculada.

1 comentário:

Sandrinha disse...

Depois de uma noticia dessas só alguém com grande espírito de sacrifício fica com a camisola imaculada!Boa!