sexta-feira, julho 27, 2007

18 meses


Tenho com o vil metal uma relacão muito "Mário Soares": "O que é preciso é uma boa ideia. O dinheiro logo se vê!"

Nunca fui muito organizado nesta vertente da vida, mas diga-se também que nunca houve muito para organizar. Falta-me aquele conceito de acumular para dias de tempestade.

Nada contra, mas na minha educacão o dia-a-dia foi sempre mais importante.
Passa agora um ano e meio sobre a decisão de fazer a mala de cartão e, se por segundos afastar as saudades, posso afirmar que a vida se tornou mais fácil (sim, retirando a chuvaaaa!!!).

Do ponto de vista prático, financeiro e social entenda-se. A falta que algumas pessoas me fazem acompanha-me em cada passo.

Mas, e analisando de uma forma fria, consigo perceber como neste espaco de tempo o dia-a-dia se simplificou, quando comparado com o (meu) quotidiano português. Tal como em Portugal, 1/3 do meu salário fica nos cofres do estado, mas o retorno é bem diferente. Felizmente, vou a um hospital 1 vez em cada 10 anos, mas caso queira passar por lá, pago igualmente uma taxa moderadora mas apenas até um determinado limite, a partir daí é de borla (o mesmo acontece com os medicamentos). No sistema de saúde os únicos profissionais privados são os dentistas (aposto que são brasileiros!), tudo o resto é público. Que eu saiba não existem por aqui hospitais privados...

Em Portugal, nos últimos 6 anos sempre que tive que ir a um hospital (normalmente como acompanhante), recorri quase sempre a privados para evitar as horas de fila. Claro que fazia isso porque a empresa onde trabalhava tinha um seguro para os funcionários que cobria 80% das despesas, caso contrário seria impossível. Acho que tinha sorte nesse aspecto, mas do ponto de vista global (de funcionamento das instituicões) não me parece boa política. Aproxima-nos muito do sistema de saúde "Tem seguro? Então operamos!" americano. A esse propósito, a gestora do grupo financeiro (cujo nome não me lembro) responsável por aquele novo hospital privado perto do Colombo, dizia que em 7 anos o investimento está recuperado e que melhor que o negócio da saúde, só o do armamento. Honesta.

Do ponto de vista cultural também vejo retorno dos impostos. Muitos museus são de borla ou apresentam tarifas anuais simbólicas. Os transportes públicos são relativamente baratos (passes) e qualquer bairro, vila ou cidade tem instalacões desportivas cujo acesso é gratuito. Relvados e mais relvados para maravilhosas futeboladas (sim, está científicamente comprovado que bola é cultura! Li na revista de ciência "ABola"!).
Não há muitas auto-estradas, mas as que existem são grátis e todas as restantes estradas apresentam condicões impecáveis de circulacão. As ciclovias invadem o país de norte a sul.
Há ainda um enorme retorno que é visível na área da educacão. A formacão escolar é totalmente grátis (para os pais). Até ao 12 ano ninguém pága nada e na altura de entrar para o ensino superior, é o aluno que contrái um empréstimo com o estado (bolsa) que pagará a um ritmo de 100 eur por mês (exemplo) quando entrar no mercado de trabalho. As bolsas permitem que os míudos aluguem um quarto enquanto estudam no ensino superior. É normalmente o primeiro salto para a autonomia e a verdade é que são eles que o pagam. Para os progenitores não sobra qualquer despesa, para além dos impostos óbviamente. Isto significa que ter 35 anos e dizer "Pai, dá-me dinheiro para o café!!" não tem grandes hipóteses de acontecer por estes lados. As creches, que normalmente levem uma boa fatia de salários no nosso país, são públicas na Suécia. Se a isso juntarmos o tempo de maternidade/paternidade (pode chegar a mais de um ano) e os dias para passar com o filho até ele atingir os 7 anos, percebemos porque é que este é o país com a maior taxa de natalidade na Europa.

Tudo isto acontece pagando eu o mesmo nível de impostos que pagava em Portugal.

As casas (comparativamente) são mais baratas e o seu pagamento não leva uma % tão grande do salário todos os meses. O valor do salário mínimo nacional ronda os 1300 eur.

18 meses depois posso dizer que este salto teve uma aterragem num colchão de penas.

Não existem mundos perfeitos é um facto, mas tenho que admitir que esta malta se esforca.

Curiosamente esta constatacão não me abre o sorriso, deixa-me é a pensar: "Porque é que em Portugal não é assim?"
(sim, sim, eu sei a resposta...mas a 3000 Km de distância a pergunta ganha outro sentido)

4 comentários:

Sandrinha disse...

Pois, eu também me faço a mesma pergunta mas em comparação com a Suiça...

Inês disse...

Dá que pensar...

ups disse...

A minha estadia na Noruega também me pôs a pensar muito nisso. Aqui em portugal ganho menos, paga mais (comparativamente) em impostos e tenho menos regalias.
Neste momento só quero acabar o curso para me por a andar para um sitio onde há qualidade de vida. Querem que as pessoas se fixem.. ofereçam condições.

Brisa disse...

Porque é que em Portugal não é assim? Simples, o tuga não quer trabalhar. Quer, sim, ganhar montes de dinheiro sem se esforçar. Vive exclusivamente para o dia de hoje e para invejar o vizinho que tem mais uma erva que ele no quintal. Ah, e para empatar quem quer ir mais além!