quarta-feira, outubro 11, 2006

No "King"

Não consigo deixar de me surpreender diariamente com as ciclovias. Talvez denote um certo espírito rural, mas fico fascinado com as condições proporcionadas aos ciclistas. Estradas com duas faixas de rodagem, linhas pintadas no chão, placas de direcção em cada cruzamento, pequenos semáforos com o símbolo da bicicleta, viadutos, tuneis, parques de estacionamento. Sinto-me no "mundo encantado da playmobil", mas desta vez o "boneco" sou eu.
Rodávamos no outro dia numa destas vias quando passámos por um pequeno cinema. Na porta estavam anunciados 3 filmes, sendo que um deles era o "Volver" do Almodovar. Pensámos: "Será o King cá do sítio?". Até ao momento ainda só tínhamos descoberto o "Colombo", o "Vasco da Gama" e as suas doses maciças de "Born in Hollywood" regadas com litros de Cola e toneladas de pipocas (e gomas).
Foi uma alegria geral quando percebemos que aquele espaço passava filmes que em Lisboa costumam aparecer no King ou no Quarteto e em Setúbal, essa bela localidade, no Charlot.
Ontem fomos até lá ver um filme de produção europeia, que retrata a década de 20 na Rep. da Irlanda, no antes e depois da assinatura do tratado com Londres. Para quem viu o "Michael Collins", este filme vai um pouco mais além no período histórico abordado e mostra parte do conflito que estalou entre a facção que concordava com o tratado e a que exigia a independência total da coroa.
É um relato cru e duro de uma das épocas mais sangrentas da história da Rep. da Irlanda. Deixa um pouco de lado o conceito de "luta popular contra o invasor" (embora o ódio aos ingleses seja uma constante) para se centrar mais no indivíduo e na crença de determinado ideal. Há cenas que não me sairão tão cedo da cabeça. Não é um filme fácil de "encaixar" porque contém uma série de momentos que impressionam, tanto durante a ocupação inglesa como depois.
Por outro lado, é absolutamente impossível sair da sala de cinema indiferente. O filme toca-nos, mexe com os nossos sentimentos e faz-nos pensar. A realização está dividida por vários países (entre os quais a Inglaterra e a Rep.Irlanda) e talvez por isso, se evite o clássico conceito "bons" vs "maus".
O Homem e a defesa a qualquer custo dos seus ideiais, parece-me uma boa frase de síntese.

O título original é "THE WIND THAT SHAKES THE BARLEY" e para quem quiser saber mais qualquer coisa, pode dar um salto aqui.

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