Imagem retirada da exposição de fotografia, patente na praça do teatro nacional em Copenhaga.
Nota importante:As fotografias estavam expostas em painéis de VIROC :)
Mal entro, antes sequer do bom dia ele dispara: "Capricciosa with banana!!!". Mesmo que não seja essa a vontade inicial, poucas são as vezes que altero o "pedido" que ele faz por mim. É quase sempre assim, na pizzaria de um emigrante sérvio aqui bem perto de casa. Naqueles 10 minutos que o forno demora a confeccionar a pizza, damos em conjunto uma volta por temas que nos são comuns.
- "Quanto tempo ficas na Suécia?", perguntou-me.
- "Não sei, sinceramente não sei", respondi.
- "Porque vieste para cá? Não se vive bem no teu país?", continua.
Explico-lhe quanto vale um salário médio em Portugal, conto-lhe que para muito gente esse salário médio, apesar de miserável, é uma miragem, explico-lhe que pertenço à geração 1000 euro, tento traçar nos minutos que o forno me dá, um leve esboço de Portugal. Não me atrevo a perguntar a razão que o levou a abandonar a sua Belgrado natal. Tenho quase a certeza da resposta. Apesar de estarmos no mesmo sítio, fomos empurrados por razões diferentes e bastante mais dramáticas no caso dele. Entre o espanto que mostra por Portugal ser um país pobre ao fim de tantos anos na UE, questiono-o sobre o turismo na Sérvia. Diz-me que não é bom. Croácia e Montenegro exploram as maravilhas do Adriático. Bósnia e Sérvia não conseguem. Mostra-se indignado pelas vendas das cervejeiras e maiores industrias nacionais aos alemães e italianos. "Estão a levar tudo de borla!", diz com cara de poucos amigos.
Tento desanuviar. "Para quando a entrada na UE?",disparo. "10 anos pelo menos", responde abanando a cabeça como se não tivesse esperança. Diz-me que o governo e o povo nunca entregarão a Haia os dois generais acusados de crimes no massacre de Srebrenica. "Todos sabem onde eles se escondem, o governo, o povo, mas nunca os entregarão..são heróis nacionais!". Não manifesto a minha opinião sobre o tema. A pizza está quase pronta e uma tarde não chegaria para discutir o assunto. A verdade é que nos conflitos dos Balcãs, nunca "caí" muito para o lado dos Sérvios no período pós-Tito. "Politics my friend, politics", diz ele enquanto me entrega a "capricciosa med bananen".
Não somos mais do que 2 emigrantes, percorrendo estradas diferentes com um paradeiro comum. Nos 10 minutos que o forno nos proporciona, nesse mesmo paradeiro, desvendamos um pouco mais desse caminho.
Simples e no entanto, enriquecedor. Gosto do sérvio!
(...)
Hiiiiii...já são 15h !!!! Vou lavar roupa!!!Oslo espera-me e nem umas cuequinhas tenho!!!
Bom fim-de-semana.
Tiago
2 comentários:
É incrível o que se ganha quando dispomos do tempo para nós e para ouvir os outros.
É incrível o tempo que perdemos com a roupa , o pó , enfim... com a lida da casa , porque pouco depois volta tudo ao mesmo.
Aproveita bem. Não te preocupes muito com as cuecas ( podes sempre comprar umas novas ).
Também já passei pela experiência de ser acolhida num país bem diferente do meu e compreendo perfeitamente o que dizes. Conheci realidades muito distintas, pessoas, cuja filosofia de vida é o completo reverso daquilo que achava razoável. Aprendi imenso e nesse espaço de tempo cresci mais do que em alguns anos no meu país.
Descobri este teu espacinho por acaso e deixei-me ficar por aqui a ler as tuas palavras. Voltarei com certeza! (até porque tenho um fascínio secreto pela Suécia, não sei bem porquê...)
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