quarta-feira, agosto 09, 2006

Ainda o conflito Israelo-Árabe

Como é normal em tempo de guerra, alinham-se vozes e ecoam opiniões sobre a razão da mesma. Neste caso e pela antiguidade histórica do conflito, parece-me redutor culpar "um dos lados". Ao longo das décadas formaram-se culpas, criaram-se mais ódios e duvido que alguém consiga imaginar uma resolução permanente para este conflito. As culpas dividem-se, talvez não de igual forma, mas dividem-se...parece-me de senso comum. Estava eu a ler sobre o assunto quando encontrei este texto de Vasco G. Moura.
Apesar de ser uma visão "ultra-pró-Israel" com a qual eu não consigo (na íntegra) concordar, parece-me bastante interessante ver como ele "refaz" a História e a partir daí seguirmos para as nossa próprias conclusões.



" No termo da primeira Guerra Mundial, a declaração Balfour e o mandato britânico na Palestina foram enquadrados pela conferência de San Remo (1920) na perspectiva do Tratado de Versalhes. Logo nesse ano, os judeus foram atacados pelos árabes na Galileia.Em 1921, entrou em funções o grande mufti de Jerusalém, Haji Amin al-Husaini, cujo ódio visceral aos judeus o levou a criar um conselho muçulmano que passou imediatamente à jihad e ao terrorismo e esteve na origem do pogrom desse ano. Mais tarde, foi adepto convicto da "solução final" de Hitler.Elie Kedourie observa terem sido os Husainis "quem dirigiu a estratégia política dos palestinianos até 1947 e os levou à ruína absoluta".Em 1937, uma comissão presidida por Lord Peel propôs que Israel ficasse aproximadamente com um quarto do território e os palestinianos com os restantes três quartos. Os judeus acabaram por aceitar. Ficavam só com parte da Galileia e uns 30 km de costa entre Gaza e Acre. Jerusalém seria um enclave sob controlo britânico. Os árabes recusaram. E, em 1938, na Conferência do Cairo, acordaram na obstrução a Israel por todos os meios.Na proposta de divisão feita pela ONU em 1947, a proporção seria de 50% para cada lado. Empurrava o povo de Israel para o Negev e o Mar Morto e excluía os lugares judeus por excelência, como a Judeia, a Samaria, a Margem Ocidental do Jordão e Jerusalém. Mas os judeus voltaram a aceitar. Segundo Abba Eban, desistiam de lugares de forte simbolismo religioso e histórico, em favor de uma política que evitasse "qualquer conflito com as realidades demográficas existentes. Tratava-se de estabelecer os judeus onde os árabes não estivessem em posse fixa e estável."Os árabes continuaram a recusar e a recorrer à violência. A seguir à decisão da ONU de 29-11-47, tentaram destruir todos os colonatos judeus. Mal Israel se tornou Estado independente, desencadearam a guerra. Azzam Pasha, secretário-geral da Liga Árabe, anunciou: "Esta será uma guerra de extermínio e um sério massacre."Por várias razões, entre elas o medo, 656 mil árabes fugiram do território de Israel depois de 1947-48. Mas houve também 500 mil judeus que, entre 1948 e 1967, tiveram de fugir dos países árabes onde tinham as suas comunidades havia mais de dois milénios, refugiando-se em Israel.O Governo israelita integrou todos os refugiados judeus. Os Governos árabes criaram campos para instalação dos respectivos refugiados, de modo a que as suas carências se agravassem em termos explosivos. A Rádio Cairo anunciou: "Os refugiados são o armamento dos árabes e do nacionalismo árabe."Em 1949, com base no armistício celebrado, Israel tentou um acordo sobre as fronteiras. Os árabes voltaram a recusar.De 1948 a 1956, foram assassinados mais de 1300 israelitas, o que explica o rigor crescente das retaliações contra as bases terroristas.Em 1950, os árabes rejeitaram mais uma vez o plano da ONU quanto a uma reinstalação. Nem o discutiram.A partir de 1955, Nasser quis estrangular Israel, impedindo-lhe o acesso ao Canal de Suez e ao golfo de Ácaba. A crise do Suez, em 1956, acabou pela retirada inglória das tropas anglo-francesas e pela tomada do Sinai e de Gaza por Israel, que veio a aceitar sair do Sinai desde que o Egipto não o militarizasse e a ONU lá colocasse uma força-tampão.Em 1967, Nasser mandou sair a ONU, que obedeceu, e invadiu o Sinai. Todos se lembram dos milhares de botas que os egípcios deixaram no deserto, fulminantemente derrotados pela reacção de Israel que então tomou Jerusalém, a margem esquerda do Jordão, o Golan e o Sinai. Foi a Guerra dos Seis Dias.Em 1973, Sadat atacou de surpresa. Foi o Yom Kippur. Mas Israel também chegou triunfante ao cessar-fogo de 24 de Outubro.No mesmo ano, a subida do petróleo permitiu financiar a compra de armamento e o terrorismo árabe.Em 1975, a ONU, sempre patética, equiparou o sionismo ao racismo e deu ao terrorista Yasser Arafat um estatuto de Chefe de Estado.A OLP enveredara pela acção terrorista em 1968. O terrorismo árabe dos anos 70 e 80 lutava por uma causa árabe ou palestiniana, mas não pelo Islão, e uma proporção significativa dos líderes e activistas da OLP eram cristãos (Bernard Lewis).Expulsa da Jordânia, a OLP fixou-se no Líbano, de onde passou a atacar os judeus. Israel invadiu o Líbano em 1982 e só parou quando o limpou da OLP. O fundamentalismo islâmico e as milícias do Hezbollah vieram depois.O terrorismo dos últimos anos dispensa recapitulações. O Presidente nazi do Irão continua a falar no extermínio de Israel.Paul Johnson observa que para os árabes não há qualquer seriedade numa negociação. Esta, para a sua mentalidade, implica uma cedência a interesses contrários e é considerada traição. Quando muito aceitam tréguas para recuperarem o fôlego e pegarem de novo em armas.Um cessar-fogo sem a neutralização do Hezbollah não leva a lado nenhum. Como diria Álvaro de Campos, os judeus não são parvos nem romancistas russos aplicados."

Vasco Graça Moura

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