quarta-feira, julho 12, 2006

Algumas considerações sobre o caso F16...

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Embalados, encaixotados, em papel de embrulho com ursinhos ou em naftalina, é verdade sim sr! Existem F16 em armazém à espera de serem montados! Estou farto de os ver!
Porquê? Bem... para começar porque um avião militar não é um carro e não existe nenhuma linha de montagem no mundo capaz de os montar às centenas... por dia!
Mas começando do início...
É necessário lembrar que os militares são tutelados pelo poder político (por isso têm um ministério próprio) e que todas as decisões, quer ao nível operacional ou logístico, são tomadas pelo referido poder.
Nos longínquos anos 90, no governo de Guterres, foi tomada a decisão, pelo poder político, que Portugal deveria aumentar a sua capacidade na defesa aérea e adquirir uma nova capacidade de ataque ao solo através de armas inteligentes.
Por esta altura, Portugal tinha timidamente participado na guerra no Kosovo com 3 F16, na retaguarda, apesar do muito orgulho em estar presente na força da NATO. Ao mesmo tempo, assistíamos na Tv às imagens das bombas e mísseis inteligentes do EUA a atingirem pontes com comboios civis e tractores
agrícolas como se tanques se tratassem. Esta era a capacidade que o nosso poder político queria... no entanto, os 20 F16 que já tínhamos não eram considerados suficientes e propôs-se a compra
de mais 20.
Como era necessário fazer um upgrade aos aviões, para adquirir as tais novas capacidades, foram adquiridos à Lockheed 40 Kits designados por Kit MLU (Mid Life Upgrade).
Para melhor se perceber o que é um Kit MLU imaginemos que temos um PC com 2 ou 3 anos, praticamente novo, mas cujas capacidades já forma ultrapassadas por tecnologia mais recente. Compramos um novo processador, mais RAM, um disco novo e voillá! Aparentemente é o mesmo PC mas com novas capacidades que permitem utilizá-lo por mais 2 ou 3 anos. Isto é o MLU.
No entanto, e repetindo, um avião não é um carro...
Para fazer essa modificação, foi contratada a OGMA, a única empresa aeronáutica com dimensão internacional que existe em Portugal que já foi parte integrante da FAP. Esta empresa tem algumas capacidades reconhecidas internacionalmente para a manutenção de diversos aviões, quer civis quer militares.
Mas este trabalho era diferente... completamente diferente de tudo aquilo que já tinha feito... e passados alguns anos sobre o programa ela (a OGMA) não tem de facto capacidade técnica para executá-lo em tempo útil. Nem a FAP!
A OGMA e a FAP têm dividido o trabalho do MLU mas sem o sucesso esperado e o programa continua a atrasar... mas há uma alternativa: contratar uma empresa belga especializada que consegue cumprir o calendário e por um preço mais baixo!
Porque não se faz? Porque se o governo e a FAP retira este programa da OGMA ela entra em colapso financeiro! Já por várias vezes a FAP ameaçou em enviar os seus aviões (para manutenção) para outras empresas (estrangeiras), orçamentos mais baixos e prazos de entrega mais curtos e os trabalhadores da OGMA vinham para os jornais difamar a FAP por não defender os interesses nacionais!
Enfim... podia contar dezenas de outros exemplos para além do caso dos F16 envolvendo dinheiros públicos e a OGMA. (Ainda não tinha referido mas a OGMA ainda tem o estado como accionista).
Entretanto, e do ponto de vista operacional, o poder político chegou à conclusão de que não precisaríamos de 40 F16 (conclusão acertada do meu ponto de vista) e por conseguinte temos de vender aqueles que não precisamos.
Porquê vender? Porque os 40 Kits MLU e os 20 F16 adicionais já foram todos comprados! E assim, o objectivo é tentar rentabilizar o investimento, ou por outras palavras... tentar não perder tudo...
Quando estas notícias vieram para os jornais rapidamente se questionou a existência e a função das Forças Armadas e no entanto ninguém parou para pensar que de facto foi uma decisão difícil e, quanto a mim, bem tomada. Apesar de não serem bons exemplos por comparação ao nosso país, mas devo referir que a Bélgica e Holanda tomaram decisões idênticas a esta com a diferença que os seus aviões já estavam montados e alguns já em operação.
Continua-se a brincar com o dinheiro dos contribuintes, é um facto, mas os portugueses continuam míopes, não têm visão estratégica a longo prazo, apenas se importam com o agora e são incapazes de planear a 20 ou 30 anos.
As decisões para o "agora" são as mais fáceis de tomar..."


Anónimo

1 comentário:

Anónimo disse...

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