Andava
aqui a pregar aos meus botões quando me lembrei que Portugal ainda não tem
governo. Primeira questão : já repararam que não se nota ? É o que
acontece normalmente nos protectorados. Temos dois ou três mangas de alpaca e
pensamos todos que existe por ali, entre o Rato e a (introduzir rua da sede do
PSD - eu não me lembro e não vou Googlar detalhes que só estragam a prosa),
algum poder de decisão. Mas não, é ligeiramente irrelevante. As ordens chegam
da UE, da Merkel e de mais dois ou três governos de direita que mandam nos
outros 27. Manda quem paga. É um clássico desde o tempo da Roma de César. Um qualquer, do Júlio ao Augusto.
Mas voltando ao burgo, dizia que
que andamos no limbo e nas reuniões esquerda-direita e coiso e tal. Tenho lido
bons romances nestas últimas duas semanas e alguns mistérios com golpes
palacianos. Não percebo bem o escândalo das esquerdas se unirem…qual é o problema?
Não representam efectivamente a maioria dos votantes? Ah e tal mas não
mostraram esse cenário antes das eleicões? E então? Se mostrassem os outros 50%
teriam ido votar? Passariam a ter interesse na vida política e nas decisões?
Como diria Rui Oliveira e Costa, I don’t sink so.
Das
várias coisas boas que apareceram na imprensa destaco a declaracão de Paulinho :
”Cedo o meu lugar no governo a António Costa”. Muito e muito bom. Qual lugar
Paulinho? Aquele que inventaste em mais um jogo de cintura irrepreensível ou
aquele que achas que terás num governo que ainda não foi empossado? Se algum
dia quisermos contar a um filho, de forma resumida, o que é o lamacal político
português, basta mandá-lo ler o Linkedin do Paulo Portas. Está tudo ali. Da
lata ao esquema, passando pela ambicão desmedida.
Cavaco
vai chamar Passos e dizer um “orienta-te“. Provavelmente
terá a mesma sorte do que o segundo governo de Sócrates. Costa, os Seguristas e
o novo BE vão fazer a cama a PSD e CDS. Cheira a poder dentro de um ano. Se tivesse que apostar
fichas ainda deixava umas de lado para o “animal feroz” que entretanto se
soltou.
Continuo
a achar que a alternativa PS não é uma verdadeira alternativa. Com BE, PCP e o
Livre (a quem os eleitores não deram qualquer hipótese) em lugares de decisão,
já acredito mais. E ao contrário da maioria não vejo como negativa esta
abertura de BE e PCP para a negociacão. Prefiro que neguem alguns dos seus
valores da campanha para entrarem em zona de decisão do que, como até aqui, ter
o Centrão e a sua teia de interesses a gerirem o dinheiro público.
Um
dado que acho interessante, pelo menos visto daqui, é a realidade dos deputados
eleitos pelos círculos fora de Portugal. PS e PSD colocam os mesmos deputados
há anos em representacão dos emigrantes, uma espécie de lugar vitalício, ainda
por cima, segundo vou percebendo, por pessoas que nem sequer residem fora de Portugal
e pouco ou nada conhecem da realidade que representam. É uma simples conta de
distribuir os boys pelos lugares elegíveis. E nós continuamos a votar…fora e
dentro, nos mesmos, com ou sem troika, com ou sem austeridade, com ou sem 100 000
a abandonarem o país por ano.
E no
fim de tudo, o argumento que decididamente não consigo perceber e que me leva
ao descrédito total. Semanas, meses de propaganda económica, com comentadores
laranja em todos os canais, artigos nos jornais e a máquina bem oleada a
explicar que « agora Portugal pode mais », que o esforco valeu a
pena, que as contas estão em ordem e agora é que é. Mais de 30% da populacão
disse que sim e concordou com esta falácia. Ora…dados públicos disponibilizados
pelo INE (qualquer pessoa pode consultar) explicam que a dívida externa do país
subiu brutalmente nestes 4 anos. Percebem ? Uma coisa é o país
endividar-se para segurar os empregos, manter os apoios sociais, manter as
empresas públicas, etc. Outra coisa bem diferente é um país aumentar a sua dívida
externa, ao mesmo tempo que vende as suas empresas estratégicas, em que vê
milhares abandonarem o país, em que aumenta impostos e aumenta as suas receitas
fiscais. Se o que PSD e CDS dizem fosse verdade, todo este sacrifício teria que
se reflectir na descida do nível de endividamente externo. É matemática simples
que qualquer Camilo Lourenco consegue perceber. Mas não foi isso que aconteceu
pois não ? Pois…
Até
poderiam ser peaners e deixávamos a bola rolar. Mas não dá. É muita asneira
junta e várias décadas ao nível do Haiti da Europa que nos esperam. E eu estou
farto de gelar aqui em cima, cappice ?
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