terça-feira, outubro 20, 2015

Quem quer o lugar que o Paulinho inventou?


Andava aqui a pregar aos meus botões quando me lembrei que Portugal ainda não tem governo. Primeira questão : já repararam que não se nota ? É o que acontece normalmente nos protectorados. Temos dois ou três mangas de alpaca e pensamos todos que existe por ali, entre o Rato e a (introduzir rua da sede do PSD - eu não me lembro e não vou Googlar detalhes que só estragam a prosa), algum poder de decisão. Mas não, é ligeiramente irrelevante. As ordens chegam da UE, da Merkel e de mais dois ou três governos de direita que mandam nos outros 27. Manda quem paga. É um clássico desde o tempo da Roma de César. Um qualquer, do Júlio ao Augusto.
Mas voltando ao burgo, dizia que que andamos no limbo e nas reuniões esquerda-direita e coiso e tal. Tenho lido bons romances nestas últimas duas semanas e alguns mistérios com golpes palacianos. Não percebo bem o escândalo das esquerdas se unirem…qual é o problema? Não representam efectivamente a maioria dos votantes? Ah e tal mas não mostraram esse cenário antes das eleicões? E então? Se mostrassem os outros 50% teriam ido votar? Passariam a ter interesse na vida política e nas decisões? Como diria Rui Oliveira e Costa, I don’t sink so.
Das várias coisas boas que apareceram na imprensa destaco a declaracão de Paulinho : ”Cedo o meu lugar no governo a António Costa”. Muito e muito bom. Qual lugar Paulinho? Aquele que inventaste em mais um jogo de cintura irrepreensível ou aquele que achas que terás num governo que ainda não foi empossado? Se algum dia quisermos contar a um filho, de forma resumida, o que é o lamacal político português, basta mandá-lo ler o Linkedin do Paulo Portas. Está tudo ali. Da lata ao esquema, passando pela ambicão desmedida.
Cavaco vai chamar Passos e dizer um “orienta-te“. Provavelmente terá a mesma sorte do que o segundo governo de Sócrates. Costa, os Seguristas e o novo BE vão fazer a cama a PSD e CDS. Cheira a poder dentro de um ano. Se tivesse que apostar fichas ainda deixava umas de lado para o “animal feroz” que entretanto se soltou.   
Continuo a achar que a alternativa PS não é uma verdadeira alternativa. Com BE, PCP e o Livre (a quem os eleitores não deram qualquer hipótese) em lugares de decisão, já acredito mais. E ao contrário da maioria não vejo como negativa esta abertura de BE e PCP para a negociacão. Prefiro que neguem alguns dos seus valores da campanha para entrarem em zona de decisão do que, como até aqui, ter o Centrão e a sua teia de interesses a gerirem o dinheiro público.
Um dado que acho interessante, pelo menos visto daqui, é a realidade dos deputados eleitos pelos círculos fora de Portugal. PS e PSD colocam os mesmos deputados há anos em representacão dos emigrantes, uma espécie de lugar vitalício, ainda por cima, segundo vou percebendo, por pessoas que nem sequer residem fora de Portugal e pouco ou nada conhecem da realidade que representam. É uma simples conta de distribuir os boys pelos lugares elegíveis. E nós continuamos a votar…fora e dentro, nos mesmos, com ou sem troika, com ou sem austeridade, com ou sem 100 000 a abandonarem o país por ano.
E no fim de tudo, o argumento que decididamente não consigo perceber e que me leva ao descrédito total. Semanas, meses de propaganda económica, com comentadores laranja em todos os canais, artigos nos jornais e a máquina bem oleada a explicar que « agora Portugal pode mais », que o esforco valeu a pena, que as contas estão em ordem e agora é que é. Mais de 30% da populacão disse que sim e concordou com esta falácia. Ora…dados públicos disponibilizados pelo INE (qualquer pessoa pode consultar) explicam que a dívida externa do país subiu brutalmente nestes 4 anos. Percebem ? Uma coisa é o país endividar-se para segurar os empregos, manter os apoios sociais, manter as empresas públicas, etc. Outra coisa bem diferente é um país aumentar a sua dívida externa, ao mesmo tempo que vende as suas empresas estratégicas, em que vê milhares abandonarem o país, em que aumenta impostos e aumenta as suas receitas fiscais. Se o que PSD e CDS dizem fosse verdade, todo este sacrifício teria que se reflectir na descida do nível de endividamente externo. É matemática simples que qualquer Camilo Lourenco consegue perceber. Mas não foi isso que aconteceu pois não ? Pois…
Até poderiam ser peaners e deixávamos a bola rolar. Mas não dá. É muita asneira junta e várias décadas ao nível do Haiti da Europa que nos esperam. E eu estou farto de gelar aqui em cima, cappice ?

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