Ando aqui às voltas com um
texto. Não me apetece contribuir para entupir as redes sociais.
Aliás…esse seria um tema
interessante para discutirmos um dia destes, entre um gin ou uma ginja, na
praia ou numa da colinas. Quando é que ficámos tão indiferentes à miséria
humana? É impressão minha ou vivemos a regra do drama diário de há uns anos a
esta parte ? Num
dia somos todos Charlie, no outro o miudo da praia turca. Choramos e insultamos
meio mundo sem sair do sofá. Depois mudamos para a BTV e vemos o golo do Jonas,
entretemos os filhos com os
iQualquerCoisa e está feito. No dia seguinte insultamos o Relvas que já comenta
debates na TVI e vociferamos uma xenofobia básica contra os refugiados. Olha,
está a comecar o Sporting do Jesus. Venha de lá essa cerveja. Sim,
parece que está mau ali para os Mohameds e não sei quê.
Chega a pensão ou o salário.
Ainda com os cortes que prometeram que nunca exisitiriam. "Filhos da puta", dizes tu junto à máquina de café
ao teu colega da contabilidade. Juntos clamam por justica e desejam a maior das diarreias ao Passos, ao
Sócrates e ao Costa. "Em quem vais votar ?”, pergunta o Fernando da logística. « Acho
que no CDS, o Portas pelo menos defende os reformados«, respondes tu enquanto
pensas na tua mãe.
E partilhas connosco no facebook.
Até metes um pedaco do debate entre o Portas e a Catarina. A tua parte preferida foi aquela em que ele passou
20 minutos a falar da Grécia e se escapou a tudo o que era tema nacional. Tens
uns quantos likes. Mas menos do que tiveste naquele post espectacular a
falar dos terroristas que atravessaram a fronteira da Macedónia. Em
termos de activismo já fizeste a tua parte por hoje.
Apetecia-me falar da
estratégia de debate do PSD e CDS. De como se escudam no Syriza ou no Sócrates,
fugindo à avaliacão dos últimos 4 anos. Acho que isso beneficia a esquerda, o
que te parece ? Ou da catástrofe que se vai abater na Europa por causa da
última década de líderes mundiais fracos ou corruptos como Sarkozy, Bush,
Blair, Hollande, Putin e Merkel que sugaram os países em seu redor ou comecaram
guerras sem fim à vista. Afeganistão, Líbia, Iraque, Síria, Ucrânia. Acho
estranho esta coisa dos fluxos migratórios. Quem é que não quer ficar em Homs e
seu novo conceito arquitectónico ? Mais arejado, com mais estacionamento,
menos trânsito. "Esta
malta só quer é vir para a europa sacar subsídios", ouvi o doutor da administracão
a dizer. Ele tinha gravata e tudo, deve perceber dessas coisas.
Também gostava de perguntar
como é que, depois de um pai perder uma família num barco de borracha a fugir
da guerra, tu te indignas com a prioridade que não é dada ao mendigo do Martim
Moniz ? Ou como garantir, aqui entre nós, que a jornalista que agride
miudos refugiados em fuga não é apenas o "sound
byte" do
dia ? Como é que podemos ficar mais humanos e menos interessados na merda
do lancamento do iPhone 247 ?
Apetecia-me discutir isso tudo mas não faz muito
sentido. Tu, o Fernando e todos os outros já o fizeram. Demos todos a volta ao
mundo sem sair do sofá. E partilhámos tudo No Facebook, no Twitter, no
Instagram e naquela que só funciona para os chineses. Mudámos o mundo
deixando-o igual. Entupimos a rede com imagens do Buda a dizer que somos uma
nódoa.
Cansas-me. Tu, o Fernando e o activismo de
sofá.
Vou antes ver o Benfica. E
daqui a bocado vou levar roupa minha e do meu filho para esses mamões dos
sírios que só querem é boa vida.
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