sábado, janeiro 24, 2015
O homem do meio
Um dia destes acordei com um telefonema estranho. Voz feminina, lingua inglesa, sotaque da Índia.
Entre esfregar os olhos e comecar a perceber o que me estava a ser transmitido passou uma eternidade. Bem sei que são fluentes, mas aquela pronúncia não facilita. Pelo menos para mim.
A rapariga estava sentada em Pune, se percebi bem, e trabalhava para uma consultora americana com sede em Nova Iorque. Ora, se há alguma coisa que fui aprendendo ao longos dos anos é que, se uma empresa tem sede em NI em princípio não produz nada. Ou vende oxigénio na bolsa ou vende CVs e nomes de pessoas.
Ainda mais intrigado fiquei e resolvi passar água na cara para ver se acordava.
Uma empresa indiana queria entrar no sector automovel. A história comecava aí. Resolveu contratar uma empresa de consultadoria local para fazer um estudo sobre a matéria. Essa consultora indiana contactou a empresa americana, através do escritório local, para saber nomes de pessoas com experiência na área e que pudessem responder a questões técnicas. Os americanos (através do escritório indiano) foram então ao linkedin e encontraram CVs apropriados, entre os quais o meu.
Depois de ouvir esta história toda, pensei: "porque raio não foram os indianos que querem abrir um negócio directamente ao linkedin? Ou vá...porque não foi a primeira consultora ao linkedin? Porque é que meteram os americanos também ao barulho?"
A rapariga pergunta-me se aceitaria 1h ao telefone a troco de 200 dólares para responder a questões técnicas. Comecei a desconfiar do esquema...não estou habituado a que chova assim para o meu lado.
Mas aceitei.
Passados uns minutos telefona-me o rapaz de Nova Iorque para me meter em contacto com o camarada na Indía. Uma hora depois, quando desligo o telefone, vejo que os meus dados estão na base de dados da tal empresa de NI, para ser utilizado em futuras consultas.
Uma espécie de repositório de ucranianas para casamentos ilegais, mas em versão sofisticada e com venda de conhecimento em vez de carne.
Confesso que não me agradou. A globalizacão terá muitas vantagens e, uma pessoa que está no meio da Índia conseguir, em poucas horas, encontrar um contacto desejado até pode ser uma delas, mas a quantidade de sanguessugas que se alimentam no processo é algo que me enerva.
Criam-se empregos e profissões com nomes pomposos com a única tarefa de andarem no google ou no linkedin à procura do CV certo, para o direcionar e sacar uma comissão.
Não há qualquer mais valia nisto. Qualquer pessoa pode procurar no linkedin e estabelecer contacto pelo seu próprio "dedo".
Talvez esteja a ficar velho ou o mundo avance depressa demais, mas decididamente não me habituo a estas profissões que nascem como cogumelos, sem qualquer tipo de formacão académica ou requisito especial, e que se limitam a usar o conhecimento dos outros a troco de comissões. "We provide the best experts" é normalmente a frase que me leva ao vómito. Não...vocês não providenciam nada. Vocês transferem uma chamada de A para B e, na melhor das hipóteses, copiam um CV do linkedin para o vosso site. É apenas isso. São uma simples central telefónica, uma espécie de PBX dos tempos modernos. Mais ou menos aquele conceito de quando a striper vos tenta convencer que é uma bailarina.
Cada vez tenho menos paciência para isto.
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