domingo, novembro 09, 2014

O muro da vergonha, 25 anos depois





Berlim é como Coimbra, encanto a rodos mas nem sempre na hora da despedida.
Passam hoje 25 anos sobre as primeiras marteladas que deitaram o muro da vergonha por terra. E digo muro da vergonha porque, entre outras outras coisas, aquela aberracão provou a falência de um sistema.
Já tive esta discussão com várias pessoas e, parece-me, nem sempre consigo explicar a diferenca de opinião política em Portugal ou fora.
Ser simpatizante comunista em Portugal é uma coisa. Sê-lo na Polónia, na Finlândia, na Letónia ou numa cidade do leste alemão, Leipzig por exemplo, não é a mesma coisa. E explico porquê.
Em Portugal o PCP foi o mais importante movimento político na luta pela liberdade. Aos longos dos anos em democracia, nem sempre se conseguiram renovar ou distanciar da base (Estalinismo), mas, honra lhes seja feita, são uma forca importante na defesa dos direitos dos trabalhadores, não há casos de corrupcão e histórias mal contadas com os seus deputados, financiam o partido com os seus salários e fazem um bom trabalho nas autarquias. Claro que eu preferia que não aprovassem regimes como o norte-coreano, invasões como a de Praga ou apoiassem gente como o Mário Nogueira, mas prefiro 1000 vezes uma forca politica como o PCP do que um conjunto de oportunistas sem espinha e/ou ideais, que fazem da política um jogo de corrupcão e troca de interesses. Sim, referia-me ao CDS do Paulinho das Feiras.
Já no leste europeu, comecando em Turingen (Alemanha) onde, se a memória não me falha, comecavam os dominios do Pacto de Varsóvia, a coisa piava mais fino.
No caminho entre Estalinegrado e Berlim, durante a II GG, o Exército Vermelho foi libertando o caminho da Nazis e instalando russos. No fim da guerra, passando a imagem de "povo libertador", os russos criaram a necessidade de abracar todos os territórios ocupados. Portanto, muitos desses povos, limitaram-se a trocar as SS pelo KGB. Ou seja, o regime comunista foi assumido, ao longo das décadas, como o que ocupa, o que instala uma espécie de ditadura. Ora...isto é exactamente o que nós pensamos de Salazar. E quando digo "nós" não me refiro aos saudosistas que votam em programas da RTP. É portanto fácil, espero eu, perceber porque se apoia o PCP em Lisboa mas dificilmente se compreende a sua evolucão histórica dentro dos muros do Pacto de Varsóvia.
Berlim foi dividida em 4 zonas, entre os Aliados, depois de 1945. A parte Este de Berlim comecou a seguir a linha dura da URSS e, com o tempo, os Berlinenses comecaram a perceber que não era bem aquilo que queriam ou esperavam do pós-guerra. Comecaram os movimentos para a zona oeste, ocupada por outras potências, nomeadamente os americanos. O exôdo foi tal ao longo dos anos (mais de 3 milhões) que o regime comunista decidiu construir o muro, tornando a prisão oficial.
O muro isolou a parte ocidental e tirou a liberdade a uns quantos milhões. Com razões diferentes, o fim foi o mesmo de Ramallah, na Cisjordânia. Uma prisão a céu aberto.
O regime comunista tinha a sua lógica e principios. Eu até acho que tinha algumas ideias com sentido. Mas, e o problema é este mas, quando se levanta um muro para forcar a aceitacão de uma ideia, a ideia deixa de fazer sentido.
Berlim é uma cidade absolutamente fascinante. Palco da ascensão do movimento nazi, do fim da II GG, do início da guerra fria, do colapso da URSS. Muito do século XX passou por aqui e isso sente-se em cada esquina.
É uma cidade imperdível, onde nunca me canso de voltar.
Na Potsdamer Platz, daqui a uns dias, de novo com um pé de cada lado, com a certeza de que o tempo não voltará para trás.





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