Quando estou a trabalhar gosto de ouvir música. Ajuda-me a pensar. Raramente esses pensamentos me conduzem a qualquer coisa que ajude no trabalho mas isso, como dizia o poeta, são outros 500 paus.
Hoje resolvi ouvir o discurso do Carvalho da Silva na abertura do congresso da CGTP. Em termos de melodia perde para uma boa bossa nova, contudo, não me deixa adormecer como normalmente faz a camarada Norah Jones.
Tenho que manifestar a minha simpatia por Carvalho da Silva. E não é de hoje.
Nem sempre concordei com a estratégia da CGTP (leia-se "agenda do pcp") mas neste momento da nossa história eles estão onde devem estar e serão, na minha opinião, o último bastião dos direitos dos trabalhadores.
Tenho com o movimento sindical uma relacão de proximidade, ao nível da mesa de jantar, há quase 20 anos se as contas não me falham. Não tenho dúvidas sobre a utlidade de alguns sindicatos, tenho muita dificuldade em catalogar a maioria como "parceiros sociais".
Na realidade em que vivo, que não é a portuguesa, um sindicato é tão util como um par de meias para um cavalo.
Num país com crescimento económico, altos salários e um enorme aparelho produtivo, o meu emprego, o meu salário e a minha progressão profissional dependem exclusivamente do meu desemprenho. Aliás, nestes 6 anos que já levo a assar sardinhas no frio, só por uma vez vi o sindicato que me representa em accão. Foi durante a crise de 2008 e 2009 quando, obedientemente e sem piscar o olho, disseram "sim" a um despedimento colectivo de 1000 pessoas. Chegará uma nova crise a estas paragens, isso é mais ou menos um dado adquirido, contudo, hoje como ontem, não será o sindicato a defender a minha posicão.
Agora que penso nisso...vou deixar de pagar as quotas. Sempre é um bilhete para o Mar Vermelho.
Voltando ao Terreiro do Paco...
Já escrevi N vezes o que penso sobre os "direitos adquiridos" e as "conquistas de Abril". Também já escrevi o que penso sobre o sindicalista típico (que diz NAO antes de ouvir a proposta - estás aí Mário Nogueira?) que forra os quadros da CGTP. Repito no entanto: neste momento eles são essenciais.
Por uma simples razão: não há mais ninguém com idêntica capacidade de mobilizacão! E será essa capacidade a única forma de combate ao actual poder político e às suas medidas. Depois disso resta a selva...
Porque...vendo isto lá do alto da montanha, o que é que afinal aconteceu?
A ganância dos especuladores (agências financeiras, bancos, etc) gerou uma crise sem precedentes que alastrou à Europa (vejam o filme "inside job"). Os governos correram a endividar-se (mais!) para safar a banca e evitar o "risco de contágio". Lembram-se? Marcelo Rebelo de Sousa, entre outros, a defenderam a nacionalizacão do BPN por causa do risco de contágio? Eu lembro-me. Risco de contágio? Não me vou rir porque o frio me cortou o lábio...
O que disse o governo (o nosso e os outros) no início desta salganhada? Injectamos dinheiro na banca que será devolvido, tostão por tostão. O que realmente aconteceu? O endividamento contraído pelo país para safar a banca passou para o Orcamento de Estado, ou seja, para nós.
O país ficou à beira do colapso e teve que pedir ajuda externa. Essa "ajuda" veio com uma série de imposicões que em teoria acalmariam os "mercados", permitindo que Portugal voltasse às linhas de crédito mais tarde.
O que fez o actual governo? Pegou nessas medidas e multiplicou por 10. Arrasou com a classe média e com uma perspectiva de crescimento de 0,1% viu o desemprego atingir 700 000 portugueses.
Passámos a ser o bom aluno dos "mercados"? Não. O Wall Street fala num segundo pacote de ajuda, o rating da dívida está em "lixo" e o risco de bancarrota perto dos 70%. Lembram-se da conversa da Grécia há 6 meses? Pois...é isso. Por muito que Pedrito de Massamá e Paulinho das Feiras digam que Portugal não é a Grécia, tirando a óbvia diferenca entre a Acrópole e o templo de Diana, o resultado da austeridade é o mesmo....mas com 6 meses de desfasamento.
Assistimos a um roubo organizado aos povos da Europa. Uma minoria decide as regras, impinge tratados sem consultar o povo (vejam os irlandeses no tratado de Lisboa), troca governos sem eleicoes (Grécia e Itália) e obriga inocentes a salvarem os culpados (que enriquecem roubando o mesmo povo duas vezes).
Ora...neste cenário, pelo menos na realidade nacional, a CGTP terá uma posicão muito importante. É que já não é possivel continuar de bracos cruzados, ingénua e desinteressadamente, esperando por dias melhores.
O facto do substituto de Carvalho da Silva sair da ala dura do PCP também é uma indicacão do que aí vem.
Mas enfim...teremos tempo para falar sobre bons e maus sindicalistas (lá para 2020). Agora, a sul dos Alpes, é tempo de cerrrar os dentes.
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