quinta-feira, janeiro 05, 2012

Onde é que (não) falhámos?

Li no outro dia uma frase que me deixou a pensar:
"2012 chegou! Calma...mais 365 dias e saímos dele!"
É por aí...
Tenho-me esforcado ultimamente para fugir à depressão geral, onde confesso ter caído há já algum tempo, mas não está fácil.
Como é que isso deve ser feito? De que forma podemos ignorar o que se passa à nossa volta e "seguir caminhando"?
Podemos evitar os jornais, a televisao e a rádio. É uma hipótese.
Podemos ler a Caras, ver as festas das dondocas que alugam vestidos por uma noite ou seguir a polémica do Enzo Perez na "abola". A sério? Queres ficar na Argentina camarada? Fica rapaz, fica. No meio de 15 argentinos, só dão pela tua falta se fores parente próximo do Messi.
Há teorias para todos os gostos. Fuga de cérebros que farão Portugal voltar à década de 50, uma nova UE com membros bem comportados onde Portugal não terá lugar, uma liga do norte e outra do sul, uma europa federal com governo único, o fim da UE e cada um por si, países do sul em guerra civil, países do norte (Alemanha) com invasões militares, etc,etc.
Muitos "se" que me ocupam mais tempo de processamento do que eu gostava.
A incerteza é tal que, por via empírica, sou obrigado a concluir que a ignorância pode ajudar a atravessar a semana.
Não quero ouvir, não quero saber, não quero perceber. Quero que acabe. Rápido.
Quero o meu país de volta. Quero ser eu a decidir o meu futuro. Quero ter a hipótese de voltar a casa. A casa!
Perceberá o PM enquanto incentiva a emigracão o que significa a palavra "casa"?
Há uma vida melhor fora de Portugal. É um facto. Mas porque é que não há uma vida boa dentro de Portugal? Alguém me explica?
Onde é que falhámos para ter um endividamento brutal e um crescimento nulo? Como é que deixámos esta corja de incompetentes ao leme do nosso país durante 3 décadas? Como é que assistimos diariamente ao enriquecimento ilícito com o dinheiro dos nossos impostos sem nada fazer? Como é que conseguimos destruir tanto em tão pouco tempo?
Há uma diferenca, enorme por sinal, entre estar longe de Portugal por gosto ou pela procura de uma vida melhor. É que reparem...saímos de uma ditadura de 47 anos e comecámos a receber rios de dinheiro para desenvolver um país de 600x200km....a "vida melhor" devia estar aí desse lado.
O meu filho teria uma creche pública decente e um sistema de ensino que de facto ensinava em vez de criar ignorantes para as estatísticas. Eu teria um salário que me permitia pagar uma casa sem ficar a contar trocos para ir ao cinema.
Era assim tão dificil cumprirem os requisitos mínimos?? Era pedir muito que os Loureiros, os Varas, os Isaltinos e todos os filhos da puta que se abotoaram a dinheiros públicos tivessem sido presos há 10 anos atrás?? As ruinosas PPPs, a Expo, os estádios, as auto-estradas a pedido, os submarinos, a Madeira, a destruicão da costa, o BPN, etc....todos os contratos, TODOS têm uma assinatura. É fácil identificar quem nos deixou em coma.
Eu não quero estar aqui. Quero voltar para Portugal e ter uma vida decente com o meu filho perto da minha família e amigos. A quem é que me queixo?
Vou para a porta de Sao Bento dar uns caldos ao Cavaco que foi o timoneiro do inicio da desgraca?
Todos tínhamos expectativas há 20, 15, 10 anos atrás. Fundos comunitários. Portugal devia ser hoje uma mini-Finlândia. Estamos a um passo de sair da UE e voltar para a década de 50. Pois bem...quem é que me devolve aquilo que deveria ser o meu país no séc.XXI? Quem é que me devolve a vida adulta que será toda feita longe de família e amigos?
A opcão para quem está deste lado é simples. Estar perto de quem se gosta comprometendo o futuro de um filho, aturando a chico-espertice diária, vivendo no meio da corrupcão dos boys e regressando ao fim do dia para o suburbio de cimento e centros comerciais que os 1000 euro conseguem pagar.
Ou então, à custa da solidão e de uma angústia diária, garantir que um filho cresce num país civilizado onde todos têm oportunidades sem qualquer cartão partidário.
A pergunta é: porque é que esse país não é Portugal?
Puta que vos pariu.

7 comentários:

Inês disse...

É isso mesmo Tiago.
O que vivemos agora não apareceu do nada, teve intervenientes políticos que nunca serão julgados por isso, e deixa-nos a nós (que também não estamos isentos de culpas) um bocadinho de mãos atadas.
Mas porque é que cada cidadão não aproveitou a época de vacas gordas? Porque é que não estudámos mais? Porque é que abandonámos a agricultura para aproveitar os subsídios vindos da Europa que eram dinheiro fácil? Porque é que nos vendemos a marcas estrangeiras? Porque é que insistimos nos mesmos políticos?

Sinto-me deprimida por não saber como contribuir. E por saber que à frente do governo estão incompetentes como o Álvaro Santos Pereira. Passa lá no meu blog e vê o último vídeo que lá pus, vale a pena.

Vasco disse...

Eu voltei ontem de Portugal para os EUA, e da maneira como as coisas estao nao me vejo a voltar com o meu filho. E' triste.

Anónimo disse...

Espalhemo-nos pelo mundo caro Vasco...

tf

Ana disse...

Tiago, sigo ha algum tempo o teu blog e escreves exactamente o que sinto. O Saramago disse em algum lado que se estivéssemos em democracia teríamos de continuadamente nos perguntar 'porquê' até alguém nos dar uma resposta. Onde foram gastos os bilioes recebidos? Quem os gastou? Nomes existem. E porque é que essa gente foi 'premiada' com cargos europeus (o Cherne, o constâncio) ou em organizações internacionais (Guterres). Como é que esta gentinha, tacanha de espírito que encheu os bolsos (deles e dos amigos) ainda anda por aí?

E depois há o outro lado que me angustia... A passividade do novo povo. Parece que nada mais os indigna... E a pequenez de espírito que 'ah e tal mas o meu vizinho tem mais 50 Eur que eu por isso toma lá o corte que é bem feita'. Os media completamente controlados pelos interesses vários e a nossa gente diz 'não há outra solução'.

Porra, não há outra solução? Claro que há! Mas as empresas publicas não poderiam estar cheias de 'consultores'. Os incompetentes não poderiam estar em lugares de gestão, estariam (como estão nos países do norte) em funções de copy-paste e o cartão do partido não daria acesso a nada.

Eu ainda acredito que a 'Europa Social' dará a volta por cima (através de revolução, da dissolução da União Europeia (que há muito se esqueceu para que foi criada))... o percurso para lá chegarmos... parece-me que muita gente se esqueceu do que aprendeu nas aulas de História.

Ana

Anónimo disse...

Ana,
as nomeacoes de Catroga, Celeste Cardona e Braga de Macedo (entre outros) para a EDP sao melhores do que qq comentário que eu possa fazer.
É a típica imagem que vale 1000 palavras. O Catroga foi um dos que negociou com a troika a privatizacão da EDP e agora acaba no tacho. Melhor do que esta só o contrato da Lusoponte assinado pelo ministro Ferreira do Amaral e gerido pelo mesmo, quando largou o ministério.
Não há esperanca nesta democracia. Nem sequer há democracia. Ainda acreditamos que os votos servem para alguma coisa e enquanto perseguimos a ilusao assistimos ao maior roubo organizado da história.
Mas temos o que merecemeos. Metade do país nao vota e aqueles que o fazem, desde 76 que oferecem o poder a uma palete de 3 cores repetidas. Até um elefante com um torrão de acucar aprende mais depressa.
Estamos a repetir um periodo turbulento da nossa história e parece-me que já foram ultrapassados todos os limites do razoável. A classe média está a desaparecer e os boys tentam rapar o que sobra. Quando a poeira assentar estaremos em 1950, a comecar do zero e mais pobres do que a Moldávia. Entretanto...os Varas, Loureiros, Cavacos, Passos e amigos estarão a gozar o merecido descanso, interrompido aqui e ali, para uma condecoracão por servicos prestados à Pátria.

tf

ups disse...

Louvo o teu post!

Mas um reparo: 2012 é ano bisexto, sao precisos 266 dias para sair dele! É só mais um dia, talvez não custe assim tanto!

Anónimo disse...

Ups,
mto obrigado :)
Mas olha lá...266 dias? Tens razão, n vai custar muito :)

tf