quarta-feira, abril 13, 2011

Para lá da vergonha

Espero que a conta do jantar não seja paga por mim quando chegar à Finlândia” disse um turista, Finlandês como se percebe, dirigindo-se à mesa onde Passos Coelho e Alberto João comiam a sua espetada em pau de louro, algures na Madeira.
E porque é que o camarada disse isto? Por 3 razões, a saber:
1 – Em casa só bebe Lapin Kulta (que é uma surrapa a que eles chamam cerveja) e claramente o tinto alentejano fê-lo perder a típica vergonha
2 – Os pais, além de não lhe terem explicado para que serve uma faca numa mesa de jantar, também se esqueceram de lhe ensinar um ou dois conceitos básicos de educacão
3 – Como qualquer Nórdico que se preze, quer tanto saber da solidariedade como de almocos sem batatas

Mas, por muito que custe ouvir este labrego, a questão é simples: tem ou não razão? Claro que tem.
Aproximam-se eleicões na Finlândia e a ala mais nacionalista está a fazer um barulhão por causa do resgate a Portugal. Não querem ver o país entre aqueles que vão assinar o cheque.
Se não me engano, e cito de cor, foi a representante finlandesa no conselho europeu que disse: “Não passo cheques sem saber como é gasto o dinheiro”.
Os holandeses também já deram um ar da sua graca e na Alemanha, um grupo de génios economistas, tenta impedir a ajuda alemã a Portugal porque ”tal como no caso Irlandês, isso não vai acalmar os mercados”. Bastaria que dissessem “isso não vai acalmar os nossos patrões” e a mensagem seria rigorosamente a mesma.
Também os percebo. Se nem os alemães de leste queriam ajudar, quanto mais uns milhões perdidos ali a norte de Marrocos.
Isto claro, para quem consideram que estamos a receber “ajuda” externa. Com os juros que vamos pagar não sei bem para quem é a ajuda. Para os credores alemães e para os bancos portugueses, talvez, para o Zé Nabo que paga impostos, tenho as minhas dúvidas.
O grave da história é que nós é que nos colocámos neste triste filme. Nós achámos normal viver a crédito décadas a fio. Ninguém percebia como é que o SNS tudo permitia sem ter dinheiro. Pouco importa…desde que eu tenha tudo, alguém pagará. Ninguém percebia como é que um país que nada produzia (é isso que significa crescimento abaixo de 1% nos últimos 10 anos) conseguia tantas obras megalómanas. Ninguém se preocupou em saber como é que se tapavam as constantes derrapagens financeiras de cada uma destas obras. Ninguém ligou aos constantes avisos de que o Estado consumia 50% de tudo o que se produzia. Ninguém controlou o destino do rio de dinheiro que corre desde os tempos de Cavaco. A resposta foi e será sempre a mesma. Crédito, crédito e mais crédito.
E agora acabou. A conta chegou e nem dinheiro há para pagar salários na funcão pública. Sujeitamo-nos à vergonha de andar de mão estendida e levar com a arrogância dos outros parceiros europeus.
Até o badameco da República Checa que nem um país próprio tinha há 60 anos, se dá ao luxo de humilhar Cavaco.
E agora o Finlandês…um cromo que há 40 anos atrás andava a procurar batatas na neve para matar a fome, que foi ocupado por tudo o que foi império, vai agora para a Madeira beber licor de maracujá e tratar-nos como se fôssemos uma espécie de colónia.
Que vergonha. Ao que nós chegámos.

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