Um amigo que faz o favor de me ouvir e ler, disse-me: "Nem mais uma palavra amarga sobre o rectângulo".
É tempo de férias, verão, praia, pensamentos positivos e por isso "faz lá um post sobre as coisas que gostas aqui no cantinho".
Provavelmente ele terá razão. Ando amargo.
Deve ser tudo uma questão de esperança. O facto de viver na Suécia também não ajuda. Estou sempre a pensar "mas porque é que não fazemos isto lá??". No fundo, a fase em que acreditava já passou. Eu, que sou um optimista até ao limite da idiotice, cheguei a uma fase em que não acredito no futuro de Portugal (como país desenvolvido) para as próximas duas gerações. E não consigo ultrapassar esse facto. Simplesmente não consigo. E é por amar o meu país e por ver, tal como qualquer outro português, como se desperdiçam as oportunidades, que a amargura não passa. Eu ouço uma notícia sobre corrupção, esquemas, falcatruas e não consigo ficar indiferente. Provavelmente se Portugal não me dissesse nada, a digestão seria mais fácil. Assim parece que me levam um pedaço de pele.
Há alturas em que desejo uma nova revolução...como se isso resolvesse algo.
Mas este camarada tem razão. Pensamentos negativos não ajudam e ainda por cima dão-me cabo da bílis.
Esqueci as notícias, os indicadores económicos e todas as trapalhadas que diariamente poluem os meios de comunicação e parei no país que eu conhecia quando era miúdo.
A primeira coisa que me lembrei foi do café. Não a bebida, mas o estabelecimento. Adoro entrar num café barulhento. O típico "central" que existe em cada vila, aldeia ou cidade. Aquele "pum, pum" seguido de "clac, clac" que se repete antes de cada bica, os gritos com os pedidos para a cozinha e aqueles heróis que andam ali de camisa branca sem bloco de notas a decorar cada mania dos clientes. Sempre com um sorriso. Sempre que volto a Lisboa gosto de entrar nestes cafés. Espaços design e música de flautas ao pequeno-almoço dão-me dores de cabeça. Gosto de barulho e confusão. Nunca encontrei esta "vida" noutros recantos do mundo. É nosso, muito nosso.
O Alentejo. A simpatia de quem está encostado a uma parede branca, tentando suportar o calor, sempre com disposição para trocar umas palavras. O sotaque. O sorriso no canto da boca em cada palavra. A comida. O vinho. A beleza das vilas. O exotismo do mar. A simpatia...já tinha dito? O Alentejo é a minha região preferida em Portugal. Por tudo e por nada.
Adormecer na praia. Aquela sensação única de adormecer às 8 da noite numa areia morna e acordar com o barulho das ondas, ficando 20 segundos a tentar perceber onde estou. Para quem como eu sofre de insónias esses momentos são pedaços de céu.
Um mar com personalidade. Que bate, que mói, que entretém. A onda a rebentar. Um som que jamais ouvi fora do rectângulo.
O convívio. Beber um copo. Ver o Tejo. Filosofar em jantares eternos. Encher o corpo de suor dançando com estranhos só porque se gosta da mesma música. A facilidade do diálogo. A vontade que temos de falar uns com os outros.
Os amigos. Presentes em cada dia. Aqui, aí ou algures. A rir, a chorar.
A variedade. Meu deus a variedade. Comida. Como é possível tamanha variedade em tão pouco espaço de terreno? E bebida? E a paisagem? E a agenda cultural? Um pequeno mundo encaixado num canto.
O Algarve. Aquele bocado de terra entre Lagos e Sagres.
A disponibilidade. O "precisas de ajuda?". O "estou a caminho". Seja qual for esse caminho. De carro, de barco ou de avião.
A aventura. As Descobertas. Uma língua partilhada por milhões.
O carinho. A hospitalidade. O dar sem querer receber. O "há sempre espaço para mais um".
A costa. A fabulosa costa alentejana. E a reserva, até ver, da costa vicentina.
O Porto. Atravessar a ponte D. Luís e olhar a partir de Gaia. As gentes do norte. A ligeireza da língua. A inexistência de protocolos. A sinceridade em cada gesto.
O céu azul. Nuvens em Lisboa? O que é isso?
O sangue. O meu. Espalhado por algumas pessoas desse lado que por mais asneiras que eu faça me recebem sempre com um abraço.
Sim, afinal tinhas razão, é bem mais fácil ver a coisa por este lado.
Mais uma semana então.
3 comentários:
Quase arrisco a dizer que a foto é da Praia dos Alteirinhos? Na Zambujeira do Mar?
O meu filho passou um mês de férias, na Alemanha, quando tinha 10 anos, quando regressou passava o tempo a dizer-nos: "Na Alemanha não tinhamos que nos andar a desviar dos cocós dos cães!; na Alemanha os condutores paravam sempre nos semáforos; na Alemanha andávamos nas estradas próprias para bicicletas" e o rol de coisas boas que ele viu por lá e que comparava com Portugal continuava.
Um abraço
D. Ana, em Lagos :)
necessario verificar:)
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